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OPINIÃO

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Por que federações de eSports nunca se justificaram?

Esports: federações nunca se justificaram - Bruno Alvares/Riot Games
Esports: federações nunca se justificaram Imagem: Bruno Alvares/Riot Games

Colunista do UOL

30/03/2022 06h00

Quem acompanha esportes tradicionais está acostumado à figura reguladora de federações, instituições que comandam competições e tentam (nem sempre de forma efetiva) unir as equipes participantes em prol de um mesmo objetivo. Nos esportes eletrônicos, a realidade é outra. Ainda que alguns órgãos tentem assumir protagonismo, quem comanda mesmo são as publishers, atendendo às necessidades específicas de cada game e entendendo cada cenário.

É explicável que, para quem não acompanha eSports, enxergar um mundo em que exista um futebol sem a presença da FIFA, por exemplo, é um tanto quanto surreal. Mas se explica: os jogos são propriedade intelectual das empresas responsáveis por publicá-los. Ou seja: quem melhor do que elas próprias para comandar os campeonatos e entender como o público gosta de consumir o seu jogo favorito no dia a dia?

É quase um consenso entre players, dirigentes e fãs de games competitivos em geral que não há nenhum benefício em quaisquer federações ou confederações que tentem "regulamentar" - e aqui, acredite, vale reforçar o quanto isso é entre aspas - o que se faz no esporte eletrônico. Normalmente, os discursos são rasos e custa acreditar que não estejamos diante de aproveitadores em busca de surfar na onda do sucesso.

Tomemos como exemplo a Riot Games, que até 2020 contava apenas com o League of Legends, administrando-o de forma a se tornar o que se tornou, e assumiu tomar conta do VALORANT e do Wild Rift com o mesmo zelo. A comunidade não precisa de órgãos reguladores, mas sim de empresas que passem credibilidade e ouçam os feedbacks de acordo, sem generalizar públicos ou formas de consumir conteúdos e transmissões.

Assim como fãs de futebol e de beisebol, por exemplo, se comportam de formas diferentes, o mesmo acontece com os que acompanham games (ou gêneros de games) distintos entre si. O fã de Rainbow Six Siege pode até ter similaridades com o de Dota 2 (ou um mesmo jogador pode curtir ambos os títulos), mas a compreensão de cada conteúdo precisa ser particularizada - e não jogada em um mesmo "balaio".

Não se trata, aqui, de falar que o esporte eletrônico não tem o que aprender com as modalidades tradicionais ou tratar o cenário competitivo de games como um mundo perfeito. Porém, há um contexto por trás de cada público. É totalmente utópico pensar uma federação que conseguisse absorver toda a expertise nesse sentido de forma a ser suficientemente capacitada para uma administração "geral".

Se você acompanha eSports há um tempo, já sabe. Se está começando agora, prepare-se e esteja ciente: há muita gente tentando se aproveitar de um sucesso construído a duras penas por quem acreditou, lá atrás, quando ninguém acreditava que havia capacidade para o cenário ser do tamanho que é. Confiança apenas em quem merece credibilidade!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL