Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Decisão que impede Melhem de expor Calabresa deveria inspirar outros juízes
Nos últimos meses, trocas de mensagens entre Marcius Melhem e Dani Calabresa têm se tornado públicas. Os recados são da época em que os dois trabalhavam juntos —hoje, a humorista e outras 11 mulheres acusam Melhem de assédio moral e sexual. Também foram divulgadas mensagens de uma mulher que teria tido um caso com Melhem e hoje o acusa. Tudo relativo aos processos está em segredo de Justiça.
Essa é uma tática cruel contra as vítimas. Uma espécie de chantagem. "Se você não parar, vou continuar vazando a sua intimidade", parece ser a mensagem. E, como todos deviam saber, e não cansamos de repetir, ter uma relação com a pessoa não impede que você seja vítima de abuso. Muitas mulheres são abusadas por seus maridos, por exemplo.
Pois bem, finalmente uma boa notícia nestas semanas que têm sido tão difíceis para os direitos das mulheres: o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que Melhem está impedido de divulgar qualquer mensagem que os dois tenham trocado. Se Melhem e seus advogados desobedecerem, serão punidos.
Segundo noticiou o site Notícias da TV, no último dia 4, a Justiça negou um pedido de Melhem e sua defesa para que caísse a proibição de tornar essas mensagens públicas. Ficou permitido apenas que ele usasse as mensagens de WhatsApp no processo, não publicamente.
Essa é uma vitória para quem luta pelos direitos das mulheres e para todas as mulheres que pensam em denunciar um abuso.
Isso porque muitas de nós não denunciam justamente para não ter esse tipo de intimidade exposta e com medo das violências que podem ser sofridas durante um processo.
Quando denunciamos, muitas vezes o que acontece é que somos revitimizadas, ou seja, viramos vítimas duas vezes. Primeiro, do abuso. Depois, do julgamento das pessoas, da exposição.
Isso é o que aconteceu, por exemplo, com Mariana Ferrer, que foi destratada pelo advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho em 2020 e ouviu coisas absurdas, como comentários sobre fotos que postava no Instagram (o que uma coisa tem a ver com a outra? Isso é tipo culpar a vítima falando da roupa que ela estava usando, uma tática antiga e inaceitável).
A notícia de que Melhem e sua equipe não vão poder tentar cometer esse abuso moral contra Calabresa vem em uma hora boa e é reconfortante.
Afinal, nas últimas semanas, vimos várias mulheres sendo revitimizadas.
A atriz Klara Castanho foi julgada e exposta depois de ser vítima de um estupro, engravidar e decidir dar o filho para adoção. A menina de 10 anos que engravidou depois de um estupro (não existe relação consensual com essa idade, e isso está na lei) ouviu de uma juíza que ela devia manter a gravidez (apesar de o aborto nesse caso ser garantido pela Constituição).
E, claro, como esquecer que a vítima de estupro pelo anestesista Giovanni Bezerra teve a imagem da violência escabrosa que sofreu, após uma cesariana, ainda na sala de cirurgia, divulgada por canais de TV?
A decisão de que Melhem e sua defesa não podem vazar conversas íntimas e informações que seguem em segredo de Justiça vai contra essa tendência. E poderia inspirar juízes (e também jornalistas) Brasil afora.
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