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Até onde você iria pelos amigos? Bactérias se matam para proteger colônias

O estudo aponta que comportamento das bactérias está ligado à seleção natural - Getty Images/iStockphoto
O estudo aponta que comportamento das bactérias está ligado à seleção natural Imagem: Getty Images/iStockphoto

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

11/03/2020 12h51

Até onde um soldado iria para proteger seus companheiros em uma guerra? Ao que parece, as bactérias não têm limite para responder essa pergunta. Algumas delas tomam medidas extremas para proteger suas colônias, chegando a se suicidar, segundo estudo realizado pelos cientistas ingleses Elisa Granato e Kevin Foster, pesquisadores da Universidade de Oxford.

"Quando as bactérias lutam contra outras bactérias, elas têm todo um arsenal de armas à sua disposição, variando de pequenas toxinas difusíveis a lanças venenosas. E enquanto algumas espécies atacam apenas quando sentem perigo, outras são hiperagressivas e não evitam ataques preventivos na ausência de um competidor. Algumas chegam a se envolver em ataques suicidas, o que deixa as células atacantes mortas e os biólogos evolucionistas intrigados", diz Granato.

O estudo foi realizado com bactérias E. coli modificadas e não modificadas. Os pesquisadores perceberam que, primeiramente, as não modificadas começaram o ataque, conseguindo destruir a linha de frente adversária.

Percebendo o perigo, as bactérias que estavam atrás começaram a se autodestruir, acumulando suas próprias toxinas. Ou seja, em vez de usarem as toxinas para atacar as rivais, elas as acumulavam como uma espécie de munição. Após esse processo, elas explodiam, lançando-as de forma mais potente nos adversários, ampliando, com isso, a possibilidade de sobrevivência da colônia.

O estudo aponta que esse tipo de comportamento das bactérias está ligado à ideia de seleção natural. Além disso, não foi possível computar o número de células que se sacrificaram para a manutenção da colônia, já que não dá para distinguir os suicídios programados das mortes causadas pelas toxinas adversárias.

Em resumo, isso pode trazer novas pistas sobre como o comportamento das bactérias influencia na seleção natural das espécies.

Apesar de ser difícil distinguir o que é e o que não é suicídio, o levantamento mostrou que 85% das bactérias presentes na "batalha" liberaram suas próprias toxinas. Em algumas circunstâncias, esse índice atingiu 94%. Com essa busca alta pela defesa, conclui-se que os suicídios das bactérias só ocorrem quando elas se sentem "acuadas" e entendem que irão morrer de qualquer maneira.

"Do ponto de vista evolutivo, isso torna o comportamento livre de cobrança, pois essas células têm zero potencial reprodutivo. Isso explica como o suicídio de células em massa pode evoluir, pois qualquer pequeno benefício para os companheiros sobreviventes pode levar a estratégia a ser favorecida pela seleção natural", diz o estudo.

A descoberta mostra que o instinto de sobrevivência da espécie está a frente do "pessoal" em indivíduos com baixo potencial reprodutivo. Assim, o levantamento faz um paralelo dos ataques suicidas das bactérias com algumas espécies de insetos, como algumas formigas e abelhas que não tem capacidade de reprodução e se sacrificam pelo bem da espécie.

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