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Marina Rossi

REPORTAGEM

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Pai de siamesas: 'Eu só espero que os médicos digam que elas estão bem'

Lorisete, as bebês e o marido, após o parto - Arquivo pessoal
Lorisete, as bebês e o marido, após o parto Imagem: Arquivo pessoal

Colunista de Universa

09/11/2022 04h00

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Sofia e Milena completaram uma semana de vida na última terça-feira. Gêmeas siamesas, elas estão internadas na UTI do Hospital Fêmina, em Porto Alegre, ligadas a aparelhos e sem previsão de alta. A mãe, Lorisete dos Santos, 37 anos, recebeu alta hospitalar no mesmo dia em que as meninas completaram uma semana, após uma cesariana complexa e carregada de expectativas.

Há quase um mês, quando a coluna revelou sua história, Lorisete vivia entre a angústia em relação ao dia do parto e a incerteza sobre o futuro das filhas. Ela havia recebido a notícia sobre a condição dos bebês no início da gravidez. Ao longo do pré-natal, os médicos diziam que o parto seria difícil e que ela, assim como as meninas, corriam risco. Por isso, Lorisete foi à Justiça, por meio da Defensoria Pública de Porto Alegre, pelo direito de interromper a gestação.

O pedido foi negado quatro vezes, inclusive pelo STF (Supremo Tribunal Federal), onde foi julgado pelo ministro André Mendonça. Em todos os casos, o mérito não foi sequer discutido, e os juízes negaram o pedido afirmando que ele não poderia ter sido feito via habeas corpus.

Esgotadas todas as instâncias possíveis, o parto de Lorisete foi agendado. As meninas nasceram prematuras, mas, de acordo com o pai, o pedreiro Marciano da Silva Mendes, 37 anos, estão bem. "Elas estão quase saindo do oxigênio já", disse à coluna na segunda-feira. Naquele dia, a família aguardava uma reunião com os médicos para entender quais seriam os próximos passos. "Uma delas tem um estômago que não está recebendo o alimento direito", disse Marciano. "Por isso, elas terão que passar por uma cirurgia."

Os pais já sabem, no entanto, que separar Sofia e Milena está fora de cogitação. "Não tem como separar", diz o pai. Isso porque elas compartilham a mesma aorta, uma das artérias mais importantes do corpo humano. Sem um horizonte claro pela frente, o pai não soube afirmar quando e como voltaria para a casa. "Só Deus sabe até quando vamos ficar aqui", contou Marciano, pouco tempo antes de visitar as filhas na UTI.

Além da angústia em relação ao diagnóstico das bebês, a família não sabe como fará para se manter longe de casa por um tempo tão incerto. Moradores de São Luiz Gonzaga, a 500 quilômetros de Porto Alegre, os pais não têm condições financeiras para se manter na capital. "Eu estou há mais de 40 dias sem trabalhar", afirmou Marciano. De acordo com ele, o Estado ofereceu uma pensão para hospedar o casal, mas os gastos com alimentação e transporte até o hospital sairão por conta da família. "Não sei se vamos ficar na pensão, porque o Uber do hospital até lá sai uns R$ 20", diz Marciano. "Fora os medicamentos que eu tive que comprar para a Lorisete, como analgésicos e remédios para não infeccionar os pontos."

Os outros dois filhos do casal, um de 15 e outro de 4 anos, também estão sentindo as mudanças na rotina, que foi bastante alterada desde que Lorisete recebeu o diagnóstico das filhas. Como o acompanhamento da gestação foi feito pelo Fêmina, que é referência no Estado, ela precisou viajar diversas vezes para a capital gaúcha. Nesta segunda-feira, Marciano levou o mais novo com ele para Porto Alegre, enquanto o mais velho ficou com parentes em São Luiz Gonzaga. A passagem só de ida custou R$ 170.

Assustada com os gastos inesperados e sem fontes de renda, a família pede ajuda e tem contado com doações. Sobre o que esperar do diagnóstico das filhas, o pai se cala. E, em seguida, responde: "Eu só espero que os médicos digam que elas estão bem".

Procurado, o hospital Fêmina afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não comenta o caso.