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Russas sabem cuidar de si próprias, diz Kremlin

O porta-voz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, Dmitry Peskov  - Maxim Shemetov/ Reuters
O porta-voz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, Dmitry Peskov
Imagem: Maxim Shemetov/ Reuters

da Deutsche Welle

15/06/2018 09h25

Governo Putin rejeita polêmica em relação a sexo com estrangeiros durante a Copa, após deputada recomendar que as mulheres não se misturem com "outras raças" e se tornem mães solteiras de crianças mestiças.

O Kremlin rejeitou nesta quinta-feira (14/06) a sugestão de uma deputada russa, presidente da Comissão Parlamentar para Família, Mulheres e Crianças, para que as mulheres do país evitem manter relações sexuais com pessoas de "outras raças" durante a Copa do Mundo. 

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A justificativa era, segundo ela, evitar que as russas acabem se tornando mães solteiras de filhos mestiços e alvos de discriminação na sociedade.

"As mulheres russas são capazes de cuidar de seus próprios assuntos. São as melhores mulheres do mundo" afirmou Dmitry Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin. Segundo ele, o assunto está "fora da alçada" do Kremlin.

A deputada Tamara Pletnyova deu a polêmica declaração ao responder a uma pergunta durante uma entrevista sobre as chamadas "crianças das Olimpíadas", termo criado para descrever filhos e filhas de pele não branca concebidos durante os Jogos Olímpicos de 1980 em Moscou.

Muitas dessas crianças, que foram geradas numa época em que os métodos contraceptivos ainda não eram amplamente disponíveis na antiga União Soviética, sofreram discriminação no país.

"Essas crianças sofrem e vêm sofrendo desde os anos soviéticos", disse Pletnyova. "Uma coisa é se elas são da mesma raça, mas a situação é outra se são de raças diferentes. Não sou nacionalista, apenas sei que as crianças sofrem."

A parlamentar disse ainda que, mesmo se as mulheres russas que engravidarem se casarem com estrangeiros, esses relacionamentos costumam acabar de forma problemática. Elas muitas vezes, argumentou, se veem presas em outros países ou, se ficarem na Rússia, acabam sendo impossibilitadas de reaver seus filhos.

"Devemos conceber nossos próprios filhos", disse.

Há poucos meses, a deputada criticou a campanha #MeToo, que denuncia práticas de abusos sexuais cometidos contra mulheres, que estaria se espalhando também pela Rússia. "Não somos a América ou a Europa. Porque temos que copiar tudo? Se uma mulher não quiser, ninguém vai assediá-la", afirmou Pletnyova em fevereiro deste ano.

O porta-voz Peskov lembrou que o slogan da Fifa para a Copa da Rússia é "diga não ao racismo". "Todos os países se acusam mutuamente de racismo, homofobia. Isso não tem nada a ver com a Copa do Mundo", observou.

Itamaraty alerta torcedores brasileiros

No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores preparou uma cartilha para os torcedores brasileiros que se encaminham à Rússia, alertando, entre outras recomendações, que devem ser evitadas demonstrações públicas de afeto entre homossexuais.

"Não são comuns na Rússia manifestações intensas de afeto em público. Em particular, recomenda-se à comunidade LGBT evitar demonstrações homoafetivas em ambientes públicos", diz o Guia Consular do Torcedor Brasileiro.

Segundo o Itamaraty, gestos como esses podem ser considerados "propaganda de relações sexuais não tradicionais feita a menores", lembrando que uma lei promulgada em junho de 2016 prevê multa e deportação para esses casos.

A cartilha recomenda ainda que os brasileiros evitem se "manifestar publicamente sobre temas políticos, ideológicos, sociais e de orientação sexual".