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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Miss Universo vai aceitar casadas e mães: sem mudar, concurso pode acabar

As cinco finalistas do Miss Universo Brasil 2022 na noite final do concurso em São Paulo - Reprodução/ YouTube/ Miss Universo Brasil
As cinco finalistas do Miss Universo Brasil 2022 na noite final do concurso em São Paulo Imagem: Reprodução/ YouTube/ Miss Universo Brasil

Colunista de Universa

09/08/2022 04h00

Antes de tudo, uma confissão. Eu sempre adorei assistir concursos de miss. Esse é tipo um hábito de infância que se manteve. Sempre gostei de ver o glamour cafona e, principalmente, o desfile de trajes típicos.

Há muitos anos, quando trabalhava na revista "TPM", realizei um sonho de criança: passei um fim de semana no hotel das candidatas ao Miss Brasil, acompanhando os preparativos. Curiosidade: uma das candidatas era Grazi Massafera.

Dito isso: vocês acham que faz sentido, em 2022, ter um concurso desses, em que as mulheres precisam ser magras, jovens, altas e são analisadas por sua aparência, que tem de obedecer a um padrão?

Não, né? E os donos do concurso sabem disso. Uma prova: eles decidiram mudar uma das maiores "tradições do programa".

Agora, olhem só que moderno (contém ironia), mulheres grávidas, casadas e viúvas poderão participar do concurso. E também aquelas que são mães. Eles não informaram, contudo, se a idade vai mudar. Segundo as regras atuais, uma participante precisa ter entre 18 e 28 anos.

Os organizadores assumem a necessidade de transformação. "Sempre estivemos conectados com o tempo e suas mudanças", disse a carta em que anunciam a novidade.

Bem, conectados mais ou menos, certo?

Essa mudança poderia ter sido feita antes e poderia ser mais abrangente. Em tempos de feminismo, de mulheres e meninas cada vez mais independentes, de luta contra a gordofobia e pela aceitação de todos os corpos, faz sentido um concurso em que mulheres jovens e castas desfilam de maiô e têm seus corpos analisados por especialistas, inclusive homens?

Não. Mas os saudosistas podem dizer que sim. E que se o concurso mudar ele vai perder toda a sua tradição. Mas, gente, várias coisas ruins já foram tradicionais, como as "piadas com gays cabeleireiros", o "bullying nas escolas", as crianças viajarem sem cinto deitadas na traseira da caminhonete, etc. Os tempos mudam. E quem não se adaptar fica para trás, inclusive financeiramente. Ou alguém acha que um concurso como esse muda só para "ser legal"?

Esses concursos precisam de anunciantes, de canais de TV que os vão exibir com destaque. E, em muitos países, esse formato "mulher magra jovem desfila de maiô e tem que saber dar tchau e sentar adequadamente" seria recebido com críticas pesadas. Além disso, claro, esse tipo de concurso vive dos sonhos das meninas. Será que as garotas de hoje querem ser misses? Acho que não, já que até a Barbie está mudando e hoje trabalha e tem corpos diversos.

Miss ativismo

Alguns países já começaram a fazer mudanças para tornar o concurso menos antiquado. A miss Alemanha 2022, por exemplo, é a brasileira Domitila Barros, 37 anos, cria da favela e ativista ambientalista. Em conversa com a coluna, ela comemorou a mudança.

Fiquei muito orgulhosa com essa mudança. Acho que é um desenvolvimento natural e é o que representa a realidade das mulheres hoje em dia. Acho que o Miss Alemanha ter mudado foi muito importante para ter isso ter acontecido. Até o fato de eu ser Miss Alemanha mais velha e imigrante acho que contribuiu para essa mudança. Sei que o Miss Alemanha inspira esse povo, inclusive porque economicamente foi um sucesso, o concurso ganhou vida depois que se atualizou". .

Pois é. Os tempos mudaram. E não, isso não é ruim. Como diria o colunista Zé Simão, quem fica parado é poste.