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Jeff Machado: como chips de cães foram cruciais para achar ator assassinado

Jeff Machado tinha oito cachorros de raça; abandono dos animais deu pistas sobre desaparecimento - Reprodução/Instagram
Jeff Machado tinha oito cachorros de raça; abandono dos animais deu pistas sobre desaparecimento Imagem: Reprodução/Instagram

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo (SP)

20/06/2023 04h00Atualizada em 20/06/2023 13h31

Pequenos e invisíveis dispositivos eletrônicos foram fundamentais não só para confirmar o desaparecimento do ator Jeff Machado, mas para ajudar a localizar seu corpo, após ser assassinado no Rio de Janeiro aos 44 anos. Este foi o papel dos microchips dos cachorros do ator de "Mulheres Apaixonadas", "Vai na Fé" e "Terra e Paixão" (TV Globo).

Ele desapareceu em janeiro, mas sua família, em Santa Catarina, continuou recebendo mensagens de WhatsApp por alguns dias. Enviadas por um dos criminosos que se passava por ele para acobertar o crime, afirmavam que Jeff estava na cidade de São Paulo.

Mas os assassinos não contavam com um detalhe: Jeff era muito apegado a seus oito cães da raça Setter, que foram sendo encontrados, um a um, vagando por bairros da zona oeste do Rio, região onde ele morava.

Acionada pelas pessoas que encontraram os primeiros cães, a ONG Indefesos, de proteção animal, buscou localizar os tutores dos animais. A ideia inicial era responsabilizá-los por abandono e maus-tratos.

A história ganhou novos contornos à medida que mais cães, de uma raça peculiar e cara, eram achados nas redondezas. No fim das contas, sete dos oito bichinhos de Jeff foram localizados — dois morreram e um permanece desaparecido.

Desvendando o crime

Após encontrar os quatro primeiros Setters, a Indefesos acessou os números dos chips. Depois, consultou os códigos em um banco de dados que reúne informações de cães Setters no Brasil e descobriu que pertenciam à mesma pessoa: Jeff Machado.

A ONG entrou em contato pelo celular cadastrado para pedir providências. Assim como ocorria com os familiares a essa altura, recebeu estranhas respostas, apenas por texto.

"O [suposto] tutor nos informou que precisou viajar a trabalho e que deixou os cães com uma amiga, que teria deixado os cães fugirem", disse a ONG em uma postagem nas redes sociais. Ao saber, pelas redes sociais e por amigos do ator, que ele tinha mais quatro animais, a Indefesos começou a buscar ativamente por eles na região.

Quando a ONG insistiu junto à tal amiga sobre o que havia acontecido, ela disse que Jeff já estava planejando abandonar os cães. Mas a família e os reais amigos sabiam que o ator jamais faria isso. A partir daí, tiveram certeza de que era outra pessoa falando com eles pelo WhatsApp.

Como os cachorros foram encontrados em diferentes pontos da zona oeste da cidade, ficou claro que, seja o que tinha acontecido, Jeff continuava por lá —ou seja, não estava em São Paulo, como as mensagens diziam, e nem em um sítio na região de Jacarepaguá, onde a falsa amiga dizia estar. Isso foi fundamental para a polícia direcionar e intensificar as buscas.

Em maio, quatro meses após o desaparecimento do ator, a polícia achou os restos mortais de Jeff em um baú enterrado em uma casa no bairro de Campo Grande. O assassinato teria acontecido em 23 de janeiro e estão envolvidos o produtor de TV Bruno de Souza Rodrigues e o garoto de programa Jeander Vinícius, ambos presos temporariamente.

Como funciona o chip?

O microchip não é um GPS ou rastreador. Ainda que não forneça a localização do animal em tempo real, é essencial para encontrar o tutor de um bicho perdido, para responsabilizar quem abandona animais e até para descobrir casos de roubo.

Ele é como uma versão digital da plaquinha de identificação da coleira. Ele carrega um código, que revela informações como:

  • nome do animal;
  • nome do tutor;
  • endereço;
  • telefone para contato.

Do tamanho de um grão de arroz, o microchip é implantado com um seringa especial sob a pele de cães e gatos, na altura da nuca. É um procedimento rápido e simples, como tomar uma vacina. Hoje há também nanochips, ainda menores.

Implante de microchip - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Implante de microchip
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Após ser colocado, não precisa de qualquer manutenção. Ele não possui bateria e é ativado apenas quando um leitor específico, encontrado em clínicas veterinárias e órgãos das prefeituras, é aproximado.

O pequeno dispositivo eletrônico usa a tecnologia sem fio NFC (Near Field Communication, ou comunicação por campo de proximidade). É a mesma que permite:

  • troca de arquivos entre celulares próximos (como o Nearby Share, do Google);
  • pagamento por aproximação, seja quando a operação é feita por cartão físico ou por meio de smartphone relógios inteligentes;
  • recarga de cartões de transporte;
  • dispositivos de rastreamento, como a AirTag, da Apple;
  • abertura de fechaduras inteligentes usando tags;
  • crachás de acesso em algumas empresas;
  • controle de passaporte (os brasileiros emitidos desde 2010 possuem chip)

Os cachorros

Jeff Machado tinha oito cães da raça Setter - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jeff Machado tinha oito cães da raça Setter, todos com nomes de artistas brasileiros
Imagem: Reprodução/Instagram

Batizados em homenagem a músicos da MPB, todos possuíam microchip. Veja a cronologia dos resgates:

  • 30/1 - Cazuza, em Santa Cruz
  • 31/1 - Vinícius de Moraes, em Santa Cruz
  • 1/2 - Nando Reis e Tim Maia, em Santa Cruz
  • 3/2 - Elis Regina e Rita Lee, em Paciência; Rita morreu atropelada
  • 4/2 - Caetano Veloso, em Campo Grande (mesmo bairro onde foi achado o corpo de Jeff); morreu no dia seguinte
  • Gilberto Gil, o oitavo, nunca foi encontrado