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Cinco mistérios que podem ser solucionados com as missões ao planeta Vênus

Planeta Vênus em imagem da sonda japonesa Akatsuki - JAXA/ISAS/DARTS/Damia Bouic
Planeta Vênus em imagem da sonda japonesa Akatsuki Imagem: JAXA/ISAS/DARTS/Damia Bouic

Letícia Naísa

De Tilt, em São Paulo

20/06/2021 18h06Atualizada em 21/06/2021 09h48

Por causa de seu ambiente hostil, Vênus ainda é um planeta cheio de segredos inexplorados. Apesar da proximidade da Terra, os maiores investimentos e olhares ainda são direcionados a Marte. Vênus é um planeta quente, tóxico e coberto de vulcões.

No final do ano passado, cientistas encontraram evidências de atividade microbiana na atmosfera venusiana. A pesquisa foi publicada na renomada revista Nature. A presença de fosfina no planeta pode indicar o resultado de processos biológicos e, consequentemente, seres vivos.

No início de junho, a Nasa anunciou duas missões, chamadas Davinci + e Veritas, para exploração do planeta, que devem acontecer entre 2028 e 2030. A Europa também aprovou sua própria missão de exploração, a EnVision. Cerca de 40 missões já tentaram visitar o planeta, mas seu ambiente hostil, com altíssimas temperaturas e forte pressão, foi um desafio para os instrumentos e astronautas.

As três novas expedições deverão trazer respostas para pelo menos cinco questionamentos em torno de Vênus, segundo a revista Nature.

Por que Vênus e a Terra são tão diferentes?

Os dois planetas têm quase o mesmo tamanho e estão a quase a mesma distância do Sol. Vênus e Terra são chamados de "planetas irmãos", mas apenas o nosso é habitável. Uma das perguntas que os cientistas querem responder é referente ao ambiente inóspito de Vênus. As temperaturas no planeta podem chegar a 470°C, o suficiente para derreter chumbo.

A Veritas e a EnVision pretendem buscar respostas por meio da exploração geológica do planeta, ou seja, da superfície. Ambas buscarão mapear o relevo de Vênus.

Já a Davinci+ fará medições de gases nobres não reativos, como hélio e xenônio, e outros elementos da atmosfera. Ela terá um orbitador para fotografar o planeta usando luz ultravioleta e infravermelha.

Vênus já teve oceanos?

Há cerca de 40 anos, o Projeto Pioneer Venus, da Nasa, apontou que o planeta teve um oceano raso. Mais recentemente, o Goddard Institute for Space Science (Giss) criou uma série de simulações para saber se Vênus teve um clima estável, capaz de permitir que houvesse água em estado líquido, e descobriu que Vênus pôde manter uma temperatura estável, entre 20°C e 50°C por bilhões de anos.

Com a medição da atmosfera feita pela Davinci+, este mistério poderá ser solucionado. Sua sonda fará medições de alta precisão para revelar os gases presentes.

Vênus já teve continentes?

Um artigo publicado em novembro de 2020 na Nature indicou que 7% da superfície de Vênus é coberta por regiões montanhosas chamadas de tesselas, que ainda são um grande enigma para os cientistas. Uma das hipóteses é de que sejam estruturas similares a continentes.

O objetivo da Veritas é estudar a composição das tesselas e comparar a quantidade basalto de rocha vulcânica em regiões de altitudes diferentes. "Na Terra, quando os continentes se formam, as grandes quantidades de basalto na crosta oceânica derretem na presença de água", diz Suzanne Smrekar, líder da missão Veritas, à Nature. "Se pudermos testar essa hipótese, podemos mostrar que esses enormes planaltos são efetivamente impressões digitais de uma época em que havia água", sendo as tesselas massas de terra continentais que antes eram cercadas por água.

A sonda Davinci+ também poderá ajudar a entender mais sobre as tesselas quando descer sobre a Alpha Regio, um extenso planalto venusiano. A expectativa é obter mais até 500 imagens da superfície nos poucos minutos em que pode sobreviver sobre altas temperaturas e pressões.

Vênus ainda tem vulcões ativos?

O mapeamento de superfície feito pela Veritas e pela EnVision pretende explorar as regiões vulcânicas do planeta e trazer imagens de alta resolução. Os dois dispositivos vão procurar evidências de elementos relacionados a vulcões, como lava. Até hoje, não se sabe se os vulcões de Vênus algum dia foram ativos há milhares de anos — ou se ainda são até hoje.

A sonda japonesa Akatsuki, lançada em 2010, apontou mudanças na quantidade de luz ultravioleta absorvida pela atmosfera de Vênus, o que poderia ser um indicador de atividade vulcânica recente.

Tem fosfina em Vênus?

O estudo que revelou fosfina na atmosfera de Vênus poderá ter evidências mais sólidas por meio da missão Davinci+. Há muito debate em torno dos resultados da pesquisa publicada na Nature, por isso, a nova missão tentará medir com mais precisão a presença do elemento no planeta.