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Ao comprar WhatsApp, Mark Zuckerberg pagou bilhões para ser parte do futuro

Mark Zuckerberg discursa durante o Mobile World Congress 2014 - Lluis Gene/AFP
Mark Zuckerberg discursa durante o Mobile World Congress 2014 Imagem: Lluis Gene/AFP

Jorge Castro

Do Clarín, em Buenos Aires (Argentina)

21/03/2014 16h17

O que Mark Zuckerberg disse após comprar a empresa de mensagens de textos WhatsApp por US$ 19 bilhões foi: “É uma barganha. O WhatsApp conseguiu 465 milhões de usuários em cinco anos, que serão 1 bilhão em outros cinco; e cada passo deste projeto destinado a conectar a população do mundo está carregado de valor. Só é preciso ativá-lo.”

O custo de um investimento se mede, no mundo da alta tecnologia, segundo a produtividade futura dos ativos que são comprados, esquecendo as altas e baixas, e dessa forma se fixa sua rentabilidade provável no médio/longo prazo.

O WhatsApp tem 34 funcionários e dispõe de um fluxo de caixa de US$ 4 milhões, com uma dívida de US$ 60 milhões, que constituem três quartos de seu capital, fornecida por um fundo de investimento californiano (Sequoia Corp.).

A compra realizada pelo fundador do Facebook se funda em outros dados: o número de usuários de telefonia móvel interativa (smartphones) atingiria 5 bilhões em 2020 (J. P. Morgan), o que se aproxima da população total do planeta; e a partir deste mês o WhatsApp oferece aos seus usuários, praticamente grátis, um serviço de voz somado a suas mensagens de texto.

Isso implica uma perda de centenas de milhares de milhões de dólares para as empresas telefônicas internacionais, e acarreta, correlativamente, uma gigantesca diminuição nos custos da interconexão global, que se volta a passos largos para seu destino de gratuidade.

A Facebook não comprou um objeto, mas uma oportunidade.

Ela consiste em interconectar 1 bilhão de pessoas, sob a premissa de que a interconexão reciprocamente ativa (internet móvel) abrangerá nesse momento só 2 milhões e meio a menos do que a população total do planeta. O investimento na alta tecnologia é uma aposta na incerteza. Zuckerberg criou um investimento que possui a maior economia de escala do mundo, com custos marginais que se orientam a zero.

Ele pagou US$ 19 bilhões para ser parte do futuro.

Essa compra não é exceção, mas regra na alta tecnologia. As empresas high tech têm realizado compras e aquisições por US$ 50 bilhões nos últimos 12 meses -- e estão prestes a realizar um investimento similar neste ano.

O salto qualitativo que a aquisição de WhatsApp implica é o resultado de 50 anos de vigência acumulada da “lei de Moore”. Como uma moderna lei de gravidade, ela descreve o fato de que a capacidade de processamento da informação se duplica a cada 18 meses, enquanto seus custos caem pela metade.

O efeito acumulado da regra fixada por Gordon Moore acelera o processo de “destruição criadora”, que constitui o motor da acumulação capitalista.

A transformação da quantidade em qualidade desencadeou um ciclo de extraordinária inovação tecnológica, fundado em dois vetores fundamentais: internet móvel (smartphones) e acesso virtualmente grátis “à nuvem” (cloud computing).

Por isso o sistema se tornou hiperconectado e superintensivo, em um processo cuja manifestação econômica é uma extraordinária queda dos custos de transação.

Também apareceu um mecanismo de acumulação virtual, que se transforma em “um estado da mente” (inteligência coletiva). Nele, a internet deixa de ser uma plataforma de comunicação e se transforma em uma avenida virtual onde são processadas todas as atividades humanas.

Por isso há uma contínua otimização no uso dos recursos, enquanto se multiplicam as oportunidades para os novos empreendedores. A tendência implícita leva à substituição da relação salarial pelas pequenas unidades produtivas constituídas por empreendedores, técnicos e profissionais, cuja receita provém do capital acionário.

O valor pago por Zuckerberg pelo WhatsApp provavelmente está subvalorizado.

Texto originalmente publicado no site do Clarín em Português