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O universo das compras online: conheça o trabalho de centro de distribuição

Centro de Distribuição da Synapcom de Itapevi (SP) - Leo Franco/Divulgação/Synapcom
Centro de Distribuição da Synapcom de Itapevi (SP) Imagem: Leo Franco/Divulgação/Synapcom

Letícia Naísa

De Tilt, em São Paulo

03/12/2021 04h00Atualizada em 03/12/2021 16h04

No último sábado (27), o Palmeiras foi campeão da Libertadores. Entre as máquinas de estampagem de um galpão na cidade de Itapevi, na região metropolitana de São Paulo, uma camiseta verde do time saía quentinha, em 15 segundos, com o número 9 nas costas e o nome do jogador Deyverson. Era uma encomenda que seria entregue a um torcedor provavelmente orgulhoso de seu time.

Na mesa ao lado da máquina, mais camisetas verdes com outros números e nomes personalizados estavam prontas para serem embaladas. O trabalho ali no galpão só aumentou com a vitória do time paulista, mas a rotina já estava intensa desde a semana anterior por causa da Black Friday, evento de compras realizado no último dia 26 de novembro.

Além da personalização de camisas do time campeão, o centro de distribuição (CD) da empresa Synapcom estoca, embala e despacha produtos comprados pela internet.

Rodrigo Gomes da Silva, funcionário da Synapcom, trabalha com personalização de camisas do Palmeiras no centro de distribuição de Itapevi (SP) - Letícia Naísa/UOL - Letícia Naísa/UOL
Rodrigo Gomes da Silva, funcionário da Synapcom, trabalha com personalização de camisas do Palmeiras no centro de distribuição de Itapevi (SP)
Imagem: Letícia Naísa/UOL

A Synapcom atende marcas de diversos setores. Naquela "bagunça organizada" estão liquidificadores, aspiradores e Airfryers da Arno e da Black+Decker, televisores da Philips, chocolates da Hershey's, cafés Melitta, shampoos da L'Oréal, livros da livraria Saraiva e bebidas alcoólicas variadas, no aguardo para serem separados e encaixotados.

Dentro de um cofre, joias da Swarovski são embaladas cuidadosamente sob o olhar vigilante de uma câmera de segurança.

No espaço de 30 mil m², pelo menos 3,2 milhões de produtos, segundo a empresa, estavam estocados para atender as compras no período da Black Friday. A data é uma verdadeira festa para quem trabalha com comércio. No centro de distribuição de Itapevi, havia até bexigas decorando o espaço para "comemorar".

De casa, o foco dos consumidores é sempre encontrar a melhor oferta e não levar nada pela "metade do dobro" durante o dia de promoções. Para conseguir atender a clientela, a empresa adotou a divisão da equipe em três turnos e contratou 400 funcionários temporários para as áreas de logística, transportes e SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), sendo que 79 profissionais trabalham alocados em Itapevi.

Fabio Fialho, CSO (diretor de estratégia) da Synapcom e diretor da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) - Leo Franco/Divulgação/Synapcom - Leo Franco/Divulgação/Synapcom
Fabio Fialho, CSO (diretor de estratégia) da Synapcom e diretor da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico)
Imagem: Leo Franco/Divulgação/Synapcom

"Cinco anos atrás, as compras online eram feitas apenas pelo preço mais em conta, hoje ela são feitas pela conveniência", diz Fabio Fialho, CSO (diretor de estratégia) da Synapcom e diretor da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).

O "segredo" da compra online

Para não perder nenhum produto de vista no espaço gigantesco, cada item que chega recebe um cadastro com código de barras e é direcionado para um "endereço" dentro do centro de distribuição.

"Tudo é rastreado", diz Rerald Pereira dos Santos, 38, pedindo "desculpas pela bagunça". Ele é o gerente de logística do CD de Itapevi e acompanhou a reportagem de Tilt na visita ao galpão.

Quando alguém faz uma compra de um dos clientes que a Synapcom atende —no próprio site da marca ou no de alguma varejista parceira—, o pedido é registrado no sistema. O que acontece na sequência é a localização desse produto.

Além do chão, existe a chamada verticalização do estoque. Há prateleiras do tamanho de prédios no meio do galpão e estruturas desmontáveis de pequenos andares, cada um abrangendo um setor de produtos. Por dentro de cada um, há "ruas" e "avenidas" de itens de cada marca.

