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Isaac Asimov: as previsões para 2019 feitas em 1983 pelo gênio da ficção científica

Isaac Asimov é um dos autores mais famosos de ficção científica e se inspirou, na década de 80, em George Orwell para fazer previsões - BBC
Isaac Asimov é um dos autores mais famosos de ficção científica e se inspirou, na década de 80, em George Orwell para fazer previsões Imagem: BBC

04/01/2019 07h56

Inspirado em George Orwell, escritor publicou na década de 80 como imaginava o mundo 35 anos depois; confira o que ele previu e o que de fato aconteceu.

Em 31 de dezembro de 1983, o escritor de ficção científica Isaac Asimov fez mais do que apenas resoluções de Ano Novo.

Naquele dia, ele publicou um texto no jornal The Star of Canada, no qual fez previsões sobre como seria o mundo em 35 anos, ou seja, em 2019.

Asimov (1920-1992) escolheu esse ano inspirado no escritor George Orwell, que publicou, em 1949, seu famoso romance 1984. Em seu livro, Orwell imaginou como seria o mundo 35 anos depois.

O texto de Asimov faz previsões em três áreas: guerra nuclear, informatização e exploração espacial.

Agora que 2019 chegou, podemos tirar a prova: o que ele errou e acertou?

Ameaça nuclear

10.ago.2017 - Imagem ilustrativa - Explosão nuclear, bomba atômica - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Asimov escolhe iniciar o texto afastando a possibilidade de uma guerra nuclear
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Asimov começa dizendo ter receio de um possível confronto entre a então União Soviética e os Estados Unidos, mas pressupõe que não haveria, em 2019, uma guerra nuclear entre as duas potências - mesmo reconhecendo que isso "não é necessariamente uma suposição segura".

Ele diz que faria pouco sentido partir de um pressuposto mais radical, porque, conforme diz, se houvesse um conflito do tipo, "não haveria qualquer utilidade em discutir como a vida seria naquele ano".

"Muitos poucos de nós, ou de nossos filhos e netos, estariam vivos", conclui.

Embora não tenha havido uma guerra nuclear, a possibilidade de um conflito nuclear sempre existirá enquanto existirem armas nucleares ou programas para o desenvolvimento destas, não apenas na Rússia e nos EUA, mas em outros países, como Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.

Informatização

PC antigo para ilustrar matéria BBC - Reprodução - Reprodução
Na década de 80, escritor vislumbrou o poder revolucionário dos computadores
Imagem: Reprodução
"Um produto secundário essencial, o objeto computadorizado móvel, ou robô, já estará entrando na indústria e, no decorrer da próxima geração, nos lares."

Embora mencione a palavra "móvel", o escritor não se referia aos smartphones que hoje estão nas mãos de boa parte da população mundial, mas aos computadores.

Ainda que os computadores tenham revolucionado o mundo há vários anos, o panorama que ele previu foi bem-sucedido.

"A crescente complexidade da sociedade fará com que seja impossível prescindir deles (...) As partes do mundo que ficarem para trás nesse sentido vão sofrer; como resultado, seus governantes clamarão pela informatização como clamam hoje por armas".

Nesse ponto, Asimov também adiantava um dos temores do mundo do trabalho contemporâneo: o de robôs assumirem empregos antes destinados a seres humanos.

"Não que a informatização vá significar menos empregos no conjunto, uma vez que o progresso tecnológico sempre gerou, desde o passado, mais empregos do que eliminou."

Por essa razão, Asimov aponta para um sistema educacional que se concentra na "alfabetização informática" e que ensine como lidar com um mundo de "alta tecnologia".

"As escolas continuarão a existir, mas um bom professor não poderá fazer nada melhor do que inspirar a curiosidade que um estudante interessado pode satisfazer em casa no seu computador."

Essa visão vai ao encontro dos cursos online ou tutoriais no YouTube, hoje amplamente disponíveis na rede.

"Finalmente, haverá a oportunidade para todos os jovens e, na verdade, para todas as pessoas aprenderem o que quiserem, em seu próprio tempo, ritmo e maneira."

Para Asimov, em 2019, o mundo já teria terminado a fase de transição para a informatização e entraria em uma nova etapa de "melhorias permanentes" em vários aspectos. Esta perspectiva otimista, no entanto, vem acompanhada de consequências negativas para o meio ambiente.

"Os efeitos da irresponsabilidade humana em termos de desperdício e poluição se tornarão cada vez mais evidentes e insuportáveis", escreveu, considerando, porém, que "os avanços tecnológicos colocarão em nossas mãos ferramentas que ajudarão na reversão da deterioração do meio ambiente".

A conquista espacial

Chegada do homem à Lua - para ilustrar matéria da bbc - NASA/ Cortesia: Daniel Blau Munique/Londres - NASA/ Cortesia: Daniel Blau Munique/Londres
Talvez as previsões de Asimov sobre a exploração espacial tenham sido muito otimistas
Imagem: NASA/ Cortesia: Daniel Blau Munique/Londres

"Até 2019, teremos retornado à Lua vigorosamente."

Neste ponto, Asimov estava errado, porque o ser humano não pisa na Lua desde a última missão Apollo, em 1972.

Em geral, suas previsões espaciais talvez tenham sido otimistas demais.

Asimov supôs que, em 2019, estaríamos construindo casas no espaço, desenvolvendo estações de mineração na Lua e usando esses materiais extraídos para construir artefatos que giram ao redor da Terra.

"Uma dessas estruturas que poderia ser concluída em 2019 seria o protótipo de uma estação de energia solar, equipada para coletar energia solar, transformá-la em micro-ondas e transmiti-la à Terra", imaginou Asimov.

Todos esses projetos foram estudados, mas ainda estão longe de serem concretizados.

Seu atraso, no entanto, é acompanhado por uma mensagem que parece um chamado pela harmonia na Terra.

"Seria o começo de uma era na qual uma parte importante da energia da Terra viria do Sol, sob condições que não farão dela propriedade de qualquer nação, mas do mundo como um todo", escreveu.

"Tais estruturas seriam, por si só, garantias de paz mundial e cooperação contínua entre as nações."