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Fabi Gomes

Você tem um minuto para ouvir a palavra da Diva Pop Beyoncé?

Beyonce no clipe de Pretty Hurts - Reprodução
Beyonce no clipe de Pretty Hurts Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/08/2020 04h00

Olá, hater amigo! Fique comigo até o fim. Trago notícias sobre beleza diretamente do mundo pop e do jovem e encantado universo do Tiktok. Recentemente, mais um dos já famosos e constantes desafios inundou as telas do aplicativo dessa rede social. Se você ainda não está por dentro, este é o canal com o qual os jovens - eminentemente millenials e geração Z - se informam e expressam.

De maneira dinâmica, musicada e editada, revelam suas emoções, desejos e inquietações. O desafio em questão é o #prettyhurtschallenge, ou seja, desafio "beleza machuca" (em tradução livre). Nele, predominantemente meninas aparecem com seus rostos maquiados de modo a imitar marcações de cirurgia plástica, embaladas pela música "Pretty Hurts" da diva pop Beyoncé.

À medida que música e coreografia evoluem, com expressões de dor e sofrimento, elas vão se transformando, para então mostrarem-se já com a maquiagem completa, quase sempre respeitando o padrão de maquiagem amplamente difundido na indústria: pele completamente coberta com base e pó, nariz afinado, iluminador bombadão no topo das maçãs do rosto (vulgarmente chamado de "o caminho da lesma"), sobrancelhas blocadas, olhos evidenciados e marcados com os indefectíveis cílios postiços, longos o bastante para fazer carinho na testa, e boca aumentada, obviamente. Afinal, seria uma afronta ter lábios finos.

No clipe da música, Beyoncé interpreta uma participante de um cruel concurso de beleza, no qual todas as meninas tentam seu melhor para vencer, para estar à altura do corpo de jurados, evidentemente composto por homens. Elas se apertam em roupas justas. Esticam seus cabelos para em seguida moldá-los em ondas sensuais. Aplicam um produto para deixar os dentes brancos.

Têm seu peso averiguado e suas medidas tomadas, sempre sob olhares de julgamento e desdém. Cenas relacionadas a distúrbios alimentares, como bulimia, ingestão de remédios e até mesmo uma participante se alimentando de algodão (!), deixam claro o nível de toxicidade do concurso.

O clima não é exatamente amistoso e as meninas brigam entre si até mesmo pelo secador de cabelos, olhando-se desconfiadas e inseguras, num verdadeiro cenário de Jogos Vorazes. Entre os muitos destaques na letra da música, encontramos pérolas como:

Mamãe dizia: Você é uma menina bonita
O que você pensa não importa
Escove seu cabelo, corrija os dentes
O que você veste é tudo que importa
É só mais uma etapa
O concurso afastará a dor
Desta vez, eu vou levar a coroa

E segue:
Você tenta consertar algo
Mas você não pode consertar o que não pode ver
É a alma que precisa de cirurgia

E aí a participante interpretada por Beyoncé é perguntada pelo mestre de cerimônias (ninguém menos que o sensacional ator Harvey Keitel) sobre sua aspiração da vida. Depois de alguma hesitação, lhe responde: "Ser feliz".

Vale a pena notar que, além da ansiedade e do medo estampados nas feições das participantes, a tristeza é quase corpórea, material. Me atrevo a dizer que qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência.

Mas, pera lá, quem tá cantando isso? A Beyoncé? Mas ela é linda, perfeita, tá sempre maquiada dentro dos conformes e vive esfregando na nossa cara aquele corpão lindo. Bem, será que, se ela não fosse tão linda e tão perfeita, ela estaria sendo escutada? Estaria onde está?

A cantora usa seu lugar de prestígio, personalidade e influência para propor temas como feminismo, depor contra padrão de beleza e defender liberdade sexual, dando a letra de como hackear o sistema por dentro.

De como usar seu lugar para propagar discursos nos quais acredita. Para quem se interessar mais sobre esse aspecto "ativista" da cantora, bastar dar um Google em "Beyoncé feminista".

A música é de 2014, mas a discussão é mais atual do que nunca. E, olha, não sou quem tá falando, não. É a diva absoluta Beyoncé que canta em alto e bom som: "perfeição é a doença da nação". Como não sou besta de questionar Deusas, apenas digo amém para a Deusa e para essa geração de jovens que, sete anos depois, não só resgatou a música, como a envelopou com modernidade digital, tudo quentinho e pronto para o consumo!

Agora, uma lição de casa. Experimente consumir o combo: clipe "Pretty Hurts" da Beyoncé + conteúdos com a hashtag #prettyhurtschallenge no Tiktok e depois volte aqui nos comentários para me contar como se sentiu.