Para alcançar o que fica alto demais, motoristas de empilhadeiras atravessam o espaço com pallets que carregam caixas de um lado para o outro — e buzinando para não atropelar ninguém.

Centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP) - Leo Franco/Divulgação/Synapcom - Leo Franco/Divulgação/Synapcom
Centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP)
Imagem: Leo Franco/Divulgação/Synapcom

David Carvalho, 20, recebe um pedido e sai andando com uma maquininha nas mãos, entre as "ruas" da área de bebidas, para encontrar os itens certos. O funcionário deve, então, no jargão, "bipar" o produto.

Com rapidez, Carvalho puxava uma garrafa de dentro de uma caixa e "bipava" o endereço dela, anotando o lote e a validade na maquininha. Só depois de "bipar" tudo certo, ele podia ir buscar outro produto.

David Carvalho, 20, "bipa" produtos no centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP) - Letícia Naísa/UOL - Letícia Naísa/UOL
David Carvalho, 20, "bipa" produtos no centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP)
Imagem: Letícia Naísa/UOL

A ação deixa registrado no sistema que aquele produto foi retirado do local e enviado para o faturamento.

Funcionários "bipam" produtos no centro de distribuição da Synapcom de Itapevi (SP) - PAUL/H/BONNEVAL/Divulgação/Synapcom - PAUL/H/BONNEVAL/Divulgação/Synapcom
Funcionários "bipam" produtos no centro de distribuição da Synapcom de Itapevi (SP)
Imagem: PAUL/H/BONNEVAL/Divulgação/Synapcom

Depois de separados os produtos do pedido, outro funcionário deve faturar a compra no computador.

Aquele email que recebemos de "seu pedido foi faturado" é enviado logo que uma pessoa registra a separação dos produtos e os encaminha para a embalagem. É neste momento também que é gerada a nota fiscal que chega no email do cliente.

Na hora de embalar, a nota é colocada na caixa e a compra é mandado para a transportadora ou para os Correios —a Synapcom diz trabalhar com agências de transportadoras parceiras e também uma agência dos Correios. Sai tudo direto de Itapevi para a casa do compradores.

Cada um no seu quadrado

Além de serem separados por função —tem quem separa, quem fatura e quem embala—, os funcionários são divididos entre marcas.

De acordo com os entrevistados, algumas companhias são mais exigentes do que outras. Nesses casos, elas exigem que o produto seja enviado para o cliente como se ele tivesse saído diretamente da loja de um shopping, por exemplo.

Como cada item requer um cuidado na hora de embalar, os colaboradores passam por treinamentos oferecidos pelas marcas. No caso de coisas delicadas e caras, como as joias, a atenção deve ser redobrada

Tilt observou que é minuciosa a forma como cada produto é embalado, há pilhas de caixas das diferentes empresas, tamanhos e cores, rolos de plástico bolha, redinhas para embalar vidro, papel seda para as roupas, fitas coloridas e muita fita adesiva.

Funcionária embala produto dentro do "cofre" do centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP) - Leo Franco/Divulgação/Synapcom - Leo Franco/Divulgação/Synapcom
Funcionária embala produto dentro do "cofre" do centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP)
Imagem: Leo Franco/Divulgação/Synapcom

Demanda de estoque

No sistema de organização, tudo é separado por setor e por ordem de prioridade. O que fica mais para cima nas prateleiras é o que vende menos. Além de separar, personalizar, faturar e embalar, a Synapcom também estoca produtos de acordo com a expectativa do que deve ter demanda em breve.

Centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP) - Leo Franco/Divulgação/Synapcom - Leo Franco/Divulgação/Synapcom
Centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP)
Imagem: Leo Franco/Divulgação/Synapcom

Nem tudo o que é comprado das marcas que a distribuidora atende sai do estoque de Itapevi. A empresa tem dois centros de distribuição como o que Tilt visitou (Itapevi e Cajamar), além de duas dark stores (galpões de delivery) em São Paulo, que são menores e ficam na parte mais urbana das cidades para facilitar as entregas.

"A maior competição hoje [entre lojas] é quem vai ter mais estoque, porque público, na internet, quase todos já têm", ressalta Fialho.