Casa em estilo Bauhaus tem vista magnífica para o Pacífico; veja
É possível um arquiteto ser adotado por um cliente? Ao ouvir Dan Brunn falar sobre Hedy e Samy Kamienowicz – para quem projetou uma casa de praia com linhas simples, mas estruturalmente complicada na vizinhança de Venice – percebe-se que ele ficaria feliz em se mudar para a residência e chamar os proprietários de “mamãe” e “papai”.
“Samy é um grande sujeito”, avalia Brunn, de 35 anos. Sobre Hedy Kamienowicz, uma pequena e bronzeada mulher de 66 anos com um estilo direto de conversa, Brunn se derrete: “Ela é muito especial”.
A excepcionalidade de Hedy, parece, reside em grande parte no fato de que ela deu a Brunn as coisas que todo o arquiteto anseia: um orçamento alto e liberdade criativa irrestrita. “Todos os meus outros clientes perguntam: ‘O que é isso? Posso ganhar mais espaço?’” conta Brunn. “Mas nesse caso foi apenas a arte da construção”.
Assim, as áreas vazias que um proprietário menos criativo poderia observar com desconfiança e avaliar como desperdício de espaço estão lá "para experimentar a casa e a praia de maneiras diferentes", acrescenta o arquiteto.
Durante a entrevista, com ares de sonhador e olhando através da sala para Hedy, Brunn afirma: “Eu mostrei a Hedy o plano e o modelo originais e ela disse: ‘Pode seguir em frente.’ Portanto, não houve qualquer modificação na estrutura estética e funcional da casa”.
O contexto
Hedy e seu marido de 72 anos, proprietário da Samy’s Camera - uma loja de fotografia com diversas filiais na Califórnia -, moraram no Vale San Fernando durante anos, numa casa grande onde criaram suas duas filhas. “Aquela casa me deprimia”, confessa Hedy, “era a cor: marrom. Eu odeio marrom”.
A senhora Kamienowicz ansiava pela praia, mas o trajeto entre Malibu e a sede da empresa, na Fairfax Avenue, era impraticável. Depois de alguns anos, o casal comprou um apartamento na praia de Venice e mudou os seus escritórios para uma região próxima à Playa Vista. Mas ainda assim, Hedy não estava satisfeita: "Depois de viver em um condomínio, você meio que quer seu próprio canto. Eu queria a minha casa e um projeto, um desafio".
Hedy encontrou Brunn por acaso na loja de câmeras e, em 2008, ela e o marido contrataram-no para projetar a casa de US$ 8 milhões e 530 m², em um terreno em frente a uma praia virgem. Tirando algumas poucas e simples instruções (nada de marrom; seria preciso haver um espaço nas paredes para pendurar a coleção de fotografias do casal e um elevador para Samy, que teve pólio quando criança), o casal não interferiu nos desenhos.
Liberdade construtiva
“Se você contrata alguém com talento”, resume Hedy, “pode deixá-lo em paz”. Tal liberdade permitiu que Brunn utilizasse alguns dos seus elementos de design e materiais favoritos, enquanto experimentava outros. Por exemplo: as varandas acompanhando o entorno da casa e o branco ecoam a arquitetura no estilo Bauhaus que ele amava quando criança, em Tel Aviv. E, em vez de ar condicionado, há uma piscina rasa no quintal da frente que reproduz o efeito de resfriamento das fontes dos pátios que Brunn vira na Itália.
Por sua vez, a estrutura de aço da casa é uma renúncia à combinação econômica de aço e madeira que ele fora forçado a usar no passado. O mesmo se dá com as janelas que vão do chão ao teto - importadas da Suíça - e que, na casa, recebem apoio estrutural em vidro ao invés de alumínio, o que criou perfis mais elegantes. Como classifica o arquiteto: “Tudo foi construído como se para a estrutura de um prédio alto. A obra foi erigida como um arranha-céu de Nova York”.
Um dos maiores desafios do arquiteto foi maximizar as vistas do oceano, enquanto continuava a fornecer espaço suficiente nas paredes para acomodar o trabalho artístico do casal. A inovadora solução, por Brunn encontrada, foi transformar a parede do segundo andar numa fileira de portas pivotantes interconectadas que se abrem como persianas, criando vãos a uma largura de 30 cm, por onde é possível contemplar um pedaço da paisagem. "E essa estrutura realmente me assustou, pensando em termos de engenharia e em relação às intempéries", revela o arquiteto, demonstrando o que chamou de portas "flip-flop", aberturas que emprestam seu nome à casa.
Brunn fez também sugestões quanto ao mobiliário, persuadindo Hedy a comprar uma chaise longue “Terminal 1”, da B&B Italia, que custa uma cifra de cinco dígitos e atualmente se encontra no amplo quarto do casal, situado de frente para o calçadão junto à orla.
De sua parte, a senhora Kamienowicz afirma que não poderia estar mais feliz com a forma que a casa tomou. No quarto principal, olhando para os corredores, skatistas e adoradores do sol, com o Pacífico ao fundo, ela diz: “Você não acha que é uma ótima vista”? Não foi preciso responder.
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