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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Crítica de Janaina a padre Júlio ganha resposta: solidariedade vence ódio

O padre Júlio Lancellotti ganhou doações após crítica de deputada do PSL - ANTONIO MOLINA/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O padre Júlio Lancellotti ganhou doações após crítica de deputada do PSL Imagem: ANTONIO MOLINA/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do Universa

09/08/2021 13h01

Quando a pandemia começou, apesar de todas as notícias terríveis e do medo, uma onda de solidariedade se espalhou pelo Brasil. Pessoas de todo país se mobilizaram para distribuir máscaras, cestas básicas, cozinhar para quem não tinha comida, pagar boletos de mães de família que ficaram desempregadas de uma hora para outra. Nunca vimos tanta ajuda. E uma boa parte desse trabalho foi feito por mulheres.

Lá, no início da pandemia, não tinha vacina e a gente nem sabia ainda como se contaminava direito. Mas o padre Júlio Lancellotti não parou. Foi para as ruas do centro da capital de São Paulo —onde na verdade sempre esteve— distribuir comida, café da manhã, roupas limpas e dignidade. Se arriscou e virou um dos exemplos dessa solidariedade em tempos epidêmicos, de volta da fome e do crescimento da miséria no Brasil. Até a ligação de solidariedade do Papa Francisco ele recebeu. E também sofreu ameaças de morte. É bizarro que isso tenha acontecido. Mas, além da solidariedade, a pandemia despertou também uma espécie de onda de ódio por parte de alguns.

Em setembro do ano passado, o padre denunciou em vídeo as ameaças que sofria. "Passou uma moto e o cara falou: 'Padre filho da puta que defende noia'. Depois dos ataques de alguns candidatos à Prefeitura contra mim, estou cada vez mais em risco", disse o padre em vídeo. O tal candidato era Arthur do Val, o Mamãe Falei, que postou ataques contra o padre nas redes sociais.

No fim de semana, foi a vez da deputada estadual Janaina Pascoal (PSL) criticar o padre, que ajuda com alimentos, cobertores e tudo o que pode os moradores de rua que ocupam a região conhecida como Cracolândia, em São Paulo, um dos pontos mais miseráveis da cidade, onde se concentram moradores de rua e dependentes de drogas em estado lamentável.

Em uma série de tuítes durante o fim de semana, ela disse coisas como: "A distribuição de alimentos na Cracolândia só ajuda o crime". Segundo ela, alimentar os miseráveis "alimenta o vício e só alimenta o ciclo vicioso". Vale lembrar que o padre não distribui drogas na Cracolândia, mas comida. Ele não alimenta "o vício". Ele alimenta e conforta os seres humanos. Ele age como um cristão. Inclusive, segundo ele, foi esse conselho que ele recebeu do papa Francisco: "Não abandone os pobres".

A declaração de Janaina gerou uma onda de indignação contra suas falas nas redes sociais. Como desagravo, milhares de pessoas decidiram ajudar a paróquia de padre, e postar os comprovantes de transferência de dinheiro nas redes sociais e assim dar a resposta de que a solidariedade era maior que o ódio.

Janaina recebeu poucos apoios. Em entrevista ao UOL, o padre convidou a deputada a conhecer o trabalho feito pela sua paróquia e disse:

"Alimentar aquelas pessoas na Cracolândia é uma questão humanitária. Não seria matá-los de fome que resolveria o problema". Pelo jeito, muita gente concorda com ele e não está disposto a deixar de ser solidário. Esse é um momento muito difícil. Mas, a empatia ainda é maior que o ódio.