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Obsessão? Empresária acusada de fraude queria 'se tornar' Steve Jobs

Elizabeth Holmes, criadora da Theranos - Divulgação
Elizabeth Holmes, criadora da Theranos Imagem: Divulgação

Aurélio Araújo

Colaboração para Tilt, de São Paulo

30/09/2021 16h46Atualizada em 24/11/2022 10h35

Elizabeth Holmes, empresária do Vale do Silício que prometia revolucionar a tecnologia da área da saúde, chegou a ser apelidada de a "nova Steve Jobs" pelo mercado. Agora, acusada de fraude e com seu julgamento em curso, revelações sobre o seu passado ganham foco.

De acordo com as investigações, notas que ela escreveu para si própria há alguns anos mostram que ela se via mesmo como uma espécie de substituta do fundador da Apple no mundo da tecnologia.

Holmes é a criadora da Theranos, uma startup que chegou a ser bilionária e que prometia diagnosticar diversas doenças com apenas algumas gotas de sangue como amostra. A partir de 2015, porém, o jornal The Wall Street Journal publicou uma série de denúncias mostrando que a tecnologia não funcionava.

Antes disso, Holmes construiu uma imagem de empresária de sucesso, chamada pela Forbes de "a mais jovem e mais rica mulher entre os bilionários". Boa parte dessa reputação veio da maneira como ela se portava, lembrando o perfil de Steve Jobs.

Ela chegou a apelidar, por exemplo, o sistema de testagem de sangue da Theranos de "o iPod dos cuidados de saúde". Adotou também o visual de Jobs, vestindo-se de preto e usando uma camisa de gola alta.

As anotações

Notas obtidas pela emissora de TV americana CNBC mostram que ela escreveu para si mesma que ela devia "se tornar o Steve Jobs".

Outras anotações dela mostram, como num fluxo de consciência, visões um pouco genéricas sobre os negócios da Theranos, como uma que diz frases soltas com palavras-chave: "começou — visão — mudar o mundo. Acesso a cuidados de saúde. Baixar os custos. Aumentar a eficiência. Dor mínima".

Duas semanas após a primeira reportagem do Wall Street Journal, em outubro de 2015, ela anotou tópicos como "declarações de refutação ponto a ponto" e "sem medo transparente nada a esconder".

Na mesma mensagem, ela dizia que a investigação "não abala minha confiança" e acrescentava que "a escolha de negócios foi correta à época".

Ascensão e queda da "nova Steve Jobs"

A Theranos foi fundada em 2003 por Elizabeth Holmes, que tinha 19 anos e era então apenas uma estudante de engenharia química da Universidade de Stanford, na Califórnia.

Com um crescimento meteórico baseado no que se esperava que fosse uma tecnologia revolucionária de testagem de sangue com apenas uma picada no dedo, em 2010, a empresa já tinha um capital de quase US$ 100 milhões (R$ 544 milhões).

Mas Holmes de fato apareceu aos olhos do público americano a partir de 2013, quando fechou um contrato com a Walgreens, grande rede farmacêutica dos Estados Unidos, para lançar centros de coleta de amostras sanguíneas nas lojas deles.

No ano seguinte, a empresária apareceu na capa de importantes veículos de imprensa da área de negócios, como a Forbes e a Fortune. Chamava muito a atenção desde então a maneira como ela se vestia de forma parecida com Steve Jobs, algo que ela afirmava ser uma influência de sua mãe, que supostamente também vestia camisas pretas de gola alta.

Nesse período de ascensão, ela foi acompanhada por seu namorado à época, Ramesh Balwani, conhecido pelo apelido de "Sunny", que era o presidente da Theranos. Mas, depois do início das reportagens sobre a tecnologia falha da startup, a decadência foi rápida: em 2016, a Forbes já reviu a estimativa do patrimônio líquido de Holmes para zero.

A Theranos decretou falência em 2018. Tanto Holmes quanto Balwani enfrentam atualmente dez acusações de fraude e outras duas de conspiração para cometer fraude na Justiça americana.

Ambos se dizem inocentes. O julgamento de Holmes começou há cerca de um mês e o de Balwani está previsto para ter início em 2022.