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Google muda política de anúncios novamente por crise do YouTube

Mark Bergen

03/04/2017 13h58

(Bloomberg) -- Após duas semanas de boicote publicitário ao YouTube pelos vídeos de incitação ao ódio presentes na plataforma, o Google está tomando mais medidas para conter uma crise que se tornou maior do que a companhia previa.

A principal divisão da Alphabet está lançando um novo sistema que permite que empresas de fora verifiquem os padrões de qualidade dos anúncios em seu serviço de vídeo e ao mesmo tempo está expandindo suas definições de conteúdo ofensivo.

Uma série de grandes anunciantes interrompeu os investimentos na rede de anúncios digitais do YouTube e do Google depois que os anúncios foram mostrados ao lado de vídeos que promoviam ódio, violência e racismo. A resposta inicial do Google, uma promessa de novos controles para os anunciantes, não foi suficiente para frear o boicote. A crise deu início a um debate acalorado no campo da publicidade digital sobre os padrões de garantias de qualidade, ou de "segurança de marca".

Desde então o Google melhorou sua capacidade de sinalizar vídeos ofensivos e de desabilitar anúncios imediatamente, disse o diretor de negócios da empresa, Philipp Schindler, à Bloomberg News, em entrevista recente. A Johnson & Johnson, uma das maiores anunciantes entre as que cortaram gastos, informou que está revertendo sua posição na maioria dos grandes mercados.

Desde o início do boicote, o Google tem dedicado mais ferramentas de inteligência artificial a decifrar a enorme biblioteca de vídeos do YouTube. A companhia é pioneira no campo e tem utilizado aprendizado automático, um tipo poderoso de IA, para melhorar muitos de seus produtos e serviços, incluindo recomendações de vídeos no YouTube e serviços de publicação de anúncios.

Classificar automaticamente vídeos inteiros, depois sinalizar e filtrar conteúdo é um trabalho de pesquisa mais difícil e caro -- no qual o Google não focava muito até então.

"Nós passamos a usar uma geração completamente nova dos nossos maiores e mais recentes modelos de aprendizado de máquina", disse Schindler. "Não os havíamos empregado neste problema, porque este era um problema minúsculo. Temos recursos limitados."

Em conversas com grandes anunciantes, o Google descobriu que os vídeos tóxicos do YouTube mostrados em reportagens recentes na imprensa representavam cerca de um milésimo do percentual total de anúncios exibidos, disse Schindler.

Contudo, com o tamanho do YouTube, o volume pode aumentar rapidamente. E a atenção sobre o problema coincidiu com a pressão cada vez maior do setor sobre o Google, o maior vendedor de anúncios digitais do mundo, por padrões de medição mais rígidos. Uma demanda frequente tem sido a de que o Google permita que outras empresas verifiquem os padrões do YouTube.

O Google está permitindo isso agora, criando um canal de denúncias de "segurança de marca" que permite que os anúncios do YouTube sejam monitorados por parceiros externos como comScore e Integral Ad Science, segundo uma porta-voz da companhia.

O Google fez um progresso rápido por conta própria, disse. Usando as novas ferramentas de aprendizado de máquina e "muito mais pessoas", nas últimas duas semanas a companhia sinalizou cinco vezes mais vídeos como "não seguros" ou desabilitados para anúncios do que antes.

"Mas são cinco [vezes] sobre o menor denominador que você possa imaginar", disse Schindler. "Embora historicamente seja um problema muito, muito pequeno, podemos torná-lo ainda muito, muito, muito menor."