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Técnica de lentes gravitacionais descobre um dos maiores buracos negros já vistos

Impressão artística de buraco negro na Via Láctea - AFP Photo/Ho/ESA - Hubble
Impressão artística de buraco negro na Via Láctea Imagem: AFP Photo/Ho/ESA - Hubble

29/03/2023 13h35Atualizada em 30/03/2023 08h57

Astrônomos detectaram e mediram um dos maiores buracos negros já descobertos através de uma nova técnica que deve revelar mais sobre estas regiões do universo que não permitem a emissão de luz devido ao seu enorme campo gravitacional.

O buraco negro encontrado tem uma massa equivalente a mais de 30 bilhões de vezes a do Sol, de acordo com um estudo publicado nesta semana em uma revista científica da Royal Astronomical Society, do Reino Unido.

Ele é o primeiro cujas características são observadas pela técnica de detecção por lentes gravitacionais.

Este fenômeno é causado pela distorção do espaço-tempo por um objeto tão massivo — uma galáxia ou um buraco negro supermassivo — que é capaz de deformar a luz de estrelas e galáxias.

Mas, embora uma galáxia possa ser observada, não é o caso de um buraco negro, pois, devido à sua densidade, nem mesmo a luz consegue escapar dele, o que o torna invisível.

Desta vez, os astrônomos tiveram "muita sorte", contou à AFP o autor do estudo, James Nightingale, astrônomo da Universidade de Durham, na Grã-Bretanha.

Foi possível observar a luz de uma galáxia cuja trajetória foi desviada em cerca de 2 bilhões de anos-luz, confirmando a presença de um buraco negro com gravidade gigantesca e invisível entre a galáxia e a Terra.

Acredita-se que a maioria das galáxias tenha um buraco negro em seu centro. Mas, até agora, para detectar sua presença, era necessário observar as emissões de energia produzidas ao absorver materiais ao seu entorno ou mesmo acompanhar sua influência na trajetória das estrelas que o orbitam.

100.000 lentes gravitacionais

No entanto, esta técnica só funciona para buracos negros próximos da Terra.

A técnica das lentes gravitacionais permite "descobrir buracos negros em 99% das galáxias que atualmente são inacessíveis" à observação tradicional, por estarem muito distantes, diz o astrônomo.

Existem cerca de 500 lentes gravitacionais, das quais pelo menos uma é agora um buraco negro supermassivo. Mas "este cenário está prestes a mudar radicalmente", de acordo com Nightingale.

A missão Euclides da Agência Espacial Europeia, prevista para julho, dará início a uma nova era de caçadores de buracos negros, criando um mapa de alta resolução de parte do universo.

De acordo com o cientista, ao longo de seis anos de observação, a missão pode ser capaz de detectar até 100.000 lentes gravitacionais, incluindo potencialmente vários milhares de buracos negros.

Essas observações confirmam e explicam a análise feita por Alastair Edge, astrônomo da Universidade de Durham e colega de Nightingale, há 18 anos, quando suspeitava da presença de um buraco negro no centro da galáxia Abell 1201.

© Agence France-Presse