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Planeta 'marshmallow' próximo a estrela anã vermelha intriga cientistas

Planeta gasoso gigante com a densidade de um marshmellow intriga cientistas - NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spa
Planeta gasoso gigante com a densidade de um marshmellow intriga cientistas Imagem: NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spa

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

24/10/2022 13h56

O planeta "TOI-3757 b" recém-descoberto por astrônomos possui algumas características curiosas, como ser maior até do que Júpiter. Mas isso não é nada comparado ao seu apelido "marshmallow".

O exoplaneta foi revelado pelo telescópio do Observatório Nacional Kitt Peak, no Arizona, Estados Unidos. A equipe de especialistas calculou a densidade do "TOI-3757 b" usando uma análise do diâmetro e massa.

O resultado dos dados, publicado no site do Laboratório de Pesquisa Astronômica, NOIRLab, apontou para uma densidade de menos que a metade de Saturno, planeta menos denso do nosso sistema solar.

Ele tem sido curiosamente comparado ao doce por sua característica peculiar: é o corpo celeste gasoso com menor densidade já observada orbitando uma estrela anã vermelha — mais "fria" que o Sol e outras estrelas maiores. Para ter noção do que isto significa, imagine que, se o colocássemos inteiro em uma piscina gigante, ele flutuaria na água.

Leve, rápido e incomum

Algumas características do "marshmallow" gigante intrigam os pesquisadores. A começar por suas dimensões robustas: o "TOI-3757 b" possui 150 mil quilômetros de largura — para se ter uma ideia, a Terra tem meros 12.756 km de diâmetro.

Além disso, um "ano" no corpo celeste passa voando. Isso porque o movimento de orbita na estrela anã vermelha é muito rápido — uma volta inteira se completa em apenas 3,5 dias.

O que realmente intriga os cientistas é a permanência do "planeta marshmallow" ao redor desta estrela anã, que é bastante ativa. O astro está em constante atividade, emitindo explosões poderosas, capazes até de tirar um planeta de sua atmosfera. Na teoria, isto seria inóspito para abrigar um planeta com uma densidade tão baixa. Mas, pelo jeito, o "TOI-3757 b" chegou para quebrar padrões.

"Planetas gigantes em torno de estrelas anãs vermelhas têm sido tradicionalmente considerados difíceis de formar", disse Shubham Kanodia, pesquisador do Laboratório de Ciência da Terra e Planetas, da Instituição Carnegie, em seu comunicado no NOIRLab.

Estrelas anãs vermelhas são os membros menores das chamadas "estrelas da sequência principal". Elas convertem hidrogênio em hélio por meio da fusão nuclear, mas em comparação com o nosso Sol, elas são muito mais frias.

Como isso é possível?

Os cientistas revelam que há algumas hipóteses para a existência dessa união tão desfavorável. A baixa densidade do TOI-3757 b pode ser explicada pela pouca presença de elementos pesados no núcleo rochoso, com impacto na densidade geral do "planeta marshmallow" após a formação.

A segunda possibilidade se trata da órbita do exoplaneta. Os cientistas sugerem que ela seja ligeiramente elíptica — ou seja, o corpo celeste se move de forma oval. Dessa forma, em alguns momentos o corpo celeste está mais afastado da estrela, e em outros mais perto. E esse superaquecimento durante seu trajeto pode acabar fazendo com que a atmosfera do planeta inche.

"Encontrar mais sistemas desse tipo com planetas gigantes — que já foram teorizados como extremamente raros em torno de anãs vermelhas — faz parte do nosso objetivo de entender como os planetas se formam", completa Kanodia.

A descoberta é importante para dar mais um passo em direção ao entendimento de exoplanetas, inclusive os revelados pela missão TESS, da NASA. O Telescópio Espacial James Webb (JWST) tem como missão acompanhar e caracterizar as atmosferas desses planetas, e esses dados trazem informações para astrônomos sobre suas composições e como eles se formaram. No caso dos corpos celestes rochosos, é possível saber se eles são potencialmente habitáveis, e até se podem suportar vida.

(*) Com informações de Space.com