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Felipe Zmoginski

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

China é o 1º país do mundo a ter o e-commerce maior que o varejo físico

Centro logístico de distribuição de produtos em Pequim - Reprodução/ Imprensa Oficial da China
Centro logístico de distribuição de produtos em Pequim Imagem: Reprodução/ Imprensa Oficial da China

11/03/2021 04h00

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A China é o maior mercado de comércio eletrônico do mundo há quase uma década. Dados da Trade International Administration, um órgão regulador americano, indicam que o país asiático, sozinho, responde por mais de 50% de todos os pedidos online feitos no mundo.

Nesta semana, novos números deram forma à força do e-commerce da China. Dados dos dois primeiros meses de 2021 mostram que as vendas feitas em lojas online foram maiores que a soma de todas as vendas feitas em lojas físicas.

Coloque aí os mercadinhos da esquina, os grandes shopping centers, os quiosques operados por senhorinhas em galerias de compras, as grandes redes atacadistas, os outlets de compras, as vendas em postos em gasolina. Enfim, tudo isso somado gera, hoje, menos receita que as vendas realizadas por celular. Na ponta do papel, 51% a 49%.

Os números são impressionantes pois trata-se da primeira vez que algo do tipo ocorre — e acontece com grande antecedência na China.

Para efeito de comparação, números da eMarketer mostram que o segundo país com o comércio online mais desenvolvido, a Coreia do Sul, tem nas lojas digitais "apenas" 28,9% de suas vendas; número quase idêntico ao Reino Unido, economia mais online da Europa, onde as vendas digitais são 28,3% do varejo total.

No Brasil, números do eBit estimam em 10% o "market share" do e-commerce frente às lojas físicas.

Há três meses, a prestigiosa (e liberal, no sentido econômico) revista inglesa "The Economist" deu sua capa à China, apontando o país como o "líder em inovações no comércio eletrônico" em todo o mundo.

Explicar o motivo do sucesso estrondoso do e-commerce chinês é ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil pois alguns fatores são óbvios: o país tem a maior população online do mundo (900 milhões de usuários), sua população enriqueceu dramaticamente nas últimas três décadas (maior poder de consumo) e a migração do offline para o online acelerou-se em função da pandemia, como, aliás, ocorreu no resto do mundo todo.

Os fatores acima explicam muita coisa, mas não explicam tudo.

Um dos responsáveis pelo boom do e-commerce é a excelente infraestrutura do país. Com trens de alta velocidade cortando o país e armazéns operados por robôs, entregar um smartphone do outro lado do país em 24 horas é uma missão... factível. No Brasil, com transporte rodoviário, levar um produto de uma zona industrial, como a Grande São Paulo, até uma cidade do interior de Goiás é, comparativamente, muito mais difícil.

Outro fenômeno é a ascensão do social-commerce, sites em que se misturam características de redes sociais e de vendas, uma febre no país.

Registre-se ainda que setores tradicionalmente menos digitalizados, como o agronegócio, por exemplo, operam a maior parte de suas vendas online. Produtores rurais no interior profundo da China, via marketplaces digitais, oferecem suas laranjas, bananas e melancias para os moradores das grandes cidades via app. É como se cortássemos os mercadões e os ceasas da cadeia de vendas, jogando todas as transações para a web.

Se há um segmento da economia em que faz sentido praticar o "copy from china", nome original desta coluna do Tilt, tal segmento é o de e-commerce.