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Helton Simões Gomes

Formado pela Faculdade Cásper Líbero e com especialização em economia e mercado financeiro, foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal G1. No UOL desde 2017, foi repórter de Tilt e editor do núcleo de diversidade. Ganhou os prêmios CNI de Jornalismo, Diversidade e Respeito do Conselho Nacional do Ministério Público e o Prêmio UOL - 2021, na categoria iniciativa inovadora. Atualmente, é editor de Tilt.

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Editor

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São Paulo

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Inglês e Espanhol

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Pai' do antivírus revolucionou, mas golpes hoje vão além da tecnologia

John McAfee em entrevista realizada em Havana, Cuba, em 4 de julho de 2019 - Alexandre Meneghini/Reuters
John McAfee em entrevista realizada em Havana, Cuba, em 4 de julho de 2019 Imagem: Alexandre Meneghini/Reuters

Colunista de Tilt

27/06/2021 04h00

Encontrado morto em sua cela de prisão na Espanha pouco antes de ser deportado para os Estados Unidos, John McAfee fez da cibersegurança um baita negócio ao criar o primeiro antivírus comercial de sucesso. Mas o mundo, que no passado ele revolucionou, hoje funciona diferente.

Há quatro anos, ele me contou que seria mais complicado fundar a McAfee atualmente, porque tudo está conectado, de TVs a geladeiras e torradeiras, passando, é claro, pelos smartphones. Ainda assim, ele julgava ter algumas soluções. Ele não previa, porém, que os problemas de segurança seriam menos high-tech e mais pé no chão, como o "golpe do delivery" e o furto de celular "limpa contas".

Isoladas durante a pandemia para evitar se contaminar pelo novo coronavírus, as pessoas fizeram do uso de apps de entrega um hábito. A nova rotina trouxe um incômodo agregado, o tal "golpe do delivery", tanto que:

  • Essa modalidade de estelionato disparou: as reclamações cresceram 186% em 12 meses fechados em maio. A repórter Letícia Naísa, de Tilt, conta que...
  • ... O modus operandi do trambique é todo trabalhado na engenharia social: após o pedido pelo app, chega uma mensagem avisando que outra pessoa fará a entrega. Em seguida...
  • ... Uma falsa central de atendimento confirma a história e diz que é preciso pagar uma taxa de entrega ao novo entregador, porque a taxa anterior será estornada. Aí...
  • ... O pedido chega e, na tela da maquininha, o valor parece estar correto. Porém, é cobrado uma grana maior. É a senha ser digitada, e o golpe está dado. Além disso...
  • ... Não param de chegar às delegacias denúncias de roubos de celulares seguidos por contas bancárias zeradas e empréstimos contratados. Acontece que...
  • ... Os criminosos aproveitam que apps de bancos estão instalados e fazem a festa. Ninguém sabe ainda explicar como eles destravam os smartphones e advinham as senhas de acesso e para autorizar as transações.

Se no primeiro golpe teve gente lesada em mais de R$ 11 mil, no segundo, uma vítima perdeu quase R$ 40 mil. Em crimes puramente digitais, já há notícia de que a polícia tenha recuperado a grana extorquida.

Caso mais emblemático foi o FBI ter retomado parte do dinheiro pago a criminosos que sequestraram os sistemas da maior rede de gasodutos dos EUA, responsável por 45% do abastecimento de gasolina, diesel e querosene para aviação da costa leste do país.

Nos crimes de cá, realizados em parte no mundo físico, o banco até estorna a grana surrupiada, mas amarga o prejuízo e nada de os criminosos serem pegos. Tudo bem que facilitamos, pois carregamos conosco o aparelhinho que é pivô de todos esse enrosco.

Aliás, da última vez que falei com McAfee, a preocupação dele era como os smartphones eram verdadeiras portas abertas para nossa privacidade. Tanto que ele estava para lançar um modelo seguro. Deu em nada, mas o negócio com criptomoedas ia bem.

Foi por causa delas que se envolveu na última polêmica em vida: autoridades norte-americanas o acusaram de usar informações privilegiadas para lucrar com a compra e venda das divisas. Antes disso, ele passou por Belize, onde montou um miniexército, foi acusado de matar um vizinho e de onde saiu fugido com a ajuda de um disfarce. Foi condenado a indenizar em US$ 25 milhões a família do falecido, que nunca viu a cor do dinheiro.

Quando eu o entrevistei pelo G1, ele disse que nada disso importava. "Aqui nos EUA, temos um ditado: 'não existe esse negócio de publicidade ruim'. Para mim, não importa o que vão dizer ou como irão me retratar. Não fará a menor diferença no longo prazo. As pessoas lembram do nome e esquecem dos detalhes. Essa é a natureza do ser humano."

Infelizmente, os antivírus viraram um detalhe.

IMPORTANTE: Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda no CVV e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.

O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil