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Diante de acusações de espionagem, Huawei pode deixar mercado dos EUA

Philippe Wojazer/Reuters
Imagem: Philippe Wojazer/Reuters

Do UOL, em São Paulo

18/04/2018 13h01

A Huawei, terceira maior fabricante de celulares do mundo, pode estar de malas prontas para deixar o mercado norte-americano. Especulações sobre esse movimento ganharam força após a demissão de cinco norte-americanos do quadro de funcionários da empresa.

Entre eles, estava o principal lobista da companhia junto ao governo dos Estados Unidos, William B. Plummer. Plummer tinha o cargo de vice-presidente de assuntos exteriores da empresa.

A razão para isso é o ápice de uma situação desconfortável para a empresa no mercado norte-americano que já dura mais de uma década e meia.

Tudo começou em 2003, quando quando a empresa foi acusada de roubar códigos de software de roteadores da Cisco.

Daí em diante, os questionamentos sobre a postura ética da empresa foram se avolumando. A situação piorou em 2011, quando o Departamento de Defesa dos EUA comunicou o Congresso dos EUA sobre uma conexão de risco entre a companhia e as forças militares da China. Essa tese foi reforçada no ano seguinte devido a um relatório do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes.

O ápice da crise veio no início deste ano, quando diretores de CIA, FBI e NSA afirmaram haver a chance de que celulares da Huawei colocam a segurança nacional do país em risco devido as ligações da empresa com o governo chinês - ainda que, oficialmente, a Huawei seja uma empresa privada e de propriedade de seus funcionários.

Há, inclusive, uma proposta de lei em tramitação no Congresso dos EUA que visa proibir que agências do governo norte-americano e funcionários terceirizados utilizem aparelhos fabricados pela empresa.

A FCC (espécie de Anatel local) também aprovou uma nova regra que proíbe operadoras norte-americanas subsidiadas pelo governo de usar fornecedores que possam significar um risco à segurança nacional norte-americana.

E, claro, a recente batalha comercial entre a administração de Donald Trump e o governo chinês não ajuda em nada uma possível recuperação da empresa no mercado dos EUA.

Entregando os pontos

Com as demissões, a Huawei passa a impressão de ter desistido de atuar no mercado norte-americano. A empresa, inclusive, diminuiu consideravelmente sua verba destinada a lobby junto ao governo dos EUA: em 2012, US$ 1,2 milhão era destinado a esse fim, contra os US$ 60 mil gastos em 2017.

Mesmo com todos esses sinais e um cenário totalmente desfavorável, a empresa não emitiu nenhum comunicado que aponte uma retirada do mercado norte-americano.

Ainda assim, durante uma reunião anual com analistas na última semana, o vice-presidente da empresa Eric Xu, disse frases "filosóficas" como "algumas coisas não podem mudar o seu rumo de acordo com nossos desejos" e "em relação a algumas coisas, quando você simplesmente as deixa acontecer, você na verdade se sente muito mais tranquilo".

Quem tende a não gostar desse movimento são pequenas operadoras de telefonia dos EUA, especializadas em atender áreas rurais do país.

Em entrevista ao jornal "The New York Times", a conselheira da Rural Wireless Association (um grupo que reúne operadoras de telefonia com menos de 100 mil clientes) Carri Bennet disse que essas empresas menores adoram os aparelhos da Huawei.

Entre as qualidades apontadas, estão o fato de eles funcionarem bem, ter um bom atendimento ao cliente e preço atrativo.

Para ela, ao invés de proibir determinadas fabricantes, o governo dos EUA deveria criar maneiras de avaliar equipamentos em busca de vulnerabilidades.

A julgar pelos últimos movimentos, o desejo de Bennet parece bem distante de acontecer.