Fanpage denuncia eventos em que 100% dos palestrantes são homens e brancos

No grupo de 16 publicitários que escolheu os Profissionais do Ano na Publicidade, dias atrás, só tinha homens brancos.
Entre os advogados que deram um curso de Economia Digital na Associação dos Advogados de São Paulo, também.
O mesmo se deu entre os palestrantes do Fórum de Investimentos Brasil 2018, do BID, que trataram dos Impacto da Infraestrutura no Crescimento Brasileiro.
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Os dados foram levantados e divulgados por “Aqui só fala homem branco", uma página do Facebook criada pela pesquisadora de direitos humanos Marina Motta e pela jornalista Rafaela Marques, que denuncia eventos onde absolutamente todos os convidados a falar são homens e brancos.
“Isso significa um claro preconceito de gênero e raça”, diz Marina, que há um ano se dedica a esse levantamento. “Não se pode excluir a voz da maior parte da população em nenhum evento que se proponha a discutir aspectos da sociedade. Se você faz isso, está colaborando para a manutenção de um status quo machista e racista”, continua a pesquisadora. "Queremos dar visibilidade a essa loucura escancarada.”
Na página, com quase oito mil seguidores, as postagens desses eventos geram discussões tão acaloradas quanto necessárias. “São pelo menos três publicações por dia mostrando a naturalidade que é ter castings 100% de homens brancos em palestras, cerimônias e júris pelo mundo”, conta Marina.
O projeto de Marina e Rafaela foi inspirado no Tumblr americano “Congrats, you have an all male panel!” (Parabéns, você tem um evento totalmente masculino!", em livre tradução).
No Brasil, as mulheres são 51,5% da população. Os negros, 54%
“Em diferentes campos, seja na política, no terceiro setor, nas artes ou na academia, a grande maioria das pessoas em posição de poder e lugar de fala são homens brancos que, claro, quase sempre também têm muito dinheiro,” diz Marina. “Em eventos, nas estruturas de governança e na mais alta hierarquia, mais masculino é o cenário.”
A questão é que esse monopólio de representatividade, que só privilegia uma parcela - já dominante - da população, não reflete o mundo real, muito menos o Brasil. As mulheres são 51,5% da população do país, e as pessoas negras, 54%.
Formada em Ciências Sociais na UFRJ, Marina já trabalhou na ONU, na Anistia Internacional e atualmente está na Fundação Ford, um fundo americano que financia projetos sociais pelo mundo. Por isso, eventos que tratam de discutir a sociedade são rotineiros para ela. Se deparar com situações nas quais os palestrantes são todos homens brancos, também. “É mais comum do que a gente pode imaginar. Até mesmo em eventos progressistas e modernos, isso acontece. Já cheguei a assistir mesas sobre racismo onde os convidados eram todos brancos, e homens, claro. O pior: era uma mesa de uma ONG.”
Se um júri é formado só de homens brancos, ele deveria ser invalidado.
"Não podemos legitimar mais esse quadro. Se um júri é feito apenas de homens brancos, ele deveria ser invalidado. Se em uma palestra só homens brancos vão falar, ela não deveria existir. Mulheres, negros e tantos outros grupos normalmente subrepresentados precisam ter poder de voz. Cabe a cada um de nós exigir isso."
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