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Lubrificantes vaginais de maconha: testamos dois óleos feitos no Brasil

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Imagem: getty images

Stella Martins e Helena Bertho

da Universa

28/05/2018 04h00

A promessa não é pequena: maior lubrificação, sensibilidade da vagina, prazer e duração do orgasmo. Quem é que não quer isso? Os lubrificantes de maconha parecem ser o aditivo dos sonhos para o sexo. E, mesmo sendo ilegais no Brasil, eles têm sido feitos de forma caseira por mulheres, que vendem entre amigas ou por meio de redes sociais. A base é óleo de coco, na qual é adicionado um outro óleo, extraído da erva.

A redação da Universa descolou dois lubrificantes de maconha feitos por diferentes produtoras e os testou. Um deles vem num frasco de 45 ml e custa R$ 70. O outro, de 10 ml, custa R$ 100.

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Cheguei em casa animada e contei ao meu namorado que teríamos que reservar alguns minutos do dia para uma pesquisa sexual empírica — coisa de trabalho. Havia uma pessoa limpando a minha casa, então recorremos ao motel.

Lambuzei o dedo indicador com o óleo e passei nos grandes lábios, no clitóris e no canal vaginal. Contei meia hora, como recomendava o produto. Enquanto isso, assistíamos a um seriado na TV. Quando levantei para pegar uma água, meu clitóris começou a latejar de tesão — e só tinham se passado 15 minutos.

Minha vagina ficou extremamente sensível. O boy não conseguiu chegar nem perto do clitóris, porque eu sentia choques intensos. No sexo oral, a língua precisou encontrar outros caminhos - que ficaram maravilhosamente sensíveis. Tudo latejava. Meu namorado reclamou um pouco do gosto; ele não gosta de maconha nem de derivados dela. O lubrificante é comestível, tem o sabor da erva e é bastante adocicado. É tipo um óleo de coco canábico.

Chegou a hora da penetração. E aí, caro leitor, é que começa o clímax desse negócio. Tive a sensação de que tudo ficou mais apertado, teve muito mais atrito entre o pênis e a vagina. Apesar de eu estar lubrificada, em momento algum senti minha vagina anestesiada ou com pouca sensibilidade. Meu primeiro orgasmo veio com cinco minutos de penetração e uma intensidade que me fez ver estrelinhas.

Mudamos algumas vezes de posição e, apesar de eu já ter gozado, continuava tão excitada quanto no começo - o que raramente acontece. Já perto dos 20 minutos, senti que teria um segundo orgasmo. Ele veio, ainda mais forte que o primeiro.

Para ele, o lubrificante não provocou nenhuma sensação diferente.

Alguns dias depois, testamos o segundo óleo. Mesmo processo chato de meia hora até a pegação, só que dessa vez, em casa. Ufa. Melecação daqui, melecação dali, esperei, enquanto entrevistava uma pessoa pelo telefone. Não avisei ao meu namorado que seria o momento do segundo teste. Passados os 30 minutos, cheguei chegando.

No sexo oral, a sensibilidade ficou maior — mas não tão grande quanto no caso do primeiro lub. Meu clitóris continuou desesperadamente sensível e dolorido, então, mais uma vez, ele foi deixado de lado por decisão minha.

Começamos a penetração e deu ruim. Eu não sentia nada. Minha vagina ficou anestesiada, o atrito era muito pouco, foi bizarro. Demorei 20 minutos para gozar e só consegui, com a ajuda da bendita siririca. Para o boy, mais uma vez, não mudou nada. Orgasmo normal, sem grandes sensações interessantes.

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Sou fã do lubrificante de maconha faz tempo, me empolguei quando descobri que testaria novas marcas. Como já sou muito lubrificada e, no sexo lésbico, isso não é tão interessante porque diminui o atrito, passei bem pouquinho.

Passei o primeiro por toda a xoxota: nos grandes lábios, nos pequenos, no clitóris e no canal — apesar de eu odiar penetração, senti que lá ficou mais sensível do que as outras regiões.

Esse primeiro lubrificante é bastante oleoso, e isso diminuiu um pouco o atrito entre os dedos da minha namorada e a minha vagina.

Na hora da tesoura, aquela posição em que a gente fica deitada com as pernas entrelaçadas e roçando as xoxotas, eu demorei bastante para gozar. Foram 20 minutos. Só que quando gozei, foi uma sensação absurdamente forte. Foi tão intenso, que senti uma leve dor no músculo vaginal. Mas durou pouco, só alguns segundos.

No dia seguinte, testei o segundo. Lambuzei os dedos e melequei toda a pepeca. Esperei os trinta minutos e começamos a pegação. Não testamos o sexo oral porque minha namorada ainda estava no fim do ciclo menstrual. Ficamos só com os dedos.

O clitóris inchou e ficou bastante sensível. Estava animada com toda aquela sensação. Sentia minha vagina bastante contraída, formigando de tesão.

