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'Mudanças galopantes': IA destrói, mas, transforma empregos; o que fazer?

Mãos humana e robótica se cumprimentam - iStock
Mãos humana e robótica se cumprimentam Imagem: iStock

José Pastore*

Especial para Tilt

06/04/2023 04h00

O ChatGPT foi o empurrão que faltava para o surgimento de uma verdadeira guerra contra a inteligência artificial. Encabeçada por Elon Musk e Yuval Harari, foi lançada uma carta aberta pedindo a suspensão das pesquisas até que sejam implantados sistemas de segurança capazes de deter as "dramáticas perturbações econômicas e políticas que a inteligência artificial pode causar."[1] A principal preocupação dos signatários é com a destruição de empregos.

Não há dúvida. A revolução tecnológica ganhou velocidade com a inteligência artificial. Mas, como toda revolução, a gente sabe como começa, mas não sabe como termina. A destruição e a criação de empregos são assuntos muito ventilados, mas pouco explicados. Na literatura especializada, há gosto para tudo, desde os que vêm uma irremediável catástrofe da humanidade até os que enxergam um fantástico salto de desenvolvimento.

No momento, o que mais atemoriza é a capacidade do ChatGPT raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas e aprender com o seu próprio uso. Mas, quando se busca entender os seus impactos no mundo do trabalho, o cenário se mostra incerto e confuso.[2] Os empregos destruídos são visíveis enquanto os a serem criados são invisíveis. Não sabemos sequer os nomes das profissões que vêm pela frente.

Outro temor generalizado refere-se à capacidade de a inteligência artificial realizar atividades criativas até então consideradas exclusivas dos seres humanos como escrever uma poesia ou uma carta de amor ou compor uma música bonita. Será que vamos ter a concorrência das máquinas no processo de criar, inventar e sentir?

pastore - Divulgação - Divulgação
José Pastore, professor da FEA-USP, é membro da Academia Paulista de Letras e presidente do Conselho de Emprego e Administração da Fecomercio-SP.
Imagem: Divulgação

Os impactos no mercado de trabalho são complexos e difíceis de serem antecipados com precisão. Vários estudos analisam o grau de risco de sobrevivência das atividades humanas em face das tecnologias.[3] Em geral, esses estudos terminam com uma platitude segundo a qual o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho depende de muitos fatores como, por exemplo, a velocidade e a extensão da automação, o custo e a tributação do trabalho, a existência de mecanismos de reeducação continuada e vários outros.[4]

Em vista de tanta disparidade de resultados e previsões, será melhor esperar a chegada dos impactos? Nada disso, pois as tecnologias já estão mudando o modo de trabalhar de várias profissões. Precisamos tomar providências urgentes para melhorar a capacidade das pessoas se repaginarem para se ajustar às mudanças galopantes. Afinal, o mercado de trabalho já foi globalizado. As pessoas trabalham de qualquer lugar para qualquer outro lugar, em todos os horários e sem sair de onde está.

O economista Daron Acemoglu é de opinião que a destruição de empregos necessita de ação imediata.[5] Esse é também o espírito dos signatários da mencionada carta. Eles querem a criação, em seis meses, de uma governança que tenha "dentes afiados" para impedir a propagação das várias ameaças. Além de oportuno, esse grito de alerta terá que ser combinado com uma expressiva melhoria da qualidade da educação, com a expansão dos programas de formação profissional e com a modernização das novas formas de contratação do trabalho. Nada disso se consegue em seis meses, mas temos de começar já.

Bibliografia:

  1. "Musk, Harari e mais de mil especialistas pedem em carta pausa na Inteligência Artificial", UOL, 29/03/2023.
  2. David Autor, "The labor market impacts of technological change: from unbridled enthusiasm to qualified optimism to vast uncertainty," Washington: National Bureau of Economic Research, 2022.
  3. Carl B. Frey e Michael A. Osborne, "The future of employment: how susceptible are jobs to computerization?" London: Oxford Martin Programme on Technology and Employment , 2013
  4. Ali Zarifhonarvar, "Economics of ChatGPT: a labor market view on the occupational impact of artificial intelligence", Bloomington: Indiana University, 2023.
  5. Daron Acemoglu, "Harms of AI." Washington: National Bureau of Economic Research, 2021.

*José Pastore é professor da FEA-USP e Membro da Academia Paulista de Letras. É presidente do Conselho de Emprego e Administração da Fecomercio-SP.