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Onde os astrônomos esperam achar vida fora da Terra?

Lilian Ferreira

Do UOL, em São Paulo

19/04/2013 06h00

Buscar astros que possam ter vida é uma das missões das agências espaciais. Apesar de não saberem ainda como a vida foi criada na Terra, os cientistas procuram por características essenciais para sua existência, como água, temperatura média e atmosfera.

"A vida como a conhecemos precisa de água líquida, carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre, além de uma fonte de energia", explica Kevin Hand, pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, na sigla em inglês), da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana).

Mas de encontrar todos estes elementos até a existência da vida, mesmo microbiana, há um grande salto. "Mesmo com todas as macromoléculas, falta o pulo do gato. Não sabemos ainda o que é que dá origem à vida. Precisamos de tempo e recursos para descobrir", diz Cassio Leandro Dal Ri Barbosa, coordenador do Observatório de Astronomia e Física Espacial da Univap (Universidade do Vale do Paraíba).

Marte

O planeta vermelho recebe desde agosto de 2012 o robô Curiosity, que busca evidências de que o planeta vermelho é ou já foi habitável. E as últimas descobertas dizem que pode ter existido vida microbiana no passado de Marte.

"Uma pergunta fundamental desta missão é se Marte pode ter sido propícia para a vida", disse Michael Meyer, cientista chefe do Programa de Exploração de Marte da Nasa, na época da descoberta. "Pelo que sabemos agora, a resposta é sim".

Os cientistas identificaram enxofre, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, fósforo e carbono no solo marciano. Porém, até achar vida há uma distância. "Em Marte, se existir água liquida, ela deve estar escondida em uma camada profunda. Não há condições de ter lagos, por exemplo, por isso, apesar de Marte ser o mais promissor, não há nada conclusivo ainda", diz Dal Ri Barbosa.

O professor da Univap faz uma brincadeira e diz que pode já ter existido vida em Marte em um passado muito distante e, por algum motivo, ela pode ter sumido: aí, os "marcianos" seríamos nós. 

Europa

A lua de Júpiter, Europa, é a segunda preferida quando se fala em vida extraterrestre. "Fora da Terra, a Europa é o lugar do nosso Sistema Solar com a maior probabilidade de se encontrar vida, e deveríamos explorá-la", afirmou Robert Pappalardo, cientista responsável pelo JPL, da Nasa, ao pedir mais investimentos em missões para lá.

A maior aposta de Europa é porque o satélite possui água líquida sob uma espessa camada de gelo da superfície, o que ainda não foi visto em Marte em grandes quantidades. 

"Baseado no que sabemos sobre a formação de Europa, nós temos todas as razões para acreditar que os elementos para a vida [CHNOPS e metais] existem e estão disponíveis nas pedras do mar. Acharmos que Europa tem um fundo do mar rochoso de silicato é um ponto importante", conta Hand ao UOL.

A descoberta recente de que há peróxido de hidrogênio (água oxigenada) em abundância em Europa é mais uma característica que facilitaria o aparecimento da vida. Se esse elemento se misturar com o grande oceano que há debaixo da crosta de gelo, poderia originar oxigênio, fonte de energia para formas simples de vida. 

"A fotossíntese, provavelmente, não é possível na lua por causa da camada de gelo, mas a quimiossíntese, geração de vida por elementos químicos dissolvidos na água, poderia ser facilitada pela presença de peróxido na superfície que seria misturado com o oceano", explica o astrobiólogo da Nasa.

Ele diz, ainda, que as observações mostraram a presença de CO2 em Europa, isto é, uma evidência de carbono, apesar de ele não ter sido visto na forma orgânica. Nitrogênio e fósforo não foram encontrados, mas as medições foram muito limitadas. "A sonda Galileo, lançada em 1989, foi a última a investigar Europa. Precisamos de uma nova missão", pede Hand.

Para o astrônomo brasileiro, a camada de mais de 19 quilômetros de gelo de Europa não vai ser perfurada. A água deve subir por rachaduras e, com ela, trazer amostras do que há no fundo deste oceano.

"A gente conhece vida baseada em água. Este é o paradigma atual para busca. E água em estado líquido; por isso, Marte e Europa são as mais promissoras", diz.

