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54 anos da Apollo 11: as quatro pessoas que salvaram o 1º passo na Lua

O astronauta Buzz Aldrin, da Apollo 11, caminha na Lua em 20 de julho 1969; Neil Armstrong tirou a foto - Nasa
O astronauta Buzz Aldrin, da Apollo 11, caminha na Lua em 20 de julho 1969; Neil Armstrong tirou a foto Imagem: Nasa

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo

20/07/2023 04h00Atualizada em 21/07/2023 12h29

Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade.
Neil Armstrong

A célebre frase foi dita há exatos 54 anos, quando o astronauta se tornou o primeiro ser humano a pisar na Lua, seguido por Buzz Aldrin. Essa é a parte mais conhecida da missão Apollo 11, da Nasa, que também contou com o piloto Michael Collins.

O que nem todo mundo sabe é que esta conquista lunar talvez não tivesse entrado para a história sem a ajuda de quatro personagens.

Antes de falar deles, é bom repassar alguns detalhes:

  • Apollo 11 era o nome da missão, que lançou ao espaço uma complexa espaçonave, que se dividiu em duas ao chegar na órbita da Lua;
  • Eagle era o módulo lunar, que desacoplou e foi à Lua com os dois astronautas. Dele vem outra icônica frase de Armstrong: "The Eagle has landed" ("A águia pousou"), ao confirmar que estavam em segurança. Foi abandonado na órbita lunar quando eles retornaram;
  • Columbia era o módulo de comando, ou seja, a cápsula em que os três astronautas viajaram pelo espaço, e onde Collins aguardou por Armstrong e Aldrin enquanto eles exploravam a superfície lunar. É a única parte que retornou à Terra;
  • Acoplado a ela havia também um módulo de serviço, com sistemas de propulsão e suporte de vida, que foi descartado no processo de reentrada na atmosfera terrestre.

Lançada em 16 de julho de 1969, pelo poderoso foguete Saturno V, do Centro Espacial Kennedy, na Flórida (EUA), a Apollo 11 pousou na Lua quatro dias depois, na região conhecida como Mar da Tranquilidade. Armstrong e Aldrin passaram 21 horas e 36 minutos por lá e então retornaram à Terra com Collins. A missão terminou com um mergulho no Oceano Pacífico em 24 de julho de 1969.

A jornada teve alguns momentos tensos, em que coisas quase deram muito errado, colocando tanto a missão quanto a vida dos astronautas em risco. Mas com coragem, competência e criatividade, algumas pessoas conseguiram garantir o sucesso da Apollo 11.

Conheça quatro dessas histórias:

1 - Jack Garman: jovem engenheiro

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O engenheiro de computação Jack Garman recebe homenagem da Nasa pela participação no programa Apollo
Imagem: Nasa

Sete minutos antes do pouso, um alarme apitou, e a descida à Lua quase foi abortada. O número 1202 piscava no painel, e os astronautas não sabiam o que significava.

A decisão ficou nas mãos do centro de controle da Nasa, em Houston, no Texas. Em meio a momentos de tensão, quem deu o sinal verde não foram os chefões, mas sim um engenheiro de computação de 23 anos, Jack Garman.

O jovem era a pessoa certa para decidir: ele havia passado por simulações e estudados os mais diversos cenários de erro no computador, e sabia que o alarme não era crítico.

Em segundos, a mensagem percorreu a hierarquia de comando da Nasa, sem questionamentos, até chegar aos astronautas, que foram autorizados a seguir viagem.

2 - Margaret Hamilton: programadora

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Margaret Hamilton com o código da Apollo 11, aos 32 anos de idade
Imagem: Nasa

Faltando três minutos para o pouso, novos alarmes: o computador que guiava a descida à Lua estava sobrecarregado — ele tinha apenas 32.768 bits de RAM. Nessas condições, um sistema comum poderia travar ou apagar, o que naquela situação poderia ser fatal.

