Número de candidaturas LGBT cresce 386%: empresas devem pressionar partidos
A comunidade LGBTI+ pretende se fortalecer politicamente nos próximos anos e a comprovação disso são as quase 160 candidaturas para cargos legislativos (Deputados Federais e Estaduais, em sua maioria), 386,4% a mais do que no pleito de 2014.
A informação foi levantada pela organização sem fins lucrativos Aliança Nacional LGBTI+, que faz parte do Grupo Dignidade, presidido por Toni Reis.
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A maioria dos candidatos (40%) está no Sudeste e a minoria (3%) no Norte. Mais de 20% de toda lista é filiada ao PSOL, em seguida vem o PT, com 16% e PCdoB, com 13%.
As candidaturas surgem como um contraponto à atual formação do Congresso Nacional, que é considerada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) a mais conservadora desde 1964, com ruralistas, militares, religiosos e outros segmentos correlatos. Em 2014, apenas um deputado assumidamente homossexual foi eleito.
“Acredito que esse crescimento se dê pela apatia que tivemos à nossa pauta. Não queremos nada demais, apenas o cumprimento do artigo 5º da Constituição Federal: todos são iguais perante a lei. Precisamos tirar a política do armário”, afirma Reis.
Empresas pressionarão por apoio
Além dos candidatos LGBTI+, a organização tem feito o trabalho de conscientizar candidatos simpatizantes a se comprometerem com a pauta. Até o momento, dois presidenciáveis já assinaram o documento e mais duas candidaturas estão em processo de adesão.
Nessa semana, também, foi iniciado o diálogo com empresas, para que pressionem os candidatos a se posicionem sobre a importância do apoio e cumprimento da pauta LGBTI+. De acordo com Reis, 24 companhias já assinaram o compromisso e a listagem completa será divulgada no próximo dia 5 de setembro.
Desafio é visibilidade partidária
Bruno Silva, cientista político e diretor do movimento Voto Consciente acredita que a presença mais representativa é positiva e mostra uma pressão da comunidade para que os partidos coloquem as pautas em discussão.
No entanto, apesar de ser um dado a se comemorar, os candidatos têm um desafio ainda maior pela frente: a visibilidade dentro dos próprios partidos pelos quais concorrem. As siglas costumam destinar a maior parte da verba de campanha a nomes mais conhecidos ou com maior apelo no eleitorado, inviabilizando a eleição de outras candidaturas.
“São duas disputas diferentes: uma é na capacidade dos partidos de tentar ser mais porosos e sair para as eleições. A segunda envolve falar da democratização das siglas, e como tornar a candidatura competitiva, dentro do ponto de vista eleitoral”, explica o especialista.
Não é só na esquerda
Apesar de os candidatos mapeados pela plataforma da Aliança Nacional LGBTI+ terem como ponto em comum a diversidade sexual e/ou de gênero, as visões políticas nem sempre são as mesmas.
Candidatos de primeira viagem, o professor Robson Salvador (PSOL/SP) e a atleta Tifanny Abreu (MDB/SP) disputam a atenção do mesmo eleitorado, mas sob siglas partidárias com ideologias diferentes.
Salvador afirma que resolveu se candidatar, pois estava cansado de apenas ver “pessoas reativas” no poder e quis assumir uma posição mais propositiva. Ele defende pautas como a criminalização da LGBTfobia, ampliação dos centros de acolhida e criação de cotas no serviço público para travestis e pessoas trans.
Já o programa de Tifanny visa à inclusão das minorias na educação e no esporte, além da tipificação da LGBTfobia como crime. Sobre a filiação ao MDB, em recente entrevista ao Universa, ela afirma que o partido é apenas uma sigla e que sua presença pode justamente ampliar o debate sobre as pautas feministas e LGBTI+.
Ampliação do debate
A presença de representantes de diversos grupos em partidos políticos com ideologias diferentes é importante, na visão de Bruno Silva, pois ajuda a estimular debates sob mais pontos de vista.
“É importante e necessário ter representatividade em partidos diversos e isso não pode ser visto com maus olhos. O que precisa ver é se os partidos têm se comprometido efetivamente com os temas, por meio da eficiência e predisposição em discutir as pautas como causas políticas. Isso se vê ao longo do mandato, sobretudo em votações e discussões”, explica.
Os candidatos simpatizantes à causa LGBTI+ foram listados tanto na plataforma da Aliança Nacional LGBTI+, como no site #VoteLGBT.
Eles têm chances?
O coletivo #VoteLGBT levantou dados sobre o perfil político dos participantes das Paradas do Orgulho LGBT realizadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e da Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais entre 2016 e 2018. Confira os resultados:
Em São Paulo e Belo Horizonte, os manifestantes afirmam (79% e 85,6%, respectivamente) que a presença no ato tem motivações políticas.
26,7% se identificam com as ideologias de Esquerda e 2,4% com as de Direita, mas 31,7% não se identificam com nenhuma das duas vias. Centro-Esquerda atrai 19,1% dos manifestantes e a visão de Centro ganha a simpatia de 16,8%.
As principais pautas defendidas pelos respondentes são:
- Criminalização da LGBTfobia
- Educação contra LGBTfobia nas escolas
LGBTI+ será prioridade para a maioria em 2018:
Em São Paulo (79,3%) e Belo Horizonte (73,4%), os manifestantes acham que os políticos não representam os interesses da comunidade. No entanto, um terço dos respondentes afirmam que não votaram em representantes LGBT.
41,8% dos participantes da Parada do Orgulho de SP acreditam que LGBTI+ deve votar em LGBTI+. Esse índice sobe em Belo Horizonte, com 55% e 57,9%, na Caminhada das Lésbicas e Bissexuais.
No entanto, 71,8% dos respondentes da Parada LGBT de São Paulo afirmaram que pretendem votar em um candidato LGBTI+ para Deputado Federal, em 2018. Na Caminhada das Lésbicas e Bissexuais, o índice é de 92%.
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