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Que fim terá? OnlyFans proíbe pornô e gera revolta de profissionais do sexo

Suzy Cortez é uma das brasileiras no OnlyFans - Divulgação/Vanessa Dalceno
Suzy Cortez é uma das brasileiras no OnlyFans Imagem: Divulgação/Vanessa Dalceno

De Tilt, em São Paulo

21/08/2021 14h25

Conhecido por seu conteúdo picante e que ganhou popularidade durante a pandemia, o site OnlyFans anunciou na quinta-feira (19) que vai proibir todo o conteúdo "sexualmente explícito" a partir de outubro. Desde então, os profissionais do sexo que tinham achado na plataforma um jeito de sobreviver durante o isolamento ali se perguntam como e se a redes social vai sobreviver.

"O sentimento meu e de outros criadores que conheço é de raiva e confusão", disse Chelsea Lynn ao Business Insider. Ela conta que ganhou mais de US$ 200 mil com o OnlyFans nos últimos seis meses e que isso gerou US$ 42 mil para a plataforma. "O trabalho sexual construiu o OnlyFans, e agora parece que eles estão virando as costas para nós."

A rede social se difere das outras por oferecer assinaturas de conteúdos, o que funcionou muito bem para quem produzia vídeos pornôs. Os criadores postam vídeos e fotos e cobram pelo conteúdo, enquanto o OnlyFans fica com uma parcela de 20% de todos os pagamentos.

A empresa com sede no Reino Unido afirma ter dois milhões de "criadores de conteúdo" remunerados, que já receberam mais de US$ 5 bilhões na plataforma. Ao todo, 130 milhões de pessoas usam a rede social. Não está claro quanto disso foi para as estrelas da pornografia, mas a sensação é de que a plataforma depende da indústria do sexo para sobreviver.

Se não for para postar vídeos picantes, para que ela serve? Essa é a pergunta que circulou na mídia e nas redes sociais desde que o anúncio foi feito.

Ainda não está claro que tipo de nudez será aceitável pela nova política de uso, mas o OnlyFans deixou claro em comunicado que as mudanças são uma resposta às preocupações de banqueiros e investidores, enquanto busca expandir sua audiência além do conteúdo adulto, com fotos e vídeos de culinária ou ioga.

O site lançou recentemente um canal "apto para o trabalho" oferecendo vídeos focados em áreas como fitness, música ou culinária, para competir com plataformas como o Facebook, que também pagam os criadores de conteúdo.

"A grande maioria das trabalhadoras do sexo sobrevive de pagamento em pagamento na plataforma", disse Nat Cole, 20, ao Business Insider. "Eles estão nos avisando com menos de dois meses de antecedência e temos que mover todos os nossos fãs para outra plataforma."

A proibição de vídeos sexuais veio na esteira de denúncias feitas pela BBC News, que teve acesso a documentos internos que mostravam que o OnlyFans é leniente com contas que postam conteúdo ilegal —por exemplo, anúncios de prostituição e menores de 18 anos vendendo e aparecendo em vídeos explícitos.

O OnlyFans chegou a dizer que esse tipo de conteúdo eram eventos "raros", mas os documentos vazados mostram que as contas não são encerradas automaticamente se violarem os termos de uso do site.

Segundo reportagem do UOL TV e Famosos, Suzy Cortez, brasileira pioneira no OnlyFans, conversou com o fundador da plataforma, Tim Stokely, para entender o que estava acontecendo.

"Ele me explicou que eles querem limpar o OnlyFans no que se refere ao conteúdo erótico/pornográfico. Não se trata de censura ou caretice, e sim de uma 'faxina' naqueles que insistem em desfocar o verdadeiro objetivo, que é em divulgar a arte que existe no conteúdo sensual", comenta a modelo. "Nos últimos meses foram detectadas coisas pesadas como zoofilia, sexo explícito e até casos de menores em exposições pra lá de explícitas."

Suzy, que diz que deixou de trabalhar para revistas adultas depois de conhecer a plataforma, já vendeu água do próprio banho para um fã por R$ 37 mil e um lençol usado por R$ 63 mil usando o OnlyFans. "O conteúdo é igual ao de várias edições de Playboy que eu fiz no mundo, só que agora o lucro é todo meu", explica.

Já a modelo Núbia Oliver disse à Folha que a mudança não deve atrapalhar a vida de quem ganha dinheiro sem apelar. "Não acredito que vão excluir o nu", falou, ressaltando ainda que já recebeu diversos convites para outras redes sociais que prometem a mesma coisa.