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OPINIÃO

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Jogadores x organizações: Esports têm dificuldade de entender renovação

Sexycake, ex-jogador da Team Liquid - Divulgação/Rainbow Six Siege
Sexycake, ex-jogador da Team Liquid Imagem: Divulgação/Rainbow Six Siege

Colunista do UOL

17/10/2021 15h00

A construção de um elo de ligação entre jogadores e organizações funciona um pouco diferente no esporte eletrônico em relação às modalidades tradicionais. Há quem torça somente pelos atletas, há algumas equipes que têm força suficiente para mover massas, mas em geral a fidelização é um processo bem mais complicado - o que, muitas vezes, torna difícil desvincular a imagem dos pro players de um determinado time.

Um grande exemplo dos últimos anos é a line up da Team Liquid no Rainbow Six Siege. Campeã mundial em 2018 ao conquistar a Pro League de Atlantic City, a organização passou por naturais reformulações durante esse período. Zigueira, uma das figuras mais populares do FPS da Ubisoft, se aposentou como ídolo da organização - e nela permaneceu como streamer. Nesk segue na equipe. Porém, as saídas de Sexycake, outro remanescente dessas épocas gloriosas, e Muringa mostra como é difícil desvincular a relação entre atleta e time.

Presença "obrigatória" em campeonatos internacionais de Rainbow Six Siege nos últimos anos, a Team Liquid não conseguiu vaga no Six Sweden Major - campeonato que acontecerá na cidade de Gävle, no mês de novembro. Terá de assistir a quatro representantes nacionais jogarem o torneio (FURIA, Team oNe, FaZe Clan e Ninjas in Pyjamais), em um momento de alta brasileira no cenário competitivo do game - com a NiP campeã do último Invitational, e a oNe do Six Major México. A última vez que a Team Liquid ficou fora de um evento internacional foi justamente no Brasil, em 2019, na Pro League Rio.

Obviamente, parte das críticas da torcida recaíram sobre as saídas de Sexycake e de Muringa - que resultaram nas entradas de AsK e resetz nesta última Copa Elite Six, uma espécie de "Libertadores" do R6. Afinal, as torcidas de Esports têm maior dificuldade para entender o processo de renovação dos elencos? As movimentações acabam sendo menos naturais que no futebol, por exemplo, onde é mais difícil construir uma relação de idolatria.

Há diversos exemplos, em modalidades tradicionais, nos quais jogadores criaram uma relação tão forte com determinados clubes, que é praticamente impossível imaginá-los com outra camisa. Rogério Ceni no São Paulo Futebol Clube é um ótimo caso. Foram mais de duas décadas para construir essa imagem. Nos Esports, o tempo necessário para tal é muito menor - mas os rompimentos são tão intensos quanto. brTT e a paiN Gaming são um bom exemplo.

A paiN ganhou o CBLOL três vezes na história - em 2013, 2015 e 2021.- todas com o ídolo em seu elenco. E não foi uma passagem única. Nas quebras, ele venceu o torneio outras três vezes - por Keyd, RED Canids e Flamengo. Houve momentos de aproximação, de crítica, mas, assim como no caso da Liquid no Rainbow Six, foi difícil para a torcida entender a renovação. Há quem tenha seguido torcendo para a organização, há quem tenha acompanhado o jogador.

O esporte eletrônico carrega consigo diversas peculiaridades sobre comportamento do público, e cabe tanto às organizações quanto às publishers entender os padrões, de maneira a capitalizar da melhor forma e gerar uma relação que faça sentido. É um desafio enorme fazer com que os fãs entendam que elencos vão e vêm, mas que a marca permanece - e é forte o suficiente para se sustentar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL