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Projeto quer melhorar bateria do celular ao tornar apps mais econômicos

Pesquisa da UFMG foi uma dos premiados pelo Google - Divulgação
Pesquisa da UFMG foi uma dos premiados pelo Google Imagem: Divulgação

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

26/08/2017 04h00

Os programas feitos para celular estão cada vez mais complexos e muitos acabam exigindo mais do processamento dos aparelhos. Agora, imagine se os aplicativos fossem capazes de detectar sozinhos quando é preciso diminuir seu próprio consumo de energia.

Um projeto de pesquisa realizado na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) tem investido seus esforços nessa solução. Segundo o professor Fernando Magno Quintão Pereira, projeto visa exatamente reduzir o consumo de energia de aplicativos, de modo geral.

O protótipo, que está sendo desenvolvido junto a outros dois estudantes da universidade, usa a capacidade de aprendizado da máquina para que no futuro ela consiga se adaptar a diferentes realidades.

“É um jeito de mudar a frequência dos processadores que serve, por exemplo, para economizar bateira. É fazer o sistema identificar os momentos em que ele pode gastar menos energia para executar um comando”, explicou.

“Imagina você digitando no WhatsApp. O processamento disso é muito rápido. Entre uma letra e outra o sistema consegue identificar que ali [nesse curtíssimo espaço de tempo] ele pode consumir menos energia e em seguida voltar ao normal”, acrescentou o professor.

Diante da iniciativa, o projeto foi premiado na última quinta-feira (24) pelo Google no Lara (Latin America Research Awards), um programa de bolsa de estudos da empresa voltado para pesquisas que envolvem ciência da computação na América Latina.

O estudante de mestrado Junio Cezar Ribeiro da Silva, que participa do projeto com o colega Marcelo Novaes, acredita que usar a tecnologia em pesquisas acadêmicas tem tudo para dar certo. Além disso, a experiência dentro da universidade pode contribuir bastante para a atuação dos estudantes no mercado de trabalho, em geral.

“O bacana da pesquisa é que não tem limite. Os únicos [obstáculos] são a criatividade e as leis matemáticas”, brincou o professor Pereira.

Celular como alerta de quedas

Outro projeto brasileiro que chamou a atenção do Google foi o uso de dispositivos móveis (como smartphones, relógios inteligentes) para medir o risco de queda entre os idosos.

A pesquisa, desenvolvida pelo professor do departamento de ciência da computação da USP (Universidade de São Paulo) Moacir Ponti e pela estudante de mestrado da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) Patricia Bet, também foi uma das vencedoras da bolsa de estudos da empresa.

A ideia é usar os sensores de movimento que já existem nos aparelhos para identificar padrões de caminhada de idosos e apontar os riscos de queda dessas pessoas.

“Já se sabe que o idoso que caiu uma vez tem mais chances de cair novamente. Poder identificar se uma pessoa tem tendência de cair lá na frente é a proposta de nossa pesquisa”, disse Ponti.

Bet, que é formada em gerontologia, acrescenta que o sistema ajudará muito os profissionais da saúde. Para ela, receber a bolsa do Google foi a confirmação de que pesquisas em causas como essas são relevante e podem sim chamar a atenção de grandes empresas.

“Para sobreviver, eu nem penso”, diz professora sobre preconceito na tecnologia

Uma das questões abordadas durante premiação do Google foi a questão das poucas mulheres entre os projetos vencedores na América Latina. Das 54 pessoas que ganharam as bolsas de pesquisa, apenas seis eram mulheres, entre alunas e professoras orientadoras.

Para Adriana Noreña, vice-presidente do Google para América latina (fora o Brasil), é muito importante a presença de mulheres em tecnologia e pesquisa. “Necessitamos de mais projetos de mulheres. Tecnologia traz inovação e grandes mentes precisam ser incentivadas”, afirmou.

Cristina Nader Vasconcelos, professora da Universidade Federal Fluminense, foi uma das poucas vencedoras do programa. Ela faz parte de um projeto que usa a tecnologia para conseguir detectar câncer de pele baseado em imagens.

Segundo ela, o preconceito ainda é muito grande na área e começa cedo, principalmente na graduação. “Muitas alunas na área de tecnologia não se sentem representadas e acabam abandonando os cursos. A computação tem essa possibilidade de fazer coisas maravilhosas, com impacto social, mas elas não são estimuladas”, explicou.

“Num evento [de tecnologia] uma vez pediram para a gente se apresentar para a pessoa do lado. Um senhor começou a falar sobre ele e quando chegou na minha vez ele disse: ‘não precisa falar nada não, eu sei que você veio acompanhar seu marido’”, lembrou. “E olha que era um evento em que eu tinha um bom conhecimento da área e ele estava lá só para conhecer.”

Para ela, muitas vezes é melhor não pensar no assunto e criar uma espécie de bolha e fazer o melhor que pode em seu trabalho.

Latin America Research Awards 2017

Representantes de 27 projetos acadêmicos na América Latina foram premiados com bolsas de pesquisas oferecidas pela empresa. O total investido gira em torno de 2 milhões de reais.

Realizada no Google Campus, em São Paulo, a premiação deste ano contemplou 17 pesquisas feitas por brasileiros. Os demais se dividem em projetos na Argentina, Colômbia, Chile, México e Peru. Ao todo, 281 projetos participaram da seleção.  

Os ganhadores receberão ao longo de um ano bolsas nos valores de: US$ 1.200/mês (doutorandos), US$ 750/mês (mestrandos). Os professores orientadores terão direito a US$ 750/mês para projetos de doutorado e US$ 675/mês para mestrados.

Vendedores do programa de bolsas para a América Latina  - Divulgação - Divulgação
Vendedores do programa de bolsas para a América Latina
Imagem: Divulgação