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A Lua está se afastando da Terra há 2,5 bilhões de anos; entenda

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo

23/10/2022 19h01Atualizada em 26/10/2022 10h29

A Lua é nossa grande companheira, mas está cada vez mais longe. Paineis refletores instalados na superfície lunar, em 1969, pelos astronautas das missões Apollo, da Nasa, mostram que satélite está se asfatando 3,8 centímetros por ano.

Se projetarmos esta taxa para o passado, chegaríamos a uma colisão com a Terra, há 1,5 bilhão de anos. Mas sabemos que a Lua se formou há cerca de 4,5 bilhões de anos — ou seja, a velocidade do distanciamento não foi sempre assim.

Por isso, cientistas usam uma combinação de técnicas e dados para tentar desvendar as origens do Sistema Solar. Recentemente, encontraram um bom local para desvendar a longa relação entre a Terra e a Lua.

E não é no espaço, mas aqui mesmo: em rochas terrestres.

Parque Nacional Karijini - Frits Hilgen/Joshua Davies/Margriet Lantink - Frits Hilgen/Joshua Davies/Margriet Lantink
Penhascos de Joffre Gorge, no Parque Nacional Karijini
Imagem: Frits Hilgen/Joshua Davies/Margriet Lantink

Padrão das camadas

No Parque Nacional Karijini, na Austrália, alguns desfiladeiros exibem camadas organizadas de sedimentos de 2,5 bilhões de anos.

São faixas distintas de rochas duras, marrom-avermelhadas, compostas por minerais ricos em ferro e sílica. Uma vez, estiveram no fundo do oceano, e agora são encontradas nas partes mais antigas da crosta terrestre.

Em intervalos regulares, há camadas mais escuras, mais finas e macias, ricas em argila. Essa alternância é atribuída a mudanças climáticas passadas, causadas por variações na excentricidade (mais ou menos "oval") da órbita da Terra.

Olhando mais de perto, há uma variação adicional, mais clara, em menor escala. As superfícies rochosas, que foram polidas pela água sazonal do rio que atravessa os desfiladeiros, revelam um padrão de camadas alternadas em branco, marrom-avermelhado e cinza-azulado.

Karijini National Park - Frits Hilgen/Joshua Davies/Margriet Lantink - Frits Hilgen/Joshua Davies/Margriet Lantink
Camadas ritmicamente alternadas de rochas coloridas, com uma espessura média de cerca de 10 cm (setas); alternâncias, interpretadas como sinais do ciclo de precessão da Terra, nos ajudam a estimar a distância entre a Terra e a Lua há 2,46 bilhões de anos.
Imagem: Frits Hilgen/Joshua Davies/Margriet Lantink

O que explica podem ser os chamados "ciclos de Milankovitch", descritos em 1972 pelo geólogo australiano Alec Francis Trendall.

Mudanças climáticas cíclicas

O ciclos de Milankovitch mostram como pequenas e periódicas mudanças no formato da órbita da Terra e na orientação de seu eixo influenciam a distribuição da luz solar que incide no planeta.

Os principais destes ciclos mudam a cada 400.000, 100.000, 41.000 e 21.000 anos, alterando profundamente nosso clima ao longo de milhões de anos.

Exemplos da influência de Milankovitch são a ocorrência de períodos de frio extremo ou quentes, bem como regiões mais úmidas ou secas. As mudanças climáticas alteram as condições na superfície, como o tamanho dos lagos, a migração e evolução da flora e fauna, incluindo da nossa espécie.

E a Lua com isso?

A distância entre a Terra e a Lua está diretamente relacionada à frequência de um dos ciclos de Milankovitch: o de precessão climática. Ele surge do movimento de precessão da Terra, que é a mudança de orientação do eixo de rotação do planeta ao longo do tempo — como um pião girando.

Este ciclo atualmente tem duração de cerca de 21.000 anos, mas estudos indicam que era mais curto no passado, quando a Lua estava mais próxima da Terra.

Assim, se conseguirmos encontrar os ciclos de Milankovitch em rochas antigas, e depois achar um sinal da oscilação da Terra e estabelecer seu período, podemos estimar a distância da Lua no momento em que os sedimentos foram depositados.

As formações ferrosas em camadas da Austrália, provavelmente, foram depositadas há cerca de 2,5 bilhões de anos. Os cientistas encontraram múltiplas escalas de variações cíclicas, que se repetem aproximadamente em intervalos de 10 cm e 85 cm.

Ao combinar essas espessuras com a velocidade com que os sedimentos foram depositados, descobriram que elas ocorreram aproximadamente a cada 11.000 anos e 100.000 anos.

O ciclo de 11.000 anos, provavelmente, está relacionado ao ciclo de precessão climática — um período muito mais curto do que o atual. Esse dado foi utilizado para calcular a distância entre a Terra e a Lua há 2,46 bilhões de anos.

Concluiu-se que a Lua estava cerca de 60.000 quilômetros mais perto da Terra (para fatrores comparativos, a circunferência da Terra é de 40.75 km). Isso tornaria um dia muito mais curto do que é agora, com aproximadamente 17 horas.

Assim, esta interessante pesquisa, ainda em andamento, fornece modelos para a evolução do sistema Terra-Lua e também para a formação do Sistema Solar.

*Com informações de The Conversation e Space