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Projeto da USP para gerar comida no espaço é selecionado em desafio da Nasa

Equipe científica da USP propôs duas culturas vegetais: morango e taioba - Paulo Hercílio Viegas Rodrigues/ESALQ-USP
Equipe científica da USP propôs duas culturas vegetais: morango e taioba Imagem: Paulo Hercílio Viegas Rodrigues/ESALQ-USP

Aurélio Araújo

Colaboração para Tilt, em São Paulo

07/12/2021 16h56

Uma equipe de alunos da USP (Universidade de São Paulo) foi selecionada para a segunda fase de uma competição da Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, e da CSA, sua equivalente canadense, num desafio para desenvolver comida para astronautas numa viagem ao planeta Marte.

O projeto conjunto se chama Deep Space Food Challenge, que, em tradução livre, seria "desafio alimentar do espaço sideral". O objetivo é tornar mais saudável a alimentação dos viajantes, acostumados a comer somente produtos ultraprocessados por longos períodos de tempo.

A equipe, liderada pelo professor Paulo Hercílio Viegas Rodrigues, é formada por estudantes da graduação e da pós-graduação da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) da USP, que fica em Piracicaba, no interior do Estado, a cerca de 155 km da capital.

A equipe do professor Rodrigues se inscreveu na primeira fase do desafio e acabou sendo uma das selecionadas para seguir na competição, que é dividida entre participantes norte-americanos e de outros países. Contando com a brasileira, são dez equipes que permanecem no desafio em busca de se classificarem para a final em 2023, que terá a participação de cinco delas.

Ao passar para a próxima fase, os estudantes da USP se concentrarão ao longo de 2022 em descobrir formas para que astronautas se alimentem melhor fora da Terra.

O desafio de cultivar plantas no espaço

De acordo com informações do Jornal da USP, os participantes do desafio receberam estudos que mostravam os danos fisiológicos e psicológicos causados pela alimentação feita exclusivamente com ultraprocessados.

O professor Rodrigues é especialista em floricultura e conduz estudos com plantas ornamentais através da cultura de tecidos vegetais. Para se adaptar ao desafio, ele e seus alunos precisavam desenvolver uma ideia que beneficiasse tanto os astronautas quanto a produção agrícola na Terra.

Além disso, era preciso levar em conta que a viagem espacial é dividida em etapas. Por isso, foi necessário considerar que são seis meses de ida até Marte, 18 meses de uma possível estadia no planeta, e mais seis meses no retorno até a Terra. Então, haveria momentos e condições diferentes para o cultivo agrícola dentro de uma única viagem.

Outros fatores, como necessidade de luminosidade, nutrientes e espaço disponível para o desenvolvimento das plantas tiveram de ser estudados em detalhe. Se, nesse momento, você se lembrou do protagonista do filme "Perdido em Marte", de 2015, estrelado por Matt Damon, está no caminho certo. No longa, o astronauta vivido por Damon aprende a plantar batatas no planeta vizinho para sobreviver no espaço.

O que os brasileiros estão propondo

No fim, a equipe científica da USP propôs duas culturas vegetais: morango e taioba, uma hortaliça de folhas grandes. Ambas já tinham sido estudadas pelos alunos e passaram por uma adaptação que permitiu que fossem colocadas no foguete rumo à Marte —senão literalmente, ao menos no campo das ideias, por enquanto.

Em entrevista ao Jornal da USP, o professor contou que eles tinham produzido morango sem a ajuda da luz natural pouco antes de ficar sabendo do desafio. Quando se inteiraram dele, não houve dúvida em tentar replicar o que foi feito no estudo, levando em conta as condições da viagem espacial.

Um diferencial apontado por Rodrigues é que sua equipe descobriu uma forma de enriquecer as plantas em nutrientes, algo que outros cientistas não fizeram. Assim, ao propor o cultivo de morangos e taiobas bastante nutritivos e de fácil manutenção para os astronautas, o time brasileiro se destacou e garantiu a vaga para a próxima fase.

E, se na fase inicial, o projeto dos alunos da Esalq se manteve sem financiamento, os estudantes agora buscam recursos para continuar na disputa. Embora a iniciativa seja teórica, é preciso montar um protótipo e ainda não há fundos suficientes para que ele seja desenvolvido.