Topo

Vale mais que dinheiro! Técnica permite usar ouro para matar câncer

Valeria_aksakova/Freepik
Imagem: Valeria_aksakova/Freepik

Gabriel Joppert

Colaboração para Tilt

15/09/2020 17h02

Sem tempo, irmão

  • Cientistas conseguiram sintetizar nanopartículas de ouro dentro de organismo vivo
  • Biossíntese testada em camundongos permitiu destruição de células cancerígenas
  • Tecnologia deve abrir novos caminhos para usos biomédicos do ouro

Uma equipe de cientistas de duas universidades de Maryland (EUA) demonstrou um método pioneiro de uso de ouro para tratamento de tumores. O elemento já é usado e pesquisado em tratamentos contra tumores, mas esta é a primeira vez em que é descrita uma forma de biossíntese —criação de compostos químicos por meio de seres vivos.

No estudo de Maryland, publicado no início do mês na Nature Communications, as nanopartículas de ouro não são sintetizadas em tubos de ensaio e depois injetadas, e sim produzidas dentro do próprio corpo do paciente —ou camundongo, no caso. A descoberta tem potencial de inovar e expandir as aplicações biomédicas do ouro.

"Desenvolvemos um sistema único em que as nanopartículas são produzidas em processo de redução por biomoléculas dentro das células", explicou Dipanjan Pan, professor de bioquímica da UMBC (Universidade de Maryland Baltimore County).

Uma vez sintetizadas, as nanopartículas de ouro podem ser usadas para visualização em raio-x ou em um processo chamado terapia fototérmica, que usa lasers para destruir células cancerígenas.

Para realizar a biossíntese, a equipe dissolveu as nanopartículas de ouro em polietilenoglicol, um composto farmacológico. O resultado é "ouro iônico", algo como sais de ouro misturados em um líquido.

Essa solução foi injetada diretamente em células cancerígenas isoladas. Em poucos minutos, as nanopartículas de ouro se formaram, sintetizadas em processo de redução química dentro das próprias células.

O passo seguinte foi testar o mesmo método em um tumor em um camundongo. Os mesmos resultados foram observados, e o método fototérmico para destruir as células cancerígenas foi aplicado com sucesso.

Para Pan, o estudo com camundongos exemplifica como "a formação intracelular e migração nuclear das nanopartículas apresenta uma abordagem muito promissora na administração de fármacos."

O uso clínico do método ainda depende de mais estudos que possam avaliar os efeitos a longo prazo do tratamento na saúde humana.

Por suas propriedades químicas e físicas, como o fato de não oxidar, o ouro é útil em aplicações médicas, não é tóxico a humanos e tem fama antiga por seu potencial na saúde.