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Próximo ato da Netflix: alimentar seu serviço com seus próprios filmes

16/05/2018 11h45

Por Lisa Richwine

LOS ANGELES (Reuters) - À medida que os estúdios de Hollywood lançam seus campeões de bilheteria nas salas de cinema no verão do Hemisfério Norte, a empresa Netflix está tentando dar aos cinéfilos motivo para ficarem em casa.

O serviço de streaming está a caminho de lançar pelo menos 86 filmes originais Netflix em 2018, disse a empresa à Reuters. Isso excede a produção programada dos quatro principais estúdios de cinema tradicionais combinados, assim como o recorde anterior de 61 filmes do Netflix no ano passado.

A estratégia agressiva é destinada em parte para responder as queixas de que o acervo de filmes do serviço é obsoleto, um problema que pode ser exacerbado pela decisão da Walt Disney de deixar de fornecer novos filmes para os clientes do Netflix nos EUA em 2019. Comprar filmes de outros estúdios também se tornou mais caro à medida que a competição em streaming e intensificou.

Ter mais de seus próprios filmes está valendo a pena, disse a Netflix. A empresa disse à Reuters que os 33 filmes Netflix lançados até agora este ano foram assistidos mais de 300 milhões de vezes por mais de 80 milhões de contas de usuários em todo o mundo. Essa é uma audiência média de mais de 9 milhões de espectadores por filme.

Executivos disseram que o grande número de filmes é uma resposta à grande variedade de gostos que eles estão tentando satisfazer, e que os dados que eles coletam sobre os hábitos de visualização dos assinantes fornecem informações que os ajudam a escolher filmes.

Dos 125 milhões de clientes da Netflix, 55 por cento vivem fora dos Estados Unidos, e a empresa está contando com mercados estrangeiros para impulsionar o crescimento futuro.

"É arte e ciência", disse Ian Bricke, que supervisiona o licenciamento e a produção de filmes independentes da Netflix. "Nosso público global é cada vez mais diversificado. Estamos constantemente aprendendo e tentando ficar mais inteligentes."

FARRA DE GASTOS

A companhia não quis dizer quanto está gastando na produção de filmes próprios, mas orçou gastos de 8 bilhões de dólares em programação em 2018, um número que inclui séries de TV e filmes originais, além de conteúdo licenciado de outros.

Os gastos pesados resultarão em um fluxo de caixa livre negativo de até 4 bilhões de dólares este ano, disse a empresa. Os investidores até o momento endossam a estratégia, já que o número de assinantes da Netflix continua crescendo, levando as ações a acumularem alta de 70 por cento este ano.

Cerca de um terço da audiência da Netflix é para filmes, disseram executivos da empresa, enquanto o resto é para ofertas televisivas, incluindo as séries originais aclamadas da empresa, como "House of Cards" e "Stranger Things".

A recepção crítica dos filmes originais da Netflix tem sido mista, e alguns diretores proeminentes rejeitam a ideia de fazer filmes que serão vistos principalmente na telinha.

"Toda a minha vida foi gasta tentando dar ao público algo em um grande, grande espaço", disse Steven Spielberg à Reuters. "Eu amo todo o sentimento de interação social. Você sai de sua casa, estaciona seu carro, vai a algum lugar."

Ao contrário dos estúdios tradicionais, que têm direcionado os recursos cada vez mais para filmes de ação caros e sequências, a Netflix está produzindo e adquirindo filmes de vários gêneros, desde dramas adolescentes e comédias românticas até filmes de terror e aventuras de ficção científica.

Pelo menos 17 dos filmes da Netflix deste ano serão em outros idiomas além do inglês, incluindo francês, árabe, húngaro, japonês e russo. Oito ou mais serão em espanhol.

Alguns filmes da Netflix também chegam a um número limitado de cinemas. Em 2017, a Netflix lançou 33 filmes em cinemas em 40 cidades ao redor do mundo, disse o diretor de conteúdo Ted Sarandos à Reuters, e alguns ficaram em cartaz por até sete semanas.

As exibições em salas de cinema ajudam a diminuir as preocupações de alguns cineastas e atores. Mas a companhia insiste que seus filmes estejam disponíveis aos assinantes do serviço de streaming no mesmo dia em que eles estrearem nos cinemas, levando a maioria das grandes redes de salas de cinema a rejeitar os filmes da Netflix.

(Reportagem adicional de Alicia Powell em Nova York)