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Erupção de buraco negro supermassivo é fotografada; veja detalhes da imagem

Buraco negro em erupção - Ben McKinley, ICRARCurtin e Connor Matherne, Louisiana State University
Buraco negro em erupção Imagem: Ben McKinley, ICRARCurtin e Connor Matherne, Louisiana State University

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, em São Paulo

29/12/2021 11h55Atualizada em 30/12/2021 12h06

Um grupo internacional de astrônomos produziu uma imagem detalhada da enorme erupção do buraco negro supermassivo mais próximo da nossa galáxia. Foi o maior evento do tipo já registrado em alta qualidade. Se pudesse ser visto daqui a olho nu, ele se estenderia por oito graus de largura —ou 16 luas cheias enfileiradas em nosso céu.

Buracos negros supermassivos ficam no centro das galáxias —neste caso, a gigante Centaurus A, a cerca 12 milhões de anos-luz de nosso planeta. Este "monstro" ativo tem 55 milhões de vezes a massa do nosso Sol. Ele devora gás, poeira e outras partículas ao seu redor, ejetando material e energia em poderosos jatos pelo espaço intergaláctico, quase na velocidade da luz.

Na bela imagem, é possível ver os dois coloridos e gigantescos lobos de plasma, que se espalham muito além das fronteiras da própria Centaurus A —que ocupa apenas uma pequena área no centro.

Os pontos brilhantes ao fundo não são estrelas, mas sim galáxias mais distantes; os pontos no primeiro plano são estrelas da nossa própria galáxia, a Via Láctea.

Centaurus A - Connor Matherne/Louisiana State University - Connor Matherne/Louisiana State University
Centaurus A
Imagem: Connor Matherne/Louisiana State University

"Ondas de rádio vêm do material sendo sugado para o buraco negro supermassivo no meio da galáxia. Um disco se forma ao redor dele e, à medida que a matéria é rasgada ao chegar perto, poderosos jatos se formam em ambos os lados do disco, ejetando a maior parte do material de volta para o espaço, a distâncias de provavelmente mais de um milhão de anos-luz", explica Benjamin McKinley, pesquisador do Instituto de Radioastronomia da Universidade Curtin.

Registro inédito e desafiador

Registrar algo tão brilhante com nitidez é um enorme desafio. Para produzir a imagem, os astrônomos capturaram as ondas de rádio das emissões, utilizando o telescópio Murchison Widefield Array (MWA), no deserto da Austrália.

"As observações anteriores não conseguiram lidar com o brilho extremo dos jatos e os detalhes da área maior ao redor da galáxia foram distorcidos, mas nossa nova imagem supera essas limitações", explica McKinley, principal autor do estudo publicado recentemente na revista "Nature Astronomy".

"Nesta pesquisa, fomos capazes de combinar as observações de rádio com dados ópticos e de raios-X, para nos ajudar a entender melhor a física dos buracos negros supermassivos."

Telescópio MWA, na Austrália - Pete Wheeler, ICRAR - Pete Wheeler, ICRAR
Telescópio MWA, na Austrália
Imagem: Pete Wheeler, ICRAR

O plasma de rádio liberado pelo buraco negro é visto em azul, interagindo com as emissões de gás quente emissor de raios-X (laranja) e com hidrogênio frio e neutro (roxo).

Tons vermelhos revelam as chamadas linhas espectrais H-alfa, características do hidrogênio que está perdendo elétrons.

Para o diretor do MWA, o professor Steven Tingay, o feito foi possível graças ao campo de visão extremamente amplo do telescópio, sua excelente sensibilidade e localização rádio silenciosa, sem interferências.

"O MWA é um precursor do Square Kilometer Array (SKA), uma iniciativa global para construir os maiores radiotelescópios do mundo na Austrália Ocidental e na África do Sul", disse.

"O amplo campo de visão e, consequentemente, a extraordinária quantidade de dados que podemos coletar, significa que o potencial de descoberta de cada observação é muito alto. Isso fornece um passo fantástico em direção a um SKA ainda maior".