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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que a compra do Twitter por Elon Musk pode ser ruim para mulheres?

Jim Watson/AFP
Imagem: Jim Watson/AFP

Colunista de Universa

28/04/2022 04h00

Em novembro do ano passado, o bilionário Elon Musk, o homem mais rico do mundo, dono da Tesla, da SpaceX e que agora anunciou ter comprado o Twitter, foi até a rede social, onde é famoso por postar conteúdo com "piadas" de mau gosto e escreveu: "Estou pensando em começar o Instituto de Tecnologia e Ciência do Texas". Em seguida, escreveu (e depois deletou): Massachusetts tem o MIT, o Texas terá o TIT.

"Tit", para quem não sabe, é uma das palavras seios, em inglês. E continuou as piadas falando que o instituto teria "um ótimo visual" e "desconto para alunas que levassem um cachorrinho".

O fato gerou revolta no meio de tecnologia, conhecido por ser mega hostil para mulheres. Várias delas se manifestaram, dizendo que esse era um exemplo perfeito de como a indústria de tecnologia tratava as mulheres, como objetos, não como profissionais. E que, claro, era inaceitável que isso fosse escrito por um bilionário chefe de empresas de alta tecnologia, como a Tesla e a Space X.

O futuro dono do Twitter já postou outras "piadas" de mau gosto na rede. Ele poderia ser apenas mais um "tiozão" do Twitter, daqueles que a gente pode ignorar ou, no pior dos casos, denunciar como abusivo.Mas, bem, estamos falando do futuro dono do Twitter, o lugar onde ele escreve essas piadas de mau gosto.

Dá para imaginar como será a política de moderação do Twitter, quando o dono é o próprio tiozão que escreve essas "piadas''?

Mesmo antes da compra do Twitter, ativistas e jornalistas que trabalham no ramo da tecnologia já haviam denunciado o quanto esse comportamento de Musk era perigoso para as funcionárias de suas empresas e para o meio em geral. Pense, se o seu chefe faz esse tipo de piada, todos os seus colegas vão achar que podem fazer o mesmo.

Cultura de abuso

Mas não é só isso. As empresas administradas por Musk têm um histórico de abusos sexuais e denúncias de racismo. Segundo funcionárias, o comportamento misógino seria incentivado pelo dono.

Ano passado, seis funcionárias da Tesla processaram a empresa dizendo terem sido vítimas de abusos. Elas relataram que era usual que colegas ou superiores fizessem comentários sobre suas roupas, tocassem seus corpos e que reclamar para chefes de nada adiantava. Outras funcionárias também vieram a público denunciar a cultura sexista das empresas geridas por Musk, que tem outras práticas contra mulheres, como por exemplo, o hábito de empregar muito menos mulheres do que homens.

E o que nós, que não trabalhamos nessas empresas, nem no Twitter, temos com isso?

Bem, se um chefe permite e até incentiva que haja abusos e um ambiente tóxico em suas empresas, porque ele não faria o mesmo em uma rede social onde mulheres já sofrem abusos todos os dias?

Segundo entidades feministas, os casos de abuso e ataques de ódio a mulheres podem aumentar sob o domínio de Musk. "A compra do Twitter por Elon Musk provavelmente vai aumentar o assédio e as ameaças a mulheres online", escreveu a fundação americana UltraViolet.

Elon Musk ainda nem assinou a compra da empresa (que inclusive ainda pode não acontecer), mas, no caso das executivas do Twitter, o clima já ficou péssimo.

Uma executiva de parcerias do Twitter, Lara Cohen, publicou um post na própria rede acusando o futuro chefe de misoginia.

Motivo: ele teria criticado duas proeminentes executivas do grupo, Vijaya Gadde, uma das responsáveis pela decisão de banir Donald Trump da rede e Leslie Berland, que passaram a sofrer ataques online no? Twitter!

Será que esse clima horrível vai chegar na gente, que é apenas usuária de rede?

Não sabemos ao certo. Mas as perspectivas não são boas.