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Treta? Rússia fica de fora de acordo internacional para retorno à Lua

Astronautas do Projeto Artemis tentarão habitar a Lua; Nasa quer enviá-los até 2024 - Divulgação
Astronautas do Projeto Artemis tentarão habitar a Lua; Nasa quer enviá-los até 2024 Imagem: Divulgação

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

15/10/2020 10h43

A agência espacial norte-americana Nasa anunciou na quarta-feira (14) que oito países, incluindo os Estados Unidos, assinaram um acordo internacional para padronizar futuras missões à Lua. A ausência mais sentida entre os signatários é a da Rússia, principal parceira da Nasa até então.

Durante anos a Nasa usou foguetes e estrutura da Roscomos, a agência espacial russa, para enviar astronautas e administrar a ISS (Estação Espacial Internacional). Mas ao desenvolver o Acordo de Artemis, que propõe regras para a exploração internacional da Lua, os russos ficaram de fora.

Além dos EUA, assinaram o acordo Canadá, Japão, Austrália, Luxemburgo, Itália, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos. Outra ausência notável, mas compreensível, é a da China. Uma lei aprovada pelo governo americano de Donald Trump proíbe agências governamentais de fazerem acordos com chineses.

O que diz o acordo entre os países?

Os signatários do Acordo de Artemis— que leva este nome em referência ao programa Artemis, da Nasa, que pretende levar a primeira mulher à Lua na próxima década— se comprometem a respeitar regras criadas em conjunto para a exploração do satélite natural da Terra com robôs ou astronautas humanos.

Uma dessas regras é a de que os países que explorarem a Lua têm direito a reclamar propriedade sobre os minérios ou outros recursos coletados em viagens ao satélite. Por outro lado, nenhum país pode declarar qualquer porção da Lua seu "território", em obediência ao que diz o Tratado do Espaço Sideral assinado em 1967 por 27 países (incluindo o Brasil).

A Rússia também assina o Tratado do Espaço Sideral, mas não gosta muito do Acordo de Artemis da Nasa. Dmitry Rogozin, diretor geral da Roscomos, já disse que a proposta significava uma "invasão" da Lua pelos americanos. Nesta semana, Rogozin também declarou que o acordo era muito "centrado nos EUA" e deveria ser mais aberto ao resto do mundo.

Uma das regras definidas pelo acordo, porém, tem a simpatia dos russos. O texto propõe que equipamentos usados para explorar a Lua sejam padronizados, de modo que ferramentas, programas e peças de um país funcionem e se comuniquem com as de outros. A Roscomos já pediu publicamente que a Nasa prepare a futura estação espacial lunar para receber foguetes de qualquer país, não só os dos EUA.

O administrador da Nasa, Jim Bridenstine, disse ontem que os sete primeiros países a assinar o acordo junto com os EUA foram os que mais rapidamente se comprometeram a seguir as regras criadas pelo programa, mas, sem citar a Rússia, disse estar aberto à adesão de mais países no futuro.

Posto de gasolina espacial

A Nasa também revelou um programa com 14 empresas dos Estados Unidos para premiar com até US$ 370 milhões (no total) as melhores ideias para aprimorar a exploração espacial e da Lua no futuro.

O foco desse programa é financiar projetos que facilitem o abastecimento de foguetes fora da Terra.

Em outras palavras, a ideia é que estas 14 empresas ajudem a criar um posto de gasolina espacial onde naves a caminho da Lua ou de outros planetas possam encher o tanque antes de seguir viagem.

Afinal de contas, um dos principais obstáculos hoje para a exploração de outros planetas no sistema solar, como Marte, é o abastecimento de foguetes e módulos de exploração espacial.

O desafio da Nasa é reunir bastante criogênico líquido para propulsores que possam levar astronautas longe o bastante. Uma das empresas financiadas pelo programa da Nasa é a SpaceX, do bilionário Elon Musk, que ganhou US$ 53,2 milhões para demonstrar um sistema que transfere 10 toneladas de criogênico entre dois tanques de um foguete enquanto ele decola.