Para sorte da Nasa, o código havia sido escrito por Margaret Hamilton, pioneira cientista da computação, então com 32 anos de idade. Ela criou um sistema que era capaz de reconhecer erros inesperados enquanto orientava a nave.

O alarme disparou devido a um pequeno erro humano. Os astronautas ativaram um radar desnecessário naquele momento — um botão que deveria ficar em "manual" foi deixado em "auto". Graças a Hamilton, o sistema ignorou isso e priorizou a tarefa mais importante: se preparar para o pouso.

Se o computador não tivesse reconhecido o problema e tomado medidas de recuperação, duvido que a Apollo 11 teria sido este pouso tão bem-sucedido na Lua.
Margareth Hamilton, em texto de 1971

Em 2016, ela recebeu uma medalha das mãos do presidente Barack Obama, que disse: "Nossos astronautas não tinham muito tempo, mas felizmente eles tinham Margaret Hamilton".

Outra curiosidade: foi ela que cunhou o termo "engenharia de software", para descrever melhor a profissão que estava florescendo.

3 - Buzz Aldrin: astronauta

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Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin em julho de 1969, antes da missão Apollo 11
Imagem: Nasa

Na hora de retornar para a nave Columbia, em que Collins os aguardava na órbita da Lua, mais um problema. Depois de um passeio de cerca de três horas pela Lua, para coletar rochas e fincar a bandeira dos Estados Unidos, Aldrin e Armstrong voltaram ao módulo Eagle.

Quando subiram as escadas, a mochila de Aldrin bateu no painel elétrico e quebrou um dos principais interruptores, justamente o que acionava o motor de subida, necessário para saírem da Lua. Eles tinham poucos recursos disponíveis e precisaram pensar rápido.

Aldrin deu uma de McGyver: usou o corpo de uma caneta hidrográfica para ativar o mecanismo.

Eu enfiei ela lá. E Houston disse: 'Oba, temos um circuito ativo'. Então estávamos prontos para prosseguir com a contagem regressiva.
Buzz Aldrin, na época

De tão importante, a caneta e o botão quebrado estão até hoje em exposição em um museu da aviação em Seattle (EUA).

4 - Greg Force: garoto de 10 anos

greg - Divulgação/Nasa - Divulgação/Nasa
Greg Force, filho de 10 anos de Charles Force, diretor da base da Nasa em Guam, na Micronésia; o garoto foi crucial para a Apollo 11 voltar em segurança à Terra
Imagem: Divulgação/Nasa

Quando os três astronautas estavam retornando à Terra, um último obstáculo: a antena que ajudaria a guiar a nave emperrou. Localizada na base da Nasa em Guam, uma ilha na Micronésia, ela era responsável por fazer a comunicação com os astronautas e a telemetria necessária para um pouso seguro.

Para consertar o mecanismo que fazia a antena girar para "seguir" a nave, seria preciso desmontar todo o equipamento. Isso levaria dias — mas os técnicos da Nasa só tinham algumas horas. Passar uma graxa poderia resolver, mas o espaço entre as peças era pequeno demais para um adulto se esgueirar e alcançar a engrenagem defeituosa.

Passava das 22h e o diretor da base, Charles Force, tomou uma medida drástica: buscou seu filho de 10 anos em casa. O pequeno Greg não teve medo, enfiou seu bracinho pelo buraco de 6 cm e fez o trabalho.

Meu pai me explicou por que era importante. Mas tudo o que fiz foi colocar minha mão e passar graxa. Mesmo assim, tenho orgulho de ter sido uma pequena parte disso.
Greg Force, em entrevista à CNN quatro décadas depois

A antena voltou a funcionar e, algumas horas depois, a nave Columbia mergulhou com segurança no Oceano Pacífico. Em novembro, os astronautas visitaram a base e fizeram questão de agradecer pessoalmente ao garoto.