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Qual a melhor plataforma de financiamento coletivo para seu projeto?

Andrey Popov/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Andrey Popov/Getty Images/iStockphoto

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

05/04/2018 04h00

Tem uma ideia, mas não tem o dinheiro para executá-la? Quer obter uma fonte de renda diferente para manter um canal no YouTube? Precisa de recursos para uma emergência médica? Na última década, a internet criou meios para que situações que não eram tangíveis financeiramente se tornassem possíveis e até sustentáveis.

As plataformas de financiamento coletivo já deixaram de ser novidade, se estabeleceram e atualmente são caminhos para a viabilização de diferentes objetivos. A mais conhecida delas é o Kickstarter, fundado em 2009 e famoso por bancar invenções como o Oculus Rift, mas desde então outros modelos para arrecadação de fundos surgiram com propostas e restrições distintas.

No Brasil, empresas como Catarse, Kickante e Vakinha apresentam um modelo-base que se assemelha ao da plataforma mais popular de financiamento coletivo no mundo. As três trazem campanhas que têm como meta um montante único predeterminado (que pode ser excedido), com uma data limite de arrecadação.

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O trio é mais velho que os novatos Padrim e Apoia.se, que vieram com uma proposta diferente, de um financiamento colaborativo recorrente, com pagamentos mensais, na linha do que se popularizou no exterior com o Patreon.

Pedro Zavitoski, sócio-fundador do Padrim, afirmou que a plataforma brasileira foi criada com inspiração na americana, mas adaptada às características do mercado nacional, o que traz vantagens tanto para os apoiadores quanto para os criadores das campanhas.

“Percebemos que, para quem estava no Brasil, usar o Patreon era ineficiente, no sentido financeiro. Tinham muitas taxas envolvidas escondidas. Quem paga, paga IOF, quem recebe paga IOF também. É restritivo porque nem todo mundo tem cartão internacional, acesso de usar uma plataforma em inglês. Excluía boa parte do Brasil. Muita gente não usa cartão, prefere usar boleto”, explicou.

Padrim, Apoia.se e Catarse oferecem esse estilo de negócio, mais indicados a projetos contínuos, que precisam de um fluxo constante de caixa para se manterem. Os casos de maior adesão são produtores de conteúdo independentes, mas não se restringem a isso, como exemplifica a Operação Serenata de Amor.

Rosie - Facebook/Reprodução - Facebook/Reprodução
Serenata de Amor começou em um modelo e mudou para outro
Imagem: Facebook/Reprodução

Ela é uma inteligência artificial desenvolvida com a finalidade para controle social da administração pública que recebe o apoio mensal de mais de 600 pessoas, arrecadando mais de R$ 12 mil por mês para fazer o controle de gastos dos parlamentares brasileiros, resultando em denúncias contra irregularidades de políticos.

Entretanto, antes de adotar essa fórmula, o grupo responsável pelo projeto testou o financiamento coletivo em 2017 no Catarse, com uma ideia de começo, meio e fim. “No final do projeto, o pessoal pediu para dar nossa conta [bancária] para que a gente não parasse o trabalho”, lembrou Felipe Cabral, cofundador da Serenata de Amor, que comparou as duas fases da ideia.

“Estamos começando um trabalho de conferir todos os diários oficiais, para trabalhar com todas as bases de liberação de licitação, o que é um trabalho quase infinito. Por isso o [financiamento coletivo] recorrente faz sentido. Quanto mais apoio, mais pessoas na equipe, mais projetos paralelos a gente pode colocar em cima disso”, explicou.

A primeira etapa da Serenata levou três meses, consumindo os R$ 80 mil arrecadados e levantando 629 denúncias à Câmara dos Deputados e questionamentos sobre mais de R$ 378 mil possíveis ilegalidades na Cota para Exercício da Atividade Parlamentar.

A continuidade do trabalho veio com o novo modelo de campanha, que teve sua primeira atualização aos apoiadores publicada em fevereiro de 2017 – desde então, foram mais 43.

Outro caso de destaque no Apoia.se é a revista Dragão Brasil, segunda maior campanha na plataforma. JM Trevisan, editor executivo da publicação, contou que, sem apoiadores, ela não existiria.

“Não enxergo outra forma de fazer a revista. A gente conseguiu muito apoio, fomos muito além. Quando lançamos a campanha, nossa meta máxima era R$ 8 mil, para um podcast. A gente tinha previsão de chegar em uns três meses. Batemos em menos de 12 horas”

Trevisan também teve experiência no outro formato de financiamento, para a produção do jogo Desafio dos Deuses. Com R$ 75 mil arrecadados, o projeto também foi um sucesso.

“Essas campanhas deviam ser usadas para trazer coisas que de outro jeito não poderiam ser feitas: o livro que uma editora não vai fazer porque é de nicho, uma revista que não vai para a banca”, opinou.

Recebendo os rendimentos da campanha

Por terem formatos diversos, as diferentes plataformas arrecadam e encaminham o dinheiro de formas distintas. Catarse e Kickante têm duas variações no modelo que adota data limite para o final das campanhas e um objetivo de arrecadação.

Uma delas é chamada pelas duas plataformas como “Tudo ou Nada”, ou seja, há um cenário de sucesso ou fracasso das campanhas: se até o último dia dela não haver o acúmulo de fundos de acordo com o objetivo pré-estabelecido, os apoiadores serão reembolsados e o projeto não será financiado. Este é o modelo mais indicado para produção de livros ou invenções – projetos de começo, meio e fim.

A outra forma é chamada de “Flex” no Catarse e “Flexível” no Kickante. Nestes casos, apesar das metas de dias e valores, não há sucesso ou fracasso. A campanha ficará com o que foi doado, atingindo ou não o valor estipulado, o que encaixa melhor a causas sociais, doações a ONGs e ajuda pessoal.

É o modelo apresentado pelo Vakinha, pioneiro em financiamento coletivo no Brasil (existe desde 2009).

“No Vakinha, nosso modelo de negócio nunca foi atrelar o sucesso da campanha ao cumprimento da meta. Como lidamos com muitas causas sociais, doenças, tratamentos, causa animal, sempre foi presente para nós que qualquer ajuda amenizaria ou ajudaria, e este é o nosso propósito”, explicou Cristiano Meditsch, diretor de marketing da empresa.

Pela proposta do Vakinha, você pode sacar o dinheiro antes do fim da campanha, com um prazo de 14 dias a partir de cada contribuição. Se por exemplo, você recebeu R$ 50 de um amigo, você poderá sacar esse dinheiro 14 dias depois. 

É justamente na hora do saque que outras diferenças são mostradas entre as plataformas. No Kickante, há um desconto de 12% em campanhas normais e 10% sobre emergências pessoais ou causas sociais (ONGs e empreendedorismo). No Catarse, a taxa é de 13%. Já o Vakinha cobra 6,4%, mais 50 centavos sobre cada doação, além de uma tarifa de R$ 5 por saque (o primeiro deles tem limite de segurança de R$ 5 mil, sem restrições posteriormente).

Nos casos das plataformas de financiamento contínuo, as taxas são semelhantes, cobradas mensalmente de acordo com os apoios: 12% no Padrim e 13% no Apoia.se.