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Simulador de mama: você já pode ver como ficará implante antes da cirurgia

Simulador de mamas MEDvirtua, da startup Usphera XR em parceria com a Intel - Reprodução
Simulador de mamas MEDvirtua, da startup Usphera XR em parceria com a Intel Imagem: Reprodução

Luiza Vidal

Colaboração para Tilt

08/01/2020 04h00Atualizada em 08/01/2020 19h40

Sem tempo, irmão

  • Tecnologia da startup em parceria com Intel permite ver resultado de implantes
  • Simulador promete precisão de 80% a 95% nas cirurgias estéticas ou reparadoras
  • Kit com câmera, computador e software será vendido só a locais com CRM
  • Equipamento terá valor de R$ 29,8 mil e começará a ser entregue em março

Cirurgias plásticas são procedimentos invasivos que costumam mexer com a autoestima da pessoa, principalmente os de implantes ou de redução de mama. Imagina, então, se a (o) paciente conseguir ver como ficará o resultado antes mesmo do procedimento? Pois é, isso já possível há alguns meses, com uma tecnologia da startup Usphera XR em parceria com a Intel.

O nome dela é MEDvirtua, um simulador de mamas que promete uma precisão de 80% a 95% nas cirurgias estéticas ou reparadoras. O equipamento funciona da seguinte maneira: a pessoa se posiciona a aproximadamente um metro de distância da câmera ligada ao computador. Depois, o corpo dela é escaneado e o médico vai acrescentando as medidas necessárias. Veja o vídeo abaixo:

O cirurgião consegue medir a distância entre a clavícula e o centro das mamas, por exemplo. Esta é uma medida pré-operatória importante e que, normalmente, é obtida com uma fita métrica. Já a paciente consegue ver, em tempo real, como ficará o resultado do procedimento por meio da imagem em 3D. Ela pode se movimentar em até 45º enquanto se observa na câmera, que funciona como um espelho.

Como funciona o software?

De acordo com a cofundadora da startup, Andreia Marin Martins, o sistema é intuitivo e fácil de ser usado. "O software é 'user friendly' [amigável ao usuário], é como se fosse um jogo. A curva de aprendizado do médico para aprender é menor, e o tempo que ele leva para fazer a simulação também é [em relação ao procedimento convencional]", explica Martins.

O software já vem embedado no computador para garantir a qualidade da imagem em tempo real. Para isso, é necessário ter um bom processador no equipamento. É exatamente por isso que não é possível comprar apenas a licença do software. O MedVirtua é um kit —câmera, computador e software— vendido apenas para locais que apresentem o número de CRM (Conselho Regional de Medicina).

O uso do sistema também vai promover uma base de dados sobre a anatomia do corpo da mulher brasileira, além de informações sobre quais cirurgias são feitas. Por trazer inteligência artificial, o resultado fica cada vez melhor conforme o seu uso.

Imagens em 3D

Acoplada ao computador, a câmera Intel RealSense D415 tem 9,9 centímetros —quase do tamanho de uma palma da mão— e usa uma tecnologia de profundidade que é capaz de ler o corpo do paciente por meio do recurso em 3D e, com isso, trabalhar a volumetria dos seios.

"Com todas essas informações exatas, o médico é capaz de replicar o objeto real em um ambiente virtual, que é esse modelo da malha mamária", afirma Barbara Toledo, gerente de marketing da Intel. "[É] diferente de uma fotografia, que você tem apenas as cores e posições, e não a profundidade da imagem".

O MEDvirtua poderia ter sido desenvolvido em um celular também, mas o computador foi o ambiente escolhido por ser mais completo para o médico e também apresentar uma visão mais ampla do corpo.

A câmera roda em um computador com configurações avançadas: processador Intel Core i7 de sétima geração, 12 GB de memória, 1 TB de armazenamento e monitor sensível ao toque de 23,8 polegadas com resolução full HD. O pacote inclui ainda suporte regulável para a câmera e mala de transporte.

Antecipa até as cicatrizes

O cirurgião plástico Rodrigo Cericatto, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, conta que o uso do MEDvirtua tem sido positivo. "Às vezes, a mulher fala que quer um implante pequeno, mas, esse 'pequeno' pode ser um tamanho médio. A ideia é facilitar essa comunicação entre paciente e médico para chegar o mais próximo possível do resultado final", diz.

Segundo Cericatto, o software também é capaz de mostrar como devem ficar as cicatrizes da cirurgia e, com isso, a paciente pode escolher a posição e o tipo de técnica que vai escolher.

Em uso apenas neste hospital, a ideia é levar o MEDvirtua para instituições públicas neste ano, não só pelo maior número de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), mas também com o objetivo de treinar residentes e interessados na área. A partir dessa etapa, o kit terá o valor de R$ 29,8 mil e começará a ser entregue em março.

A posição dos médicos

[ATUALIZAÇÃO 8.jan.2020 17h54] Em nota, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) informou que "a promessa de resultados é vetada pelo Código de Ética Medica". Isso porque aparelhos como esse dão uma porcentagem de precisão nos resultados. Na visão deles, procedimentos assim têm um caráter "subjetivo". Mas também diz que as "inovações e tecnologias são bem-vindas na medicina, incluindo ferramentas que possibilitam planejamento cirúrgico por meio de novas tecnologias computacionais".

O CFM (Conselho Federal de Medicina) explicou que médicos e clínicas não podem usar o aparelho para oferecer promessas em propagandas e/ou divulgações. Pelo telefone, a assessoria disse que mandaria uma nota oficial até quinta-feira (9).

Procurada pela reportagem, uma porta-voz da Usphera XR respondeu que "a tecnologia não é o retrato da realidade", e que a empresa não pretende, com ela, "dar 'promessas' de resultado. (...) Mas, trata-se de um processo cirúrgico, tudo pode acontecer, e o médico deve alertar a paciente sobre isto, como eles já fazem normalmente".

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