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Opinião

Brochar é falta de desejo? Impotência pode ser resposta física ou emocional

Vamos aos personagens da história de hoje: uma leitora de 55 anos está no começo de um relacionando com um homem de 47. Ela me escreve de forma direta, contando que ao iniciarem os jogos amorosos ele nunca está com o pênis ereto. É só depois de 'muita masturbação e sexo oral' que ele consegue uma ereção, mas a perde logo em seguida.

O parceiro sempre reforça que tem muito desejo por ela, mas quando ela foi abordar o assunto, reagiu mal. Passado o climão, em um outro momento, ele puxou o assunto dizendo que adoraria que o pênis ficasse duro com mais rapidez, mas as coisas simplesmente não acontecem assim com ele, pediu paciência.

Tentando investigar a questão sem pentelhar o querido, ela me buscou para conversar sobre o que pode estar acontecendo e como colocar novamente o assunto em pauta de uma maneira que seja mais tranquila.

Focando na parte física, a disfunção erétil pode ser provocada por causas como diabetes mellitus, problemas vasculares, causas hormonais (baixo nível de testosterona), induzida por medicamentos (como alguns hipotensores), drogas ou álcool em excesso. Mas ela também pode acontecer por um gatilho emocional, em decorrência do que chamamos de ansiedade de desempenho.

O medo de falhar na ereção é uma variável emocional que provoca no organismo uma descarga de cortisol que atrapalha o mecanismo da ereção. Para este tipo de fenômeno, dizemos que a disfunção erétil é de causa psicogênica, ou seja, uma interação entre fatores psicológicos e físicos.

Uma pesquisa realizada na Universidade do Porto expôs homens jovens a estímulos sexuais visuais enquanto media a sua resposta erétil. Em um segundo momento da pesquisa, o mesmo procedimento foi feito com a mesma amostra, no entanto, os pesquisadores disseram para metade do grupo que a sua resposta erétil não tinha sido tão boa na primeira vez e, por isso, iam repetir o procedimento. Para a outra metade só avisaram que a nova medição fazia parte do estudo. O resultado? O grupo que achou ter tido mau desempenho erétil na primeira vez teve uma resposta de excitação pior em comparação ao outro grupo, comprovando a influência emocional no mecanismo de ereção masculino.

Isso significa que muitos homens, ao perder uma ereção na relação sexual, principalmente com parcerias com as quais não tem grande intimidade, ficam suscetíveis a falhar novamente na relação subsequente e isso vira uma bola de neve.

Alguns homens se sentem ainda mais pressionados a desempenhar sexualmente quando as parceiras são mulheres muito atraentes, interessantes, poderosas ou por quem estão emocionalmente envolvidos, pois sentem que podem perdê-las caso não as satisfaçam no sexo, provocando uma hipervigilância na hora da relação.

Falar abertamente sobre o assunto é sempre uma opção interessante, pois a maioria das pessoas se identificam com essa pressão da performance. Mesmo as mulheres não demonstrando visivelmente a perda de excitação, 'broxamos' da mesma forma, muitas vezes por receio de não agradar fisicamente os parceiros, preocupadas que estamos com o excesso de dobrinhas, se lembramos que faltou um relatório para entregar no trabalho, a compra do mês e sei lá mais o quê.

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Entendo que é um assunto sensível e que, justamente por sabermos da autocobrança masculina sobre a ereção, a tendência é ficarmos cheias de 'dedos' para abordar o assunto, mas sem conversa a chance do sexo virar um tabu é grande. É preciso encarar de frente, de maneira empática, mas assertiva. Existem várias opções de tratamento para a disfunção erétil caso seja necessário, pois, muitas vezes, se perceber acolhido pela parceria já é suficiente para eliminar as tensões. Prolongar a estimulação no corpo todo é fundamental, para retirar a penetração como prática central do encontro sexual. Boa conversa para vocês.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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