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App de paquera valoriza voz do crush, mas ligação foi parar em Kosovo

Divulgação
Imagem: Divulgação

Daniel Leite

Colaboração para Tilt

25/04/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • App quer dar chance de encontrar pessoas legais sem apelar a "fotos espetaculares"
  • "Hello" faz ligações a país de sua escolha ou chamadas aleatórias entre quase 250 nações
  • Usuários reclamaram que muitas ligações vão parar na região de Kosovo, berço do app
  • Brasileiros são mais abertos a novas conexões, diz criador do aplicativo

Com o objetivo de usar a voz do usuário como principal atrativo, o aplicativo de relacionamento Hello - Talk, Chat & Meet (Android, iOS) tem ganhado mais adeptos pelo Brasil e Europa após a pandemia de coronavírus. Mas, nos testes, ele apresentou muitos problemas nas ligações telefônicas.

A divulgação oficial do app diz que dá a todos a chance de "encontrar pessoas legais, sem pré-julgamentos". Assim, em vez de fotos produzidas, a voz e o conteúdo da conversa serão o motivo de nascer uma amizade ou algo mais sério. Apesar disso, há uma opção de conversa por vídeo, caso os usuários queiram.

O aplicativo permite escolher o país onde a pessoa quer fazer a chamada de voz, ou selecionar uma ligação aleatória entre os 250 países disponíveis. A duração da conversa é de no máximo dois minutos. Nas versões pagas, é possível acrescentar tempo.

Para tentar a conexão com alguém, basta clicar num ícone telefônico no meio da tela. Nessa rápida conversa, é possível trocar contato e, se quiserem, continuam a se falar depois.

Alô, Kosovo?

Nos testes de Tilt com o app, foram escolhidos diversos países nas chamadas direcionadas: Alemanha, Portugal, São Tomé e Príncipe, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos, Argentina, Peru e Brasil, mas as ligações não foram atendidas.

Quando optamos por todos os países, a maior parte das chamadas foi direcionada para a região onde o app nasceu, no Kosovo. E essa é uma das queixas mais comuns de quem avaliou o aplicativo, pois boa parte das chamadas acaba caindo na parte sudeste do continente europeu.

Após algumas tentativas, conseguimos falar com um universitário de 22 anos. O usuário, que se identificou apenas como Dani, mora com os pais em Pristina, capital de Kosovo. Por causa da quarentena na região, não é permitido sair de casa entre 18h e 8h. Para enfrentar o isolamento, Dani passou a usar o Hello.

"O aplicativo é bom, mas depende com quem você fala, tem algumas pessoas que não querem conversar direito", disse, em inglês.

Na chamada seguinte, atendeu uma mulher de 24 anos, moradora da Albânia. Ao ser informada do motivo da chamada, perguntou qual era o idioma mais frequente das pessoas com quem já havíamos conversado.

Em tentativas seguintes para todos os países, o aplicativo alternou entre Alemanha, Macedônia, Suiça, Albânia e Kosovo. Por três vezes a chamada foi conectada em diferentes regiões da Europa, mas as ligações duraram poucos segundos porque quem atendeu se identificou, disse de onde era e desligou, geralmente depois de saber que se tratava de uma reportagem.

app Hello - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"É mais natural e divertido"

A estudante de enfermagem Layza Gabrielle Souza de Oliveira, 21 anos, mora em Viçosa (MG) e passou a usar o Hello para praticar inglês depois de ver uma pessoa comentando sobre o app no YouTube. Está satisfeita e agora faz uso dele por cerca de uma hora ao dia.

"Eu entrei mesmo para praticar inglês, mas também foi útil para fazer amizades. Quando estou com os amigos, gosto de ligar pois acaba sendo divertido. Às vezes quem está do outro lado da linha também está com outras pessoas", disse.

No início, as ligações de Layza iam para a região da Albânia, mas agora tem falado bastante com moradores da Itália e Alemanha e espera conseguir mais contato em países de língua inglesa. Para ela, o vídeo muitas vezes intimida e, por isso, sente-se à vontade apenas por voz. "É mais natural e acaba sendo mais divertido por ter só dois minutinhos para conversar."

Priorizar a "vibe da conversa"

Arian Kastrati, criador do app, disse ao Tilt que ele e o sócio chegaram à conclusão de que os apps de relacionamentos priorizam muito a imagem e "não o que realmente importa, que é a vibe de uma conversa".

Criado em 2016, o app já acumula cerca de dois milhões de downloads e mais de 500 milhões de chamadas. Foi testado em Pristina e depois ganhou espaço no restante da Albânia. Ao final de 2020, esperam triplicar o número de pessoas usando.

Segundo Kastrati, boa parte do crescimento recebeu impulso no período de isolamento do coronavírus. "As pessoas parecem procurar meios de falar com outras pessoas. Os usuários gostam do modo simples de se conectar com quem está em seu país ou no mundo", diz.

Kastrati diz que os brasileiros são muito abertos a novas conexões. "Em outros países é diferente. Existe uma distância muito maior entre pessoas desconhecidas". No Brasil, já foram feitos 70 mil downloads do app,

O criador do Hello tem ciência de que muitas ligações caem na região do Kosovo e disse que está trabalhando numa solução para garantir uma interação maior entre usuários de outras partes do mundo.