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Opinião: Com 12 mulheres no 1º escalão, Biden impõe novo patamar ao mundo

Kamala Harris, a vice-presidente dos Estados Unidos, durante a cerimônia da posse - Getty Images
Kamala Harris, a vice-presidente dos Estados Unidos, durante a cerimônia da posse Imagem: Getty Images
Carla Lemos

Colaboração para Universa

21/01/2021 04h00

Finalmente há uma nova administração na Casa Branca. Joe Biden e Kamala Harris foram empossados na última quarta-feira, 20, e agora comandam o governo americano. Eles chegam se tornando o governo com mais mulheres em cargos de liderança da história dos Estados Unidos. A começar pela vice-presidente Kamala Harris, a primeira mulher, filha de imigrantes, de ascendência negra e indiana a ocupar o cargo. Dos outros 25 cargos do primeiro escalão da nova administração, 12 estarão sob o comando de mulheres.

Esta foi uma promessa de Biden feita na confirmação da sua eleição - quando disse "Eu prometo a vocês: será o gabinete baseado em raça, cor e gênero mais diverso que já existiu nos Estados Unidos"- e que coloca agora em execução, seguindo na verdade uma tendência global.

Cada vez mais governos têm se dedicado a alcançar a paridade de gêneros através de novas políticas públicas. Afinal, dados mostram que aumentar a participação das mulheres nos governos e empresas ajuda na economia e melhora os esforços para a prevenção e resolução de conflitos.

As pesquisadoras Karen Beckwith e Susan Dranceschet, autoras do livro "Cabinets, Ministers, and Gender", analisaram os gabinetes de sete governos democráticos entre presidencialistas e parlamentaristas e descobriram um padrão interessante: depois que se ultrapassa a barreira da única mulher da sala, um limite mínimo de mulheres se estabelece informalmente.

Karen e Susan chamam isso de 'chão de concreto' por estabelecer uma base firme e difícil de quebrar. Isso porque elas identificaram que os líderes são muito mais elogiados que criticados por nomear mais mulheres em seus gabinetes. Segundo elas, eles são mais aplaudidos por serem modernos e inclusivos.

A primeira mulher a ocupar um cargo no gabinete de um presidente americano foi Frances Perkins, em 1933, eleita secretária do Trabalho. Depois disso todos os presidentes incluíram uma mulher no seu gabinete. Sessenta anos depois, Bill Clinton empossou três mulheres em seu gabinete e isso criou um novo padrão seguido por todos os presidentes do país - inclusive Donad Trump.

Agora Biden estabelece um novo patamar na política americana que, sem dúvidas, vai refletir e influenciar governos globalmente. E ele tanto sabe disse que falou em seu discurso de posse que vai se guiar pelo "poder do exemplo".

As mulheres da administração Biden assumem áreas importantes e estratégicas como a secretaria de finanças, energia, interior, habitação e desenvolvimento urbano, a liderança do conselho de economistas, além da diretora da Inteligência Nacional e a embaixadora na Organização das Nações Unidas. E entre estas mulheres temos brancas, negras e até a primeira nativa da história a assumir esse status.

No segundo escalão também temos avanços importantes, como a primeira mulher transgênero a se tornar uma oficial federal. Rachel Levine, que é pediatra e psiquiatra e tem um trabalho voltado para a saúde LGBTQ+, maconha medicinal, saúde de adolescentes e distúrbios alimentares, vai ser assistente da secretária de Saúde.

Ver essa diversidade no gabinete ajuda o povo a se ver refletido na política - e isso muda tudo. Como a vice-presidente avisou: "Embora eu seja a primeira, eu não serei a última".

*Carla Lemos é feminista, carioca e produtora de conteúdo há mais de 15 anos. Observadora atenta das mudanças de comportamento das mulheres na sociedade, Carla comanda o podcast PRIMAS e é autora do livro "Use a Moda A Seu Favor". Em 2021, lançará seu novo livro, "As Mentiras que te Contaram Sobre Ser Mulher"