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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ghosting também é bom. Às vezes, é melhor ainda pra quem leva

Se o match não aconteceu na vida real, parar de responder mensagens não é visto como um problema - Unsplash
Se o match não aconteceu na vida real, parar de responder mensagens não é visto como um problema Imagem: Unsplash

Colunista de Universa

06/06/2023 04h00

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Embora as pessoas fiquem magoadas, com raiva e desapontadas quando um crush dá sumiço, parece que a maioria está se acostumando com o fenômeno do ghosting (quando a alguém para de responder e não dá mais notícia), típico das relações mediadas por aplicativos de relacionamento e de troca de mensagens.

Um estudo espanhol, por exemplo, comparou o efeito psicológico do ghosting ao de outro comportamento, o breadcrumbing —dar migalhas, na tradução livre em português—, que significa manter a atenção com mensagens paqueradoras, mas não comprometedoras, mantendo a pessoa interessada e a deixando na espera. A pesquisa revelou que o ghosting, sozinho, não tinha um efeito devastador. Mas quem ficou só recebendo migalhas ou quem as recebeu antes de tomar um sumiço mostraram um índice menor de satisfação com a vida, maior sentimento de desamparo e de autopercepção de solidão.

De qualquer maneira, receber um ghosting pode ter um impacto na autoestima e afetar o bem-estar mental. Outro estudo, agora holandês, investigou os motivos e os sentimentos de culpa que aparecem nessas situações. Na pesquisa, quem levou ghosting diz que não era suficientemente bom, interessante, atraente, alto ou musculoso. Outros disseram se achar chatos, muito gordos ou feios.

Alguns continuaram se perguntando o que fizeram de errado e se eles haviam dito ou feito algo que não foi apreciado pela outra pessoa.

O ghosting sempre leva a essa autodepreciação ou há um limite aceitável para sumir?

Os códigos para responder essa questão não são delimitados nem universais, mas quando um encontro não funciona bem logo de cara, as pessoas —e estamos falando das que tomam o ghosting— já não acham uma falta grave desaparecer em seguida. Aliás, há quem pense ser desnecessário justificar a ação, já que o match ruim ficou claro na vida real.

Além disso, quando as pessoas estão no início das conversas, sumir é compreendido como sinal das relações atuais: diante de tantos contatinhos, não dá para administrar todo mundo.

Agora, analisemos o que diz quem some. Segundo a pesquisa, o ghoster costuma culpar seus crushes: eram chatos, alguém que se apaixona facilmente ou com problemas, como medo de compromisso.

Agressivos, desrespeitosos e racistas também foram algumas das justificativas, além de enviar imagens de conteúdo sexual não solicitadas.

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Outros justificaram o ato pelo desejo de se protegerem do confronto com o outro diante de uma rejeição, pois temiam ser ofendidos ou perseguidos. Muitos preferiram sumir com medo de magoar o outro. Alguns não se sentiam emocionalmente preparados para começar a namorar ou tinham medo de não atender às expectativas da outra pessoa.

Alguns estavam com interesse em outras pessoas, e uma minoria mencionou estar muito ocupada para continuar conversando ou pensou ser perda de tempo.

Outros continuaram se perguntando o que fizeram de errado e questionaram se eles haviam dito ou feito algo que não foi apreciado pela outra pessoa. Outras razões individuais menos comuns foram citadas, como recusar sexo durante o encontro, o tipo de trabalho que tinham ou que o crush tenha descoberto que se é comprometido.