Gozei em cinco minutos, só com ela me masturbando. O orgasmo durou uns três minutos e eu fiquei bastante cansada quando acabou. Gostei mais do segundo, apesar do orgasmo ter sido bem diferente do que estou acostumada a ter.

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"Sou boa solteira, eu não conseguia prometer para a reportagem a missão de testar o lubrificante de maconha com outra pessoa; então me coube a missão de descobrir se ele podia deixar a masturbação ainda mais gostosa — porque, convenhamos, é difícil ser ruim, né?

Numa segunda-feira à noite, fiz o primeiro teste. Besuntei a pepeca por todos os lados, lábios, clitóris, entrada do canal, e esperei. A recomendação era dar meia-hora para a magia começar. Sozinha, se assistisse ou lesse algo para me estimular, nesse tempo, já teria chegado a alguns orgasmos. O jeito foi esperar fazendo outras coisas. Vi TV, sem sentir nada de especial.

Chegado o momento, não sentia nada ainda lá embaixo. Peguei meu amigo vibrador e, fuen, ele estava sem pilha. Ia ter que ser na mão mesmo. Então, com ajuda de alguns vídeos, fiz o teste. Sendo sincera: o lubrificante de maconha não fez a menor diferença. Senti o tesão exatamente igual, a excitação exatamente igual e o orgasmo exatamente igual. Não foi ruim, óbvio, mas também não foi especial.

Só acho que vale contar aqui que eu estava de TPM, num momento de baixa em todos os sentidos. Sinceramente, não consegui descobrir se isso afeta ou não. Mas vale ressaltar que, se não fosse pelo fator profissional do teste, eu não pensaria em sexo naquele dia "nem fodendo".

E foi já sem esperanças que parti para a experiência com o segundo lubrificante. Era quinta-feira de manhã, segundo dia de menstruação, e com a libido de volta à boa forma.

O óleo estava duro, por causa do frio, e precisei esquentá-lo. Vagina lambuzada, vamos esperar a maldita meia-hora. Aproveitei para botar roupa para lavar e fazer café da manhã, porque obviamente tinha perdido a hora e estava atrasada para o trabalho.

Enquanto fazia minha tapioca, comecei a sentir uma formigação lá embaixo, o que me deu um tesãozinho. Quando deu a hora, já estava bem excitada. Com ajuda de filminhos, comecei e me masturbar. Para repetir o teste com o primeiro óleo, também deixei o vibrador de lado, fiquei na mão. Como eu já estava excitada, foi tudo mais gostoso. Mas as sensações e o orgasmo em si não foram diferentes, não. O que foi mais diferente foi que, mesmo depois de gozar, continuei com tesão e, bem, fiquei bem mais tempo ali até me sentir satisfeita.

No queimar das ervas (versão maconheira para "no frigir dos ovos", caso a piada não tenha ficado clara), não achei nada demais os lubrificantes para o uso solitário. Não só porque os efeitos não foram grande coisa, mas também porque essa necessidade de esperar meia hora para poder começar a brincar, quando se está sozinha, acaba sendo um belo corta clima".

Como a maconha interfere nos nervos da xoxota

A maconha, no seu uso sistêmico, afeta o sistema neurológico, com efeito analgésico e relaxante, e também psicoativo. Mas no caso do lubrificante, o funcionamento é um pouco diferente. "Usada de maneira local, ela vai atuar no sistema nervoso periférico. E a vagina tem bastante terminação nervosa. O resultado é aumento da lubrificação e relaxamento muscular. Isso favorece o orgasmo ", explica o biomédico Renato Filev, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações Sobre drogas Piscotrópicas (CEBRID), da UNIFESP.

Ele ressalta que existem poucos estudos sobre os lubrificantes especificamente. "Mas usuários que fumam maconha para transar relatam uma melhora, um efeito semelhante. A diferença é que com o uso do lubrificante, não tem o efeito euforizante, que é o barato".

E existem riscos ao usar o lubrificante de maconha? O principal está ligado à procedência do produto, já que, por ser ilegal, não é possível saber exatamente a qualidade do que está comprando. Para Renato, é importante conhecer de onde o produto vem. "Se for produzido em casa, com boas práticas desde o cultivo da planta até o manejo e a higiene para extração do óleo", diz. No mercado, vendem-se óleos oriundos do cânhamo chinês, de onde não se sabe o quanto tem de agrotóxico e fertilizante".

É importante saber que o óleo de coco enfraquece o látex, então esses lubrificantes só podem ser usados com camisinhas de poliuretano ou polisopreno.

O que diz a lei

Fazer uso de maconha é ilegal no Brasil. Em 2015, dois compostos da erva foram liberados para fins medicinais no Brasil. O canabidiol (CBD) saiu da lista da Anvisa de substâncias proibidas no país e o THC também foi retirado dela por determinação da Justiça Federal do Distrito Federal.