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Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Anitta pode influenciar o resultado das eleições?

Anitta reúne muitos dos predicados que compõem o perfil do eleitorado que mais rejeita Bolsonaro - Reprodução
Anitta reúne muitos dos predicados que compõem o perfil do eleitorado que mais rejeita Bolsonaro Imagem: Reprodução

Colunista de Universa

20/07/2022 04h00

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Se tem uma pessoa que sabe trabalhar boas estratégias para manter seu nome nos holofotes, este alguém é Larissa de Macedo Machado, conhecida dentro e fora do Brasil como Anitta. Ela não dá ponto sem nó, passo sem traço, não faz rebolado sem antes traçar o compasso.

Anitta é um sucesso. Tudo o que envolve seu nome ganha proporções que poucas artistas brasileiras conseguem alcançar. Anitta sabe com maestria a hora certa de colocar seu nome no meio de um rebuliço. Desde que declarou apoio a Lula na campanha eleitoral para presidente, quem mais ganhou com o anúncio não foi o ex-presidente e nem o atual, mas sim a própria.

Em todos os gráficos de análises de redes sociais, as menções em torno do nome da artista foram muito maiores do que a dos dois candidatos juntos. Na primeira hora da postagem de sua foto com um macacão vermelho com a estrela do PT nas nádegas, foram mais de 53 mil tuítes citando a cantora, contra 18 mil mencionando Bolsonaro.

Se alguém duvida de que Anitta seja uma excelente estrategista de marketing vai morrer engasgado com a própria dúvida, pois ela é. A moça surfa em todas as possibilidades para continuar no auge e sabe usar as redes totalmente a seu favor. Em razão da sua tática, poucos se lembram das críticas que recebeu quando se fez de cega e rogada nas eleições de 2018. Foi duramente criticada e cobrada. Processou a mensagem, estudou para entender de política e voltou com tudo. Não me lembro de nenhum outro artista brasileiro que tenha causado tanto tititi por se posicionar politicamente.

Anitta é a rainha das redes sociais, com um imenso potencial para disseminar informações. Do alto dos seus 63 milhões de seguidores no Instagram e 17,7 milhões no Twitter, ela observa lá longe a próxima cantora na lista de seguidores: Ivete Sangalo com 34,7 milhões no Instagram e 17,1 milhões do Twitter. Qualquer coisa que ela venha a postar atinge uma multidão. E o seu apoio ao candidato do PT proporcionou uma subida.

O posicionamento de Anitta é, sim, um apoio importante para a derrota de um projeto de governo autoritário, alicerçado na desumanidade.

Jair Bolsonaro e seu clã já escolheram suas estratégias de campanha e fizeram da violência o método utilizado na tentativa de se manter no poder. Violência verbal ou institucional, fake news, fotos portando armas, filho 04 performando na academia com camisetas estampadas com projétil, o 03 comemorando seu aniversário com um bolo de arma de fogo um dia após o agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho ter assassinado a tiros o tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR), Marcelo Arruda. Ataques deliberados ao Supremo Tribunal Federal, incitação da violência em discursos, falas racistas, homofóbicas e misóginas.

Ao anunciar seu apoio ao candidato petista, Anitta foi enfática ao declarar num tuíte: "Mais do que fazer o Lula 'bombar', precisamos mostrar o quão inaceitável e inviável é a reeleição do monstro que violenta o Brasil. Essa é uma eleição definida pela rejeição".

Ela reúne muitos dos predicados que compõem o perfil do eleitorado que mais rejeita Bolsonaro: mulher livre que decide o que quer para si e para o seu corpo, ambiciosa, independente, não aceita submissão masculina, o famoso "senhora do seu próprio destino".

Se Lula tem Anitta, o youtuber Felipe Neto, Mano Brown, Ludmilla, Pabllo Vittar ou Camila Pitanga, Jair Bolsonaro tem seu grupinho misógino/ homofóbico com o jogador de vôlei Maurício Souza, Latino, Gusttavo Lima e uma sequência de sertanejos. São milhões de seguidores em jogo.

A relevância das celebridades não vence a eleição, mas tem influência direta no comportamento do eleitorado. Basta lembrarmos que Anitta foi fundamental na liderança de uma campanha com outros artistas para influenciar os jovens entre 16 e 18 anos a registrarem título de eleitor. Os cartórios eleitorais estavam registrando recordes negativos de registro em março deste ano e em dois meses mais de 3,5 milhões de jovens entenderam o recado e tiraram o documento.

Adepta do falem bem, falem mal, mas falem de mim, ela vai fazendo da sua participação no campo eleitoral uma oportunidade de demonstrar que cultura e política têm tudo em comum e fortalecer sua imagem enquanto maior influenciadora digital do Brasil. Embora muito estratégica, Anitta é real. Ela erra, se arrepende, declara, denuncia. Anitta é necessária na nossa sociedade.