Prática do sadomasoquismo ganha popularidade na Índia
Dentro um apartamento em um bairro de classe média em Nova Délhi, capital da Índia, um grupo de homens e mulheres fala abertamente de sua fixação por práticas envolvendo BDSM, um acrônimo para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo. O assunto é tabu até hoje na Índia, país conhecido pelo conservadorismo em relação ao sexo.
Os participantes são membros do The Kinky Collective, um pequeno grupo de heterossexuais e transgêneros que tenta se conectar, por meio de comunidades on-line e redes sociais, com outros indianos aficionados por tais práticas.
A ativista transsexual Sara, integrante do grupo, diz que o encontro tem uma finalidade "dupla". "Nós queremos ampliar o conhecimento sobre esse tipo de prática sexual e acabar com o preconceito de muitas pessoas. Mas, ao mesmo tempo, nosso objetivo é educar os que querem experimentar o BDSM sobre suas regras e seus princípios", explica.
"Por exemplo, a relação sexual tem de ser consensual e o dominador precisa ser responsável sobre o dominado, além de zelar por sua segurança", acrescenta.
Joy Willingly, que também faz parte do grupo, diz que, inicialmente, os integrantes da comunidade demoraram para abrir suas preferências em relação ao BDSM, mas, assim que eles entraram em contato com outras pessoas, perceberam a importância e a urgência do apoio, da iniciativa e das conversas sobre o tema.
"Nós descobrimos que havia muita hostilidade. Quando os praticantes do BDSM tornavam públicas suas preferências, não raro sofriam preconceito, inclusive de amigos, que não entendiam e se distanciavam deles.", afirma. "Por isso tentamos dar um senso de comunidade."
Há um ano em funcionamento, o grupo, que agora possui 15 membros e está crescendo, já apresentou relatórios e realizou discussões com estudantes com problemas de saúde, mulheres e ativistas gays, além de ter participado em conferências sobre novas leis e direitos humanos.
Sara, uma espécie de promoter do grupo, fez uma performance de BDSM na noite de Délhi há poucos meses. Na ocasião, ela, junto com o seu parceiro, se apresentou para um público estimado de 100 pessoas em um centro de artes populares na noite da capital indiana.
A performance foi baseada na trilogia do best-seller 'Cinquenta Tons de Cinza', da britânica E.L. James. Ao simular sexo selvagem, com o uso de acessórios, como cinto e chicote, Sara surpreendeu e chocou parte da plateia. Ao final da apresentação, os mais pudicos questionavam a performance, enquanto outros a definiam como "corajosa".
Para limar o preconceito, Sara teve de falar com muitas pessoas em particular. Ainda assim, ela não se arrepende da apresentação, que considera uma maneira de ampliar o debate sobre o tema.
Outra integrante do grupo, Jaya, de 40 anos, diz que o BDSM é confundido com violência na Índia. "O BDSM é, na verdade, um jogo muito intenso de poder e dor. Há 20 anos, milito no feminismo e escolhi ser dominada na minha relação. Não vejo tal prática como um ato violento, mas, sim, como uma experiência que é erótica, espiritual e, sobretudo, desafiadora".
Perigos
Psicólogos dizem que os praticantes de BDSM normalmente entram em um acordo sobre seus papéis: o de dominante e o de dominado.
Já o sexólogo mais famoso da Índia, Narayana Reddy, discorda. Ele diz que, nos últimos 20 anos, pelo menos 1% de seus pacientes trouxe a seu consultório reclamações sobre as exigências cada vez mais "selvagens" de seus parceiros.
Os pacientes de Reddy, que tinham entre 30 e 50 anos e eram de classe média, relataram ter sido queimados com bitucas de cigarros e agredidos por seus parceiros. Alguns também disseram ter sido picados por agulhas, algemados e humilhados na frente de outros. Havia casos em que um dos parceiros foi obrigado até a colocar uma coleira de cachorro e imitar o animal.
"Se uma pessoa só consegue atingir determinado grau de excitação recorrendo à prática, eu diria que ela sofre de um problema sexual grave", afirma Reddy.
"O que pode começar como uma novidade para apimentar a relação de um casal, pode depois evoluir para agressão física e, em alguns casos, até deixar profundas cicatrizes físicas e emocionais", explica.
Muitas pessoas na Índia ficaram surpresas com o alto volume de vendas da trilogia baseada no best-seller 'Cinquenta Tons de Cinza'.
Para o pesquisador Sandhya Mulchandani, que estuda textos históricos da Índia, como o popular Kamasutra, a "nova" prática precisa ser respeitada.
"Nos textos históricos, não há nenhuma menção específica ao BDSM. Mas o princípio desses escritos sempre foi aceitar os diversos "matizes" do comportamento humano e não refutá-los por preconceito".
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