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Carla Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dá para manter a produtividade em alta no meio do caos? Eu aceitei que não

Sensação ruim quem vem da pandemia foi nomeada de "definhamento" por psicólogo norte-americano - Getty Images
Sensação ruim quem vem da pandemia foi nomeada de "definhamento" por psicólogo norte-americano Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

29/04/2021 04h00

Tenho sentido uma total falta de ânimo. Está acontecendo aí também? Neste mês de abril, quase não apareci nos Stories, fiz poucas postagens no feed do Instagram e só apareci no Twitter para comentar BBB. O tal Clubhouse nunca mais abri. Até tenho passado muito tempo no TikTok, mas só observando (como vocês já devem ter percebido nos meus últimos textos aqui na coluna), porque a barrinha de disposição para criar conteúdo está completamente descarregada. Só que, desta vez, ao invés de me martirizar pela "baixa" produtividade, eu resolvi lidar com ela.

E é difícil para caramba, viu? Mas, quando esse tweet da Thais Fabris passou na minha timeline, uma chavinha virou dentro de mim. "Se cobrar produtividade máxima enquanto o mundo acaba em câmera lenta ao nosso redor é também uma espécie de negacionismo", ela diz. E é. Ao ignorar todo o ambiente e a conjuntura que vivemos e como eles afetam a gente, negamos a nossa humanidade. Negligenciamos as nossas necessidades mais básicas.

Dias depois, ainda com o tweet da Thais ecoando na minha mente, leio uma matéria do jornal The New York Times, traduzida pela Folha de S.Paulo, sobre essa desconfortável emoção que deve predominar 2021: o definhamento. "É um sentimento de estagnação e vazio", diz o psicólogo Adam Grant, que explica ainda que a psicologia pensa em saúde mental como um espectro que vai da depressão ao florescimento. O definhamento é, portanto, um platô que fica ali entre uma coisa e outra; um lugar infrutífero e indiferente, onde a vida não se desenvolve. E o mais importante: "o definhamento não está apenas em nossa cabeça, está em nossas circunstâncias".

O cuidado com as plantas me ensinou isso do jeito difícil. Quando a planta não tem água, luz e nutrientes alinhados com a necessidade específica dela, a danada não produz direito. Ela não dá folhas novas (ou nascem muito menores), as antigas ficam amareladas ou opacas, secam as bordas e as flores não vingam. A planta faz o que dá com as circunstâncias que ela tem e trabalha no tempo dela. Não adianta forçar a barra: se você coloca muito adubo, ela morre. Se você colocar sob a luz 24 horas por dia, ela estafa (ou você acha que só humano tem burnout?). O tempo também é uma necessidade básica das plantas.

Se as circunstâncias não estão favoráveis, a planta não floresce. E é aquilo: acontece na natureza, acontece com a gente, porque também somos natureza. Fizeram a gente, especialmente nos grandes centros urbanos, esquecer disso, porque era mais lucrativo (não disse para quem).

Desconectados da nossa natureza, a gente começa a ser tratado (e consequentemente se tratar) como se fosse máquina.

Negamos a nossa humanidade e este ciclo contra o que é natural cobra seu preço em situações catastróficas, como a gente vive hoje, sendo brasileira no meio desta pandemia global, tendo que lidar com o caos e o absurdo. E, assim, vamos definhando.

Dizem os especialistas que o primeiro passo para lidar com isso é identificar o problema, compreender o que está acontecendo para que você possa se ajudar. Fácil não é, mas tem feito diferença aqui. E espero que refletir sobre essas coisas te ajude aí também.