Topo

Felipe Zmoginski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vamos ser a China amanhã? Veja o que o 5G fez por lá e compare com o Brasil

Grandes teles públicas da China foram responsáveis pela expansão do 5G no país - Divulgação/ China Mobile
Grandes teles públicas da China foram responsáveis pela expansão do 5G no país Imagem: Divulgação/ China Mobile

12/08/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

As redes móveis com tecnologia 5G "pura", que permitem explorar ao máximo as vantagens deste tipo de conectividade, estão estreando nas capitais brasileiras este ano. Há alguns dias, foi a vez da maior cidade brasileira, São Paulo, inaugurar sua rede, que já permite a usuários comuns, como eu e você, desfrutar de velocidades muito superiores às redes 4G e ter mais estabilidade na conexão.

Para além da satisfação dos usuários individuais, a introdução do 5G tem o potencial de transformar diversas indústrias, como a de logística, saúde, educação e até áreas mais tradicionais, como siderurgia e construção civil. Esta já é a realidade da China, país que lidera a implementação de conectividade 5G em todo o mundo.

De acordo com a UIT (União Internacional de Telecomunicações), órgão das Nações Unidas para as telecomunicações, na China mais de 381 cidades já contam com a rede 5G e 87% das áreas rurais do país devem estar sob cobertura 5G até o final do ano. O número de torres instaladas, que passa de 1,4 milhão, é também o maior do mundo, à frente de países como Estados Unidos, Alemanha e Japão.

Em termos proporcionais, no entanto, os países mais conectados são a Coreia do Sul, seguida por Kuait e Arábia Saudita e... Hong Kong, que é parte da China. Todas estas localidades têm em torno de 30% de sua população com acesso frequente ao 5G.

Na contramão do que ocorre no Brasil, nos Estados Unidos e mesmo na Europa, o sucesso do 5G na China deve-se a investimentos do Estado.

Enquanto na maior parte dos países ocidentais prevalece o modelo de exploração privada, em que diferentes companhias particulares arcam com os (pesados) investimentos na construção de novas redes, no país líder neste setor os gastos são feitos por grandes teles públicas, como China Telecom, China Mobile e Unicom.

O resultado da rápida expansão do 5G é o aumento da produtividade de diversas indústrias locais.

Em Jianxi, uma província no sudeste do país onde prospera a indústria siderúrgica, as clássicas imagens de trabalhadores pingando suor em ambientes quentes, com poeira e ruído para operar fornos foram substituídas por operações remotas. Utilizando joysticks ou teclado e mouse a partir de bases eventualmente a centenas de quilômetros do forno, operadores organizam a produção de aço e outras ligas metálicas. O método só é possível graças à baixa latência (tempo de demora entre o comando e a resposta, em uma rede de internet) das redes 5G.

A mesma característica (baixa latência) permitiu a ampliação do número de viagens feitas, em cidades como Guangzhou, Shenzhen e Xangai, por táxis autônomos, sem motoristas, e a ampliação de centros cirúrgicos operados remotamente.

Na China, país onde a regulação facilita o acesso à telemedicina (exames e consultas à distância), as cirurgias feitas por especialistas que estão longe do paciente estão permitindo que moradores de áreas remotas possam ser atendidos sem precisar viajar às grandes cidades, o que poupa recursos das famílias e dos serviços de saúde.

Na indústria de logística, a ampliação do 5G permitiu a disseminação de pequenos veículos autônomos, que se deslocam sobre calçadas, para uso na entrega de encomendas.

Na China, mais de 50% do varejo está concentrado em canais online. Para efeito de comparação, no Brasil, apenas 11% das compras de varejo acontecem em canais digitais.

O caso chinês é relevante por permitir observar, na prática, como o 5G deve impactar diversas indústrias no Brasil, contribuindo para o aumento de sua eficiência e produtividade.

O dilema atual, na China, é como manter sua rede 5G em expansão ao mesmo tempo que o país depende de alguns componentes importados, como microprocessadores.

Em função da guerra comercial (e tecnológica) com os Estados Unidos, autoridades americanas têm pressionado parceiros na Coreia, Alemanha e, especialmente, na Holanda (país que produz máquinas de fabricar chips) a não vender componentes para empresas chinesas.

Do nosso lado, o dilema de competir com o parque fabril chinês é que, quando atingirmos o nível de maturidade tecnológica por eles exibido agora, certamente sua indústria já estará em um novo nível de produção, mantendo-nos em posição de permanente atraso tecnológico.