Titã

Titã, a maior lua de Saturno, é maior que Mercúrio e desperta o interesse dos cientistas por ser a única lua do Sistema Solar a ter nuvens e uma atmosfera similar a um planeta. A pressão é 60% maior do que a da Terra, similar a do fundo de uma piscina.

Titã é também o único lugar no sistema além da Terra a ter líquido estável na superfície, mas em vez de água, há mares de metano no satélite. E ele segue o ciclo como o da água por aqui, com chuvas e evaporação de lagos. Em 2008, foram encontradas evidências da existência de água liquida sob gelo no satélite -- boa parte dele é formada de água congelada. 

"Como há muito metano, a lua teria condições de abrigar vida fora do que a gente está acostumado. O metano líquido precisa de calor para trocas químicas, o que torna 'a vida' mais lenta ali", explica  Dal Ri Barbosa. 

Uma pesquisa no laboratório JPL simulou a atmosfera de Titã e descobriu que compostos orgânicos complexos devem estar presentes bem perto do solo, e não só em altas altitudes da atmosfera, o que indica uma nova área que pode conter material probiótico. A pesquisa foi publicada na Nature Communications no começo de abril deste ano.

Os cientistas sabem, desde a missão Voyager no início de 1980, que Titã tem uma atmosfera densa e nebulosa com hidrocarbonetos, incluindo metano e etano. Estas moléculas orgânicas simples podem evoluir para moléculas de ar com ligações carbono-nitrogênio-hidrogênio. 

Em estudos anteriores, esses elementos foram expostos à água líquida e, com o tempo, formaram moléculas biologicamente importantes como aminoácidos e nucleotídeos, bases da formação do RNA.

Os cientistas sabem que a atmosfera é favorável à formação de moléculas de complexos orgânicos. Agora, eles acreditam que a pouca radiação que a lua recebe do Sol é suficiente para iniciar a criação de complexos químicos orgânicos também no solo ou em meio líquido. 

Io e Enceladus 

As luas Io, de Júpiter, e Enceladus, de Saturno, também são apontadas como potenciais locais para o aparecimento da vida porque foram encontrados sinais de água.

Io possui características diferentes das demais luas: sua superfície é cheia de vulcões e rica em enxofre. Por outro lado, o satélite parece possuir água e atmosfera (fraca, mas existe), de acordo com dados da sonda Galileo, e poderia ter uma forma de vida diferente das que estamos acostumados na Terra.

Já em Enceladus foram encontrados gêiseres de água (em vapor). O satélite é uma bola de gelo, mas acredita-se que pode existir um mar abaixo de sua superfície. A lua é tão branca que reflete cerca de 99% da luz que recebe do planeta, só uma pequena porção dela é iluminada diretamente pelo Sol; e, por isso, a temperatura na superfície é de -201º Celsius. Apesar disto, o polo Sul da lua é mais quente, o que indica uma fonte de calor interna.

Fora do Sistema Solar

Já fora do Sistema Solar, os grandes candidatos a abrigar vida são os "Keplers", exoplanetas descobertos pelo telescópio da Nasa.

No total, o Kepler já descobriu mais de 2.740 planetas em potencial, sendo 30 deles em zonas habitáveis. Esta região é delimitada pelo brilho da estrela e distância ideal para que a temperatura possibilite a existência de água líquida no planeta. Entretanto, não há análises nos planetas para descobrir sua constituição.

Outro destes exoplanetas em zona habitável é o Gliese 581d. Detectado em 2007, a 20 anos-luz de distância, ele só foi considerável propenso para a vida em 2011 pelo Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) da França. 

Vida inteligente?

Para terminar, e vida inteligente, podemos encontrar em algum lugar do Universo? Dal Ri Barbosa diz que seria muito desperdício de espaço não termos outras formas de vida inteligente.

"A metodologia atual não tem grandes chances de dar certo. Imagina alguém mandar sinal bem na hora que a gente está olhando? Temos que considerar que a informação viajaria na velocidade da luz no máximo e, se vier de 80 mil anos-luz de distância, demoraríamos 80 mil anos para reconhecer um sinal. As escalas no espaço são muito grandes", finaliza.