As mulheres permanecem soberanas nas compras de produtos eróticos: são as principais consumidoras desse universo, em sex shops e na internet. Mas os homens estão entrando cada vez mais nesse universo. A participação masculina nas vendas desses artigos aumentou, conforme revela a pesquisa da Abeme (Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual), divulgada em abril e atualizada no início deste semestre.
De acordo com o estudo realizado em 25 pontos de vendas para o público A e B de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Curitiba, o público feminino representa 68% do consumo nesse setor. Os homens são 32%. Porém, o levantamento registrou um aumento de dois pontos percentuais da presença masculina em sex shops. Profissionais do mercado, porém, acreditam na influência do livro "Cinquenta Tons de Cinza" para o aumento nas vendas entre eles.
Quem compra?
68% são mulheres e 32% são homens
Com quantos anos?
49% dos consumidores têm de 18 a 25 anos; 33%, de 26 a 35; 18%, mais de 36
Quem são elas?
45% são casadas ou estão em uma união estável; 39% namoram; 10% são solteiras; 4% separadas e 2% não responderam
O que eles querem?
65% aceitariam itens eróticos durante a relação sexual; 23% veem a ideia com ressalvas e 12% não aceitariam
*dados fornecidos pela Abeme
O consumo masculino de produtos eróticos ainda é tímido, mas reflete uma tendência de mudança masculina com relação à sexualidade, segundo a publicitária especialista em mercado erótico e presidente da Abeme Paula Aguiar: "É o que eu chamo de ‘novo homem’. Mais sensível e vaidoso, ele está também mais preocupado com o prazer da mulher. Diferentemente do consumidor antigo, que estava voltado para o próprio prazer e consumia pornografia e artigos para masturbação, o comprador de hoje investe em artigos para usar com a parceira".
A Constantine Boutique, sex shop localizada em Moema, zona sul de São Paulo, registra um aumento de 20% de homens que entram sozinhos para gastar com produtos para o casal, principalmente os mais jovens. "São aqueles mais liberais, que têm iniciativa e buscam novidades para levar à mulher e surpreendê-la", conta a proprietária Luciana Keller. "Eles estão deixando de ser passivos, de esperar que a mulher traga novidades. Esse é um movimento que vem se firmando e tende a crescer".
Um exemplo desse "novo homem" é o publicitário Fernando Birche, de 23 anos, que costuma comprar principalmente pela Internet produtos que seguem a linha sensorial:
géis excitantes, óleos de massagem e velas que, acesas, exalam fragrâncias e, de quebra, servem para massagear o corpo. "Acho legal surpreender uma mulher, sair do óbvio", diz. "Como estou solteiro, costumo usar no segundo ou terceiro encontro, quando rola mais intimidade. Se tivesse uma namorada, compraria mais acessórios eróticos para curtir novas experiências".
Um dos motivos para esta transformação é a quebra de tabus que acabavam afastando os homens desse universo. Segundo a pesquisa da Abeme, 65% dos homens entrevistados aceitam ou aceitariam incluir itens eróticos na relação sexual. "Eles perceberam que os acessórios são um ótimo aliado deles na hora do sexo", explica Luciana, que também é psicóloga e terapeuta sexual. "Ao deixar a mulher mais excitada, eles sentem mais prazer. Uma coisa puxa a outra”.
Influências
Quem ajudou aproximar os homens do mundo erótico foram as mulheres. Sem o preconceito de tempos atrás, muitas veem positivamente a inserção desses itens para manter acesa a chama da união. E muitos parceiros têm correspondido a tais estímulos. Juntam-se a isso o acesso a informações e a maior disposição feminina para conquistar uma vida sexual mais satisfatória.
O resultado, segundo a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, é que elas começaram a questionar a performance masculina. "E os homens, por sua vez, viram a necessidade de se aprimorar na cama", diz Carla, que também é coordenadora do Projeto Ambsex – Ambulatório de Sexualidade, serviço de orientação e atendimento.
Para a sexóloga, outro marco está alavancando essa mudança masculina: o sucesso retumbante do "best seller" erótico "Cinquenta Tons de Cinza", escrito pela autora britânica Erika Leonard James. Fato também comprovado pelos comerciantes de produtos eróticos, que comemoram as vendas aquecidas, impulsionadas pelo clima de fantasia do livro –kits criados com
algemas de pelúcia, chicote falso e lingeries pretas nunca saíram tanto.
Christian Grey, personagem do romance erótico, se tornou o sonho de consumo feminino. Esse desejo tem sido tão forte, que a proprietária do sex shop carioca Sexy Delícia, Érica Rambalde, está formulando um curso para ensinar os homens a serem mais ousados. "As minhas clientes têm reclamado bastante da falta de criatividade de seus parceiros", conta Érica, a inspiradora do filme nacional, "De Pernas para o Ar", estrelado pela atriz Ingrid Guimarães. "Elas estão cansadas de serem as únicas a levar algo novo para a relação".
Em São Paulo, "Cinquenta Tons de Cinza" fez aumentar em 40% a procura dos homens pelas aulas particulares da sensual coach Fátima Moura. Ela diz, também, que por serem menos receptivos a cursos em grupo, seus alunos apostam na discrição e, claro, não saem contando aos amigos o investimento para se tornarem melhores amantes. "Primeiro, eles querem entender a cabeça da mulher atual e, em seguida, inovar na relação ao conhecer coisas e acessórios diferentes", explica. "Essa mudança masculina é mais uma conquista feminina", afirma.
O que mais vende hoje
Os dados derrubam a velha ideia de que o consumo de produtos eróticos está voltado para o uso solitário. "A principal razão da brasileira para comprar é o parceiro", diz Paula Aguiar, presidente da Abeme. "As motivações seguem uma ordem. Primeiro, querem comemorar datas especiais; depois, surpreender e, em terceiro, simplesmente agradar".
O mercado brasileiro segue, portanto, uma tendência mundial: produtos voltados para o casal. Esse é o caso, especialmente, dos sextoys, "brinquedinhos" eróticos. Discretos por causa do design mais arrojado, eles estão sendo cada vez mais procurados. André Luiz Marques, proprietário de uma importadora do setor atacadista, Adão e Eva Toys, conta que a venda de acessórios realísticos, como os pênis de borracha, está caindo.
"De dois anos para cá, a venda de
vibradores que podem ser carregados na bolsa de uma mulher ou não causar constrangimento em casa cresceu 40%", afirma André. São aqueles que têm formatos diferenciados, como batons, pincéis de maquiagem, patinhos, monstrinhos etc. "Itens que um homem pode dar para a mulher e usar durante a relação, sem ser visto como ameaça à virilidade masculina".
Esse é o resultado da evolução do setor, que passou a investir inclusive em acessórios mais sofisticados. Os produtos assinados pela empresa sueca Lelo exemplificam essa tendência. A marca ganhou este ano um prêmio internacional na categoria Design de Produto, no Red Dot Design Award, com o massageador íntimo para casais SenseMotion Tiani. Desde que a empresa chegou ao Brasil, em abril, suas vendas cresceram, em média, 30%. Mas por causa do livro "Cinquenta Tons de Cinza", o crescimento saltou para 45%, afirma a gerente comercial da Lelo Brasil, Juliana Pretto.
Segundo Daniel Passos, proprietário da Loja do Prazer, um dos itens pedidos para uso de casal são os anéis penianos com minivibrador. Eles servem para retarda a ejaculação, ao mesmo tempo que estimula o clitóris da mulher durante a penetração. Mas o que tem surpreendido é o crescimento da comercialização de f
antasias masculinas, como as de bombeiro, médico, policial. "Lançamos uma nova coleção há um mês, com mais variedade, e está vendendo muito", afirma. "Isso mostra que os homens andam mais dispostos a usar para agradar a mulher. Tempos atrás, essa era o tipo de mercadoria que tinha pouca saída”.
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