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Nobel de física leva prêmio por fenômeno quântico que 'assustou' Einstein

Tecnologia quântica substituiria o sistema binário usado na computação atualmente - AFP/Getty
Tecnologia quântica substituiria o sistema binário usado na computação atualmente Imagem: AFP/Getty

Nathalia Lino

Colaboração para Tilt*

05/10/2022 13h51Atualizada em 05/10/2022 15h22

O Prêmio Nobel de Física deste ano foi dado para três cientistas por avanços na área da mecânica quântica, que podem abrir caminho para o desenvolvimento de computadores de alta potência e sistemas mais seguros com criptografia. Os homenageados foram o francês Alain Aspect, o austríaco Anton Zeilinger e o americano John Clauser com pesquisas envolvendo o "entrelaçamento quântico" (entenda melhor a seguir).

Uma curiosidade sobre o último cientista é que na década de 70 ele tinha em mente conseguir provar que Albert Einstein estava correto ao refutar o motivo desse entrelaçamento de partículas quânticas — o pesquisador conseguiu resultados diferentes do que os sugeridos pelo autor da teoria da relatividade.

"A verdade é que eu esperava fortemente que Einstein vencesse, o que significaria que a mecânica quântica estava dando previsões incorretas", disse Clauser, entrevista à AFP.

Ideia de entrelaçamento 'assustou' Einstein

O entrelaçamento quântico, segundo os estudos, envolve duas partículas quânticas (em geral, fótons) que conseguem se manter conectadas independentemente da distância entre elas. Ou seja, elas se comportam como uma unidade mesmo separadas. Esse processo é chamado de estado emaranhado (ou elemento de não-localidade).

Albert Einstein entra nessa história, pois ele acreditava, com base em seus estudos, que a tese de que algo pode acontecer ao mesmo tempo e a grande distância vai contra o "princípio da localidade", que diz basicamente que o que acontece num local não é afetado pelo que acontece em outro distante.

Einstein chegou a chamar esse comportamento das partículas quânticas de "ação assustadora à distância", em 1935, descartando que esse entrelaçamento pudesse existir da forma com que foi proposto.

Ele acreditava que existiam "variáveis ocultas" que direcionavam as partículas para os estados que elas tomavam.

Nobel de Física e a mecânica quântica

O físico John Clauser, um dos vencedores deste ano, fez sua pós-graduação na Universidade de Columbia, na década de 60. Ele diz que foi ali que surgiu o seu interesse pela física quântica, mais tarde passando para um elemento específico do campo de estudo, a mecânica quântica.

Em 1964, o físico norte-irlandês John Bell propôs uma base teórica para verificar se as variáveis ocultas que Einstein sugeriu influenciavam as partículas quânticas. Clauser então decidiu que queria encontrar respostas fazendo experimentos práticos.

Na época, ele se dedicava a pesquisas sobre astrofísica. Foi preciso terminar seu doutorado e começar a trabalhar na Universidade de Berkeley um tempo depois para seguir seu objetivo.

O estudo

A pesquisa prática realizada pelo físico Clauser, junto com Stuart Freedman, envolveu um laser focado em átomos de cálcio, para assim fazê-los emitir partículas de pares de fótons emaranhados, que dispararam em direções opostas.

Na sequência, os pesquisadores usaram filtros colocados ao lado para medir se eles estavam correlacionados em pares.

No final da experiência (e depois de repetir o processo várias vezes), eles observaram que os pares de partículas ficavam conectados mais do que Einstein havia previsto.

Segundo Clauser, na época os resultados não levaram tanto destaque. Ele chegou a ouvir que o trabalho era bobo e que estava "desperdiçando o tempo e o dinheiro de todos".

"Nós não provamos o que a mecânica quântica é — provamos o que a mecânica quântica não é (...) e saber o que não é tem aplicações práticas", completou.

*Com informações da agência de notícias AFP, BBC e do site Phys.