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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não é piada inofensiva: empresas precisam combater violências sutis diárias

Micro iniquidade é o ato de minimizar ou desprezar alguém com base em algum preconceito; muitos chamam de "piada inofensiva" - iStock
Micro iniquidade é o ato de minimizar ou desprezar alguém com base em algum preconceito; muitos chamam de "piada inofensiva" Imagem: iStock
Viviane Cury

Especial para Universa

01/07/2021 04h00

Durante a pandemia de covid-19, todos nós temos enfrentado diferentes desafios. Gerenciar as tarefas domésticas e os cuidados com a família enquanto resolvemos problemas do trabalho pode ser complicado. Apesar de todo o estresse, precisamos sempre ter em mente o quanto é importante ter relacionamentos respeitosos e saudáveis.

Neste momento em que o contato com nossos colegas está acontecendo sobretudo através de plataformas digitais, e as pessoas podem se sentir sozinhas e precisar conversar com alguém para compartilhar algo pelo que estejam passando, empresas e lideranças devem prestar ainda mais atenção para identificar as micro iniquidades.

Para aqueles que não estão familiarizados com este termo, as micro iniquidades são aqueles pequenos comportamentos que minimizam, ignoram, excluem ou descartam uma pessoa com base em preconceitos inconscientes ou contra características identitárias, como etnia, gênero, idade, entre outros. Na maioria dos casos, essas ações são involuntárias e muitas vezes são até mesmo consideradas apenas piadas inofensivas.

No entanto, esses comentários são formas sutis de violência, que podem ter consequências. A professora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) Mary Rowe criou este termo na década de 70 e mostrou que, mesmo sem querer, esses comportamentos podem levar a um sentimento silencioso de exclusão e até mesmo impactar o desempenho das vítimas no trabalho.

A inclusão e a diversidade devem estar presentes em tudo o que fazemos. Na Kimberly-Clark, temos diversas iniciativas globais para empoderar nossos colaboradores a promoverem uma cultura organizacional que reflita gênero, integração de gerações e diversidade em geral. Alguns de nossos programas internos como #ElaPode, na América Latina, criado para apoiar o desenvolvimento profissional feminino, ou Reverse Mentoring, que conecta colaboradores que estão em diferentes momentos de suas carreiras para trocar conhecimentos sobre ferramentas de trabalho, técnicas e dicas de gestão, incentivam um maior entendimento a respeito desses assuntos e são exemplos bem-sucedidos de nosso propósito.

Já avançamos muito no combate a esse tipo de comportamento e estamos sempre atentos ao menor comentário ou gesto que possa ofender alguém. Minha equipe e eu encontramos uma maneira de ajudar nossos colaboradores na América Latina a lidar com esse tema: além de palestras voltadas para a conscientização sobre as micro iniquidades, ensinamos como as pessoas devem reagir a essas situações em seu dia a dia.

Compartilho aqui algumas reflexões e conselhos para que todos possam combater as micro iniquidades no ambiente de trabalho:

  • Esteja atento - Um pequeno gesto pode machucar alguém. Sempre trate os outros com dignidade e respeite suas opiniões, crenças e pontos de vista, mesmo que você não concorde com eles.
  • Esteja aberto - Mostre a seus colegas que eles podem te abordar sempre que considerarem que algo impróprio foi dito ou feito. Demonstre que você está disposto a aprender e mudar.
  • Fale a respeito - Promova um ambiente de trabalho que inspire confiança, onde as pessoas se sintam seguras para compartilhar suas experiências e apontar quando se sentirem desconfortáveis com uma situação.
  • Expresse-se - E se você achar que foi vítima de uma micro iniquidade, não tenha medo de ser sincero e dizer como se sentiu. Procure alguém para conversar e fale sobre isso com seus líderes ou colegas de trabalho.


A palavra-chave para lutar contra as micro iniquidades é apoio: ouvir as ideias uns dos outros e não deixar os nossos valores de lado. Se você se sentiu magoado, nunca se esqueça de que não está sozinho e que isso pode afetar a todos.

Esta é uma jornada de autoconhecimento constante que todos nós precisamos embarcar, mas se fizermos isso juntos, faremos funcionar em qualquer lugar — on-line ou offline.

* Viviane Cury é vice-presidente de Recursos Humanos da Kimberly-Clark para a